Alisson Barreto

Racionalização espiritualista na política

Alisson Barreto 29 de julho de 2022
Racionalização espiritualista na política
Racionalização espiritualista na política - Foto: Alisson Barreto

Racionalização espiritualista na política


A racionalização é um mecanismo de defesa do cérebro no qual, em simplória suma, o indivíduo busca explicar racionalmente sentimentos ou emoções que não domina ou não entende. Mas já parou para observar que há casos em que se pode observar uma tentativa de explicar com suposta espiritualidade o que não se entende ou domina?


Em alguns casos, é verificável a ocorrência de uso do mecanismo da racionalização para, usando uma perspectiva espiritualista, defender uma linha política ou ideológica. E disso, consciente ou não, alguns políticos fazem uso para puxar a fila de seus seguidores.


Em outras palavras, é possível haver um envolvimento político ou ideológico em tal magnitude que os engajados em tal perspectiva usem pretextos ou empenhem-se em argumentos – inclusive os que saibam ou não, sejam inválidos, ou falaciosos, ou antiéticos – para defenderem seus pontos de vista e, por conseguinte, os políticos, religiosos ou influenciadores digitais dos quais sejam seguidores ou demonstrem simpatia.


Nesse sentido, por exemplo, em defesa de um governante ou ideologia abraçada por uma igreja, uma pessoa pode empenhar-se na tentativa de justificar as ações de um político e demonizar pessoas ou posicionamentos que não corroborem com o favorecimento do governante ou da ideologia abraçada por seus pares de “igreja”. Assim, o não apoio a um líder político pode ser interpretado como um ato de apoio ao comunismo ou fascismo, ou mesmo um agir ofensivo às pretensões de sua igreja, ou associação, ou entidade de que faça parte.


Quando a racionalização da defesa política ou ideológica assume uma perspectiva espiritualista, o indivíduo passa a ver na defesa do seu líder uma necessidade espiritual pela qual deve empenhar-se. Então, o anseio por ser bom e agir bem envereda por um agir em favor do líder político ou ideológico que segue e admira. E por outro lado, tudo o que não coopera com o apoio ao líder ou se lhe opõe passa a ser encarado como uma ação maligna a ser combatida, uma ameaça a ser extirpada, em um dever de agir combatente. Assim, ao assumir o viés espiritualista da racionalização, um cidadão comum passa a não ser apenas mais um, mas um indivíduo de significativa relevância na luta do “bem” contra o “mal”.


Nessa luta, nesse empenho, o cidadão passa a, como é comum nas paixões, ignorar fatos e sinais, trocar verdades por narrativas, em defesa de sua crença e de seu “herói” político. Eis, pois, como – sem se dar conta – um indivíduo pode cair nas armadilhas de um autocrata ou de um revolucionário ou pastor nos próprios anseios.


Sem perceber, um indivíduo pode trocar a ética, a verdade, a proporcionalidade e a razoabilidade por ânsias de racionalização capazes de colocar no poder e de perpetuar nele governantes, ideologias, totalitarismos e falsos pastores.


Já parou para fazer uma autoanálise com a coragem de poder identificar em si mesmo anseios passionais que podem levar a tais racionalizações? Quem sabe esse texto não possa ajudar alguém que esteja mergulhado na caverna desses impulsos emocionais.


Maceió, 29 de julho de 2022.


Alisson Francisco Rodrigues Barreto