Este artigo publiquei anos atrás, mas pela sua importância o republico, sempre... Depois de uma noite insone, compartilhada por cerca de vinte companheiros, na realização de um transplante cardíaco, sento e tento escrever esta coluna. Penso em tanta coisa mas o cansaço me impede de escolher um tema para nossa conversa. A semana foi dura em termos de trabalho. Muitos casos de pacientes graves e complicados que exigiram de todos nós uma carga horária média de 12 horas. Alguns destes pacientes eram considerados de alto risco. Risco de não saírem vivos da sala de cirurgia. Todos sobreviveram. Menos um. O que era considerado de baixo risco. Passamos um dia inteiro, literalmente, na sala de cirurgia; precisamente das 7h30 da manhã às 21 horas. Foi um dia pesado e pesaroso para toda a equipe que só foi “recompensado” com o trabalho e o resultado do dia seguinte e finalmente com a noite insone e a nova chance de vida dada a uma paciente que estava por um triz. A mesma chance que não foi dada ao caso da véspera. O sentimento de perda é muito forte. A perda da vida é pior para os que ficam, do que para quem vai. Para nós, médicos, é um momento de supremo sofrimento e abandono. É a vida e a morte habitando o mesmo espaço. No transplante, também havia a mistura da morte com a vida. Ao lado da alegria da senhora que ganhou um coração novo e a chance de uma nova vida, havia a dor e o luto da família do jovem doador. Coisas da vida, coisas que só Deus pode decifrar.
Para não dizer que só falei de luto, mando novamente um texto que me socorreu nesta semana cheia de vida e também de morte, do autor Paulo Roberto Gaefke. A Grandeza do Mar : “ Você sabe porque o mar é tão grande? Tão imenso? Tão poderoso? É porque teve a humildade de colocar-se alguns centímetros abaixo de todos os rios. Sabendo receber, tornou-se grande. Se quisesse ser o primeiro, centímetros acima de todos os rios, não seria mar, seria uma ilha. Toda sua água iria para os outros e estaria isolado. A perda faz parte. A queda faz parte. A morte faz parte. É impossível vivermos satisfatoriamente. Precisamos aprender a perder, a cair, a errar e a morrer.
Impossível ganhar sem saber perder. Impossível andar sem saber cair. Impossível acertar sem saber errar. Impossível viver sem saber viver.
Se aprenderes a perder, a cair, a errar, ninguém mais o controlará. Porque o máximo que poderá acontecer a você é cair, errar e perder. E isto, você já sabe. Bem aventurado aquele que já consegue receber com a mesma naturalidade, o ganho e a perda, o acerto e o erro, o triunfo e a queda, a vida e a morte."
Receba meu abraço cordial e lembre-se sempre de que o sucesso é ser feliz, o resto é conseqüência.
Dr. Wanderley Neto
Sobre
Um blog de um alagoano que tem muita história de vida e tantas estórias pra contar. Um espaço dedicado à cidadania, à saúde, às políticas públicas e ao sentimento de ver e viver Alagoas.
Sou José Wanderley Neto. Nasci em Cacimbinhas, Alagoas, Brasil. Sou Cardiologista e Cirurgião Cardiovascular. Em Maceió e no Nordeste, implantei a cirurgia cardíaca no ano de 1978 e realizei o 1º transplante de coração há mais 30 anos. No linear da vida profissional, eu e minha equipe já realizamos mais de 22 mil cirurgias e 50 transplantes. E, com 50 anos de medicina, continuo minha missão de cuidar de pessoas e defender a vida.
