Enio Lins

Idi Amin verde-amarelo

Enio Lins 21 de julho de 2022

O Mito é um mico também na diplomacia. A esdruxula reunião realizada segunda-feira, como não poderia deixar de ser, findou com um fracasso ridículo. Presepada que começou com o inusitado chamamento, pela presidência da República, de todo o corpo diplomático estrangeiro para uma reunião. O mico foi ampliado pela pauta ser uma denúncia presidencial sobre o sistema que elegeu o próprio denunciante!

Cena constrangedora
estendida durante 46 minutos de uma peroração vergonhosa, acintosa por escandalosamente falsa em seus dados e abertamente golpista em sua motivação. Um patético Jair reconheceu, na prática, que perderá nas urnas e, por isso, antecipava ao mundo que – desta vez, na derrota – não aceitaria o resultado do sistema eletrônico responsável por suas vitórias desde 1996, inclusive para o atual mandato.

Mentiras deslavadas
foram apresentadas com a habitual desfaçatez que o meliante Jair destila para seu gado no cercadinho do Planalto. No dia 18, entretanto, foram expostas aleivosias para um seleto grupo de especialistas em coletar e analisar informações sobre o País no qual exercem sua atividade diplomática. Cada pessoa ali presente chegou ao Palácio da Alvorada sabendo detalhadamente tudo o que diz respeito ao processo eleitoral brasileiro e à segurança das urnas eletrônicas usadas há 26 anos e sem nenhuma evidência, ou denúncia séria, de fraude ou vulnerabilidade. Cada diplomata ouviu, pacientemente, caraminholas e calúnias requentadas, mal alinhavadas em 20 pontos. Duas dezenas de patranhas que nem precisariam ser desmentidas oficialmente, como foram, em seguida, item por item, através de posicionamento do presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

Lembram-se do Idi Amin Dada? Ditador militar de Uganda entre 1971 e 1979, morto em 2003, célebre bufão, golpista e genocida, mas muito habilidoso em jogar com as contradições internacionais. O déspota africano cambiava alianças entre as potências e dizia estultices sem medo do ridículo; chegou a se declarar vitorioso numa guerra que não travou contra a Inglaterra e teria se autocoroado Rei da Escócia! A diplomacia que vive no Brasil, certamente, saiu do circense evento convencida que estivera diante de um novo Idi Amin Dada, redivivo com menos melanina, menos gordura e menos inteligência.


NOTAS


**
  A presença de três generais/ministros na pantomina presidencial leva para a conta das forças armadas mais uma humilhação.

** 
Compareceram os generais Paulo Sérgio Oliveira (Defesa), Augusto Heleno (Segurança Institucional) e Walter Braga Netto (ex-ministro da Defesa).

**
  De pijama ou não, o generalato perfilado ao lado do falso messias teve o objetivo de sinalizar apoio militar ao Idi Amin de Brasília.

**  
O Ministro Fachin, presidente do TSE, corretamente, não esperou a poeira baixar e contra-atacou denunciando o caráter golpista do evento. Mas poderia ter sido mais duro na resposta...

**
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, reagiu à fala do Jair e declarou que os resultados das urnas continuam confiáveis e serão respeitados.

**
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, não deu um pio sobre a vergonha internacional provocada pelo meliante da faixa.

** 
Renan Calheiros, senador, ouviu o silêncio do presidente da Câmara e, incontinenti, alfinetou nas redes sociais.

**
A posse do Desembargador Fábio Ferrario está confirmada para 16 horas do dia 25 de julho, em solenidade no Plenário do Tribunal de Justiça.

** Ao encabeçar a lista através do voto direto da categoria, o advogado Fábio Ferrario confirmou liderança entre os pares, e ao nomeá-lo sem delongas, o governador Paulo Dantas reafirmou seu compromisso democrático.

HOJE NA HISTÓRIA 

Momento do “Julgamento do Macaco” em sessão realizada ao ar livre. No detalhe, o professor julgado, John Scopes (Fotos Wikipédia)


21 DE JULHO DE 1925 - Na cidade de Dayton, Tennessee, Estados Unidos, é encerrado o "Julgamento do macaco”, condenando o professor John Scopes por contrariar lei estadual que proibia o ensino de teorias científicas contrárias à versão bíblica da "criação do homem por Deus". O julgamento foi o primeiro a ser transmitido por rádio. O Juiz John Raulston, após sete dias de debates acalorados, estipulou como pena uma multa de US $100, depois anulada pela Suprema Corte estadual. O caso Estado do Tennessee versus John Scopes, expôs ao mundo a torpeza de uma legislação baseada no fundamentalismo religioso – algo tão nocivo como o tal movimento "Escola sem partido". A pressão obscurantista continua até hoje, mesmo depois da Suprema Corte dos Estados Unidos ter, em 1987, se oposto ao uso da Bíblia como base didática. Em 2005, pleno Século XXI, o Estado do Kansas, aproveitando uma brecha na legislação, recolocou o criacionismo no currículo de suas escolas públicas.E a luta continua!