Dr. Wanderley Neto

POLÍTICA, CIÊNCIA E HUMILDADE

Dr. Wanderley Neto 18 de novembro de 2021
Duas coisas no mundo são ilimitadas: o conhecimento científico e a estupidez humana. A frase é do cientista e filosofo Albert Einstein. O significado da afirmação é de livre interpretação e se encaixa em muitas situações do nosso dia a dia. De minha parte concordo na íntegra com a sentença.  A primeira associação que me ocorre, como médico que lida com a ciência, é o compromisso com a humildade. Quanto mais adquirimos conhecimento, mais descobrimos a nossa ignorância. Para se ter uma ideia do lastimável nível de conhecimento, não sabemos sequer a origem das doenças mais frequentes, a saber: artrite, doença cardiovascular e câncer.  Por isto devemos, na nossa lida diária, procurar empregar o conhecimento cientifico ciente das nossas limitações e de que, na medicina, lidamos com gente que tem corpo, mas também tem alma, E não basta cuidar de só um deles, pois são inseparáveis. Aliás este é um erro comum na prática da medicina. Nos Estados Unidos, boa parte das universidades já estão incorporando, em seus currículos, temas ligados à espiritualidade. A sociedade brasileira de cardiologia acabou de editar uma diretriz orientando a indispensável abordagem do tema na prática diária.   É por isto que se afirma que a medicina é ciência e arte. A arte é saber adequar e aplicar o conhecimento científico em benefício do homem. A segunda associação, como ator político, remete-me também ao exercício da humildade. A política e a atividade médica fundamentalmente lidam com gente. Decisões que são tomadas erradas ou deixam de ser tomadas implicam em mudanças na vida das pessoas com consequências, muitas vezes, irreparáveis.  O poder que é dado ao cientista vem do conhecimento que ele adquire e da capacidade de resolver problemas das pessoas. Ele advém de anos de estudos e pesquisas. O poder que é dado ao político vem da capacidade de convencer as pessoas que pode resolver seus problemas. No médico, a ação pode ser individual, como a cura de um mal, ou coletiva, como a prevenção de doenças com vacinas, por exemplo. Na política, também se pode resolver problemas individuais e coletivos. Nos dois casos, a escolha pelo coletivo é a mais abrangente e meritória. Saber exercer este poder, que é concedido pelo povo, é um exercício diário de administração de conflitos, de resolver o presente sem olhar o futuro e sobretudo de humildade. Na realidade, esta coisa chamada poder não existe. É mais uma percepção das pessoas do que a realidade, por isso devemos todos os dias ter a humildade como companheira a nos orientar, cientes que, ao contrário da ciência, este “poder” é finito e breve. Por falar nisso, o saudoso Sandoval Cajú dizia: “nesse mundo todos são passageiros, inclusive o motorista e o cobrador”.