Findamos o ano. É natal. O que tinha que ser feito em 2021 já foi feito. Cada um que faça seu balanço e contabilize as perdas e ganhos. Não há mais tempo para se fazer nada. Em termos, se pensarmos em realizações materiais. Se ampliarmos nossa percepção, sempre há o que fazer. Uma boa dica é dedicar o que resta de 2021 a você mesmo, até a passagem formal do ano.
Às vezes andamos tão ocupados com o trabalho que esquecemos que existimos. Quando me refiro a você, amplio este horizonte para sua família e seus amigos. Na verdade, deveríamos decretar a presença do espírito natalino também fora de época, várias vezes ao ano. Se você acha que não precisa e não sente falta da convivência e do calor humano, de momentos revigorantes e verdadeiros, lembre-se que seus amigos e familiares podem sentir profundamente sua ausência. É bom sempre lembrar que você não está só no mundo.
Nunca fui muito chegado a festa de Natal. Tenho cá minhas razões. Nasci em Cacimbinhas, na zona rural de um sertão inóspito e seco durante o período natalino, que é início de verão. O contra-ponto era o São João que sempre tinha chuva, que combinava com lavoura, mesa farta para todos, festa, música e alegria. Dezembro é sempre marcado pela seca, falta de água, alimento escasso para o homem e para os animais. Isto torna também o homem seco e triste. Não é por acaso o apego e a força do santo que empresta o nome á festa, São João, junto aos nordestinos sertanejos.
Fui em frente. Nem entrei na adolescência e lá estava eu em outras plagas em busca do saber. Cacimbinhas, à época, só nos provia com a alfabetização. Tínhamos que ir à procura do ensino médio e depois da universidade. Mal acabei o ensino superior e me vejo em pleno Rio de Janeiro por vários natais. Não tinha a seca e a falta de água, mas me faltava o calor humano. É que, para variar, a maioria dos meus amigos estavam distantes dali. Era uma solidão de amargar. Como diz um amigo meu: "pior do que cachorro de fazenda". Portanto, o Natal no inicio da minha vida era sinônimo de isolamento, reclusão e dureza.
Ainda hoje carrego um pouco desta herança e mesmo tendo a companhia dos amigos e da família, ainda é para mim, além celebração cristã, um momento de reflexão. Reflexão dos meus atos no ano findo e sobretudo o que posso fazer melhor no ano que vem. Aconselho a todos, aos que ficam mais felizes e aos que absorvem tanta felicidade, tentarem incorporar o espírito de solidariedade que a data evoca a qualquer tempo durante o ano.
Afinal, temos que pensar é no futuro, pois é lá que todos vamos viver. Comece então a se perguntar o que vai fazer até o próximo Natal.
Por você e pelo próximo. Feliz Natal, de coração.
Dr. Wanderley Neto
Sobre
Um blog de um alagoano que tem muita história de vida e tantas estórias pra contar. Um espaço dedicado à cidadania, à saúde, às políticas públicas e ao sentimento de ver e viver Alagoas.
Sou José Wanderley Neto. Nasci em Cacimbinhas, Alagoas, Brasil. Sou Cardiologista e Cirurgião Cardiovascular. Em Maceió e no Nordeste, implantei a cirurgia cardíaca no ano de 1978 e realizei o 1º transplante de coração há mais 30 anos. No linear da vida profissional, eu e minha equipe já realizamos mais de 22 mil cirurgias e 50 transplantes. E, com 50 anos de medicina, continuo minha missão de cuidar de pessoas e defender a vida.