Enio Lins

Crônica de um golpe alardeado

Enio Lins 29 de julho de 2022

Frente ao golpe anunciado – e aos berros – pelo indivíduo que ocupa a presidência da República e replicado por seus áulicos fardados e civis, surgem reações merecedoras de aplausos pela amplitude e por virem de setores até então distanciados de críticas aos desmandos dos atuais donos do desgoverno federal.
Dois manifestos estão sacudindo os andares de cima da pirâmide econômica e social brasileira e merecem atenção especial, pois são fatos novos que fortalecem a luta contra o golpismo, a vigarice e a onda de violências que assolam o País. Esses posicionamentos – exógenos à oposição original ao ex-capitão que se jacta de ser o “comandante supremo das forças armadas” – provam que nem tudo está perdido ou corrompido.
Com origem
no antológico Largo de São Francisco, ícone do ensino jurídico no Brasil e sede da Faculdade de Direito da USP, o primeiro desses manifestos, formulado por ex-alunos e ex-alunas da instituição, centra seu texto, duro, no histórico de lutas pela Democracia e replica a “Carta aos brasileiros”, escrita por Goffredo da Silva Telles Júnior (1915/2009) e lançada em 8 de agosto de 1977, denunciando o regime autoritário então em vigor. A nova versão já passou das 160 mil assinaturas em menos de dois dias.
O segundo manifesto
vem da cúpula econômica nacional e tem como ponto de partida a FIESP, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, ganhando a adesão da não menos poderosa FEBRABAN, Federação Brasileira de Bancos, que anunciou publicamente seu engajamento na defesa do sistema democrático. Atitudes particularmente notáveis pelo fato desses segmentos produtivos e financeiros serem obviamente conservadores, bem mais afeitos à destra e apoiaram a arrancada do famigerado mito.
A tremenda crise
econômica, social e moral na qual o Brasil foi enfiado não pode ser enfrentada sem uma ação política muito ampla, que contenha diversas frentes dentro de um movimento único destinado a, em primeiro lugar, dar um basta vigoroso às pretensões golpistas, milicianas e negacionistas. Derrotar a degenerescência mitológica que ocupa o poder não é atribuição específica da esquerda ou da centro-esquerda.
Nesses trágicos
últimos tempos, esses dois manifestos, ambos com leitura pública marcada para o dia 11 de agosto no histórico Largo de São Francisco, são gestos de enorme importância. Fazem parte expressiva do reencontro da Nação com a coragem cidadã, expressão mais ampla da resistência democrática.

NOTAS

# Mônica Carvalho não será candidata a governadora. Pena. Ela seria protagonista na situação comentada aqui ontem: um nome capaz de jogar papel diferenciado na disputa, embora sem chance de vitória.

# Os candidatos ligados ao inominável não teriam trégua com uma militante como Mônica no ringue. Mas o Solidariedade considerou mais importante somar logo no primeiro turno com Paulo Dantas. Sei não, acho prejuízo...

# Quem ganha mais com a retirada de cena de uma ativista atinada, loquaz, politizada, antibolsonarista, disposta a causar como candidata a governadora? Ganham mais as candidaturas ligadas ao ex-capitão!

# Mas é melhor não jair comemorando, pois segue na agulha a candidatura do professor Cícero Albuquerque, pelo PSOL, que promete esquentar os bolsonaristas na disputa pelo Palácio República dos Palmares.

# Cícero Albuquerque receberá o apoio da Unidade Popular, sigla canhota que fará sua convenção no domingo, dia 31, e de lá sairão as candidaturas de Lenilda Luna (federal), Deraldo Francisco e Vânia Coopvila (estaduais).

# Hoje é dia de protesto importante em Maceió, denunciando as violências contra as mulheres e, especialmente, contra o feminicídio.

O ato público pelo fim da violência contra as mulheres será na Praça Deodoro, começando às 15 horas desta sexta-feira.


HOJE NA HISTÓRIA



29 DE JULHO DE 1925 – Surge o diário O Globo, criado por Irineu Marinho (1876/1925), jornalista e empresário de Comunicação. O nome do novo jornal foi escolhido através de uma consulta popular. Antes, em 1911, Irineu havia participado da fundação de outro jornal, A Noite, vespertino dedicado às causas nacionalistas, mas ele terminou sendo isolado pelos grupos econômicos estrangeiros aos quais fazia oposição, e perdeu o controle acionário em 1924. Decidiu sair da sociedade e investir em um novo e ousado projeto, cuidando de garantir o controle da nova empresa. Assim foi feito, mas mal viu sua ideia se tornar realidade e, apenas 21 dias após lançar O Globo, morreu por colapso cardíaco. Seu filho mais velho, Roberto, escalado para o substituir, declina da missão naquele momento, por se considerar inexperiente, nomeando um profissional, Euricles de Matos, para o posto. Seis anos depois, com a morte de Euricles em 1931, Roberto Marinho assume O Globo, turbina o matutino e o transforma na base para a poderosa Rede Globo.