Minha vida tem sido dedicada inteiramente á saúde. Qualquer outra atividade tem sido incidental e acessória. Contabilizo, desde minha entrada na faculdade de medicina aos 17 anos, mais de 50 anos de atividade na saúde. Nem todos os momentos foram gratificantes. Como tudo na vida, tem o alto e o baixo. Não em realização pessoal, mas em termos de benefício social que é o grande objetivo da medicina e da ciência em geral. É que a nossa atividade depende de meios e estes meios nem sempre são disponibilizados aos médicos e demais profissionais de saúde. No sistema público e também no privado. Entre desânimo e euforia na busca de objetivos pode me ter faltado competência ou qualquer outra falta a ser reparada, mas só um item nunca me faltou: dedicação total e absoluta.
Aprendi desde cedo que devemos fazer as coisas com paixão. Até hoje não sei fazer nada que não seja com dedicação extremada. O aprendizado advindo da persistência acaba sendo transmitido aos que nos cercam e, através da dedicação alheia, nos retroalimentamos, nos renovamos e partimos para novos desafios.
A grande poetisa Cecilia Meireles diz, em um de seus memoráveis poemas, que “a vida só é possível reinventada”. Faz todo sentido. Tudo que pudermos fazer será pouco ante os desafios sanitários que estão por vir. O exemplo é a pandemia que estamos vivendo, desafiando governos do mundo inteiro, demandando recursos financeiros incalculáveis e a inteligência científica mundial. É verdade também que lutamos contra a ignorância e o negacionismo que ajudam muito ao vírus, mas haverão de ser vencidos por que a verdade acaba se impondo.
Superada a pandemia, continuamos a conviver com incontáveis problemas de saúde pública que desafiam os sistemas de saúde no mundo inteiro. As pessoas estão cada vez vivendo mais, e isso é muito bem-vindo, mas com isso surgiram novas epidemias que são as doenças crônico- degenerativas, representadas por dois grupos preponderantes: as doenças cardiovasculares e as doenças neoplásicas. São as duas maiores causas de mortes, de eventos incapacitantes e uso de recursos médicos e hospitalares. Além disso, a colossal incorporação de tecnologia nos últimos 30 anos acrescentou custos aos sistemas de saúde que, na maioria dos países, não conseguem se prover com recursos públicos ou privados.
A tarefa de equacionar um problema tão complexo não pode ser confinada ao setor de saúde. A incorporação de tecnologia, sem uma análise critica do custo-efetividade, pode acabar atendendo somente ao interesse da poderosa indústria biomédica. Temos que envolver no processo outros setores do conhecimento, e a própria população representada pelas suas diversas formas de organizações, como os conselhos de saúde.
Temos que estabelecer formas eficazes de comunicação que possam despertar o interesse do cidadão comum por este tema tão vital. Afinal, estas enfermidades se tornaram doenças de massa que devem ser tratadas como problemas de saúde pública. Como tal, a prevenção e promoção de saúde são cruciais para minimizar seu impacto e ajustar fundos para o tratamento ambulatorial e hospitalar. É uma tarefa prazerosa e que pode ajudar muitos a não adoecerem. As crônico-degenerativas são doenças de massa e só se pode intervir de modo consistente por meio de uma comunicação de utilidade pública que conscientize e ensine as pessoas a se protegerem.
Gostaria de convidar todos a me acompanharem nos meios de comunicação e nas redes sociais. Participem, opinem e mandem sugestões de pauta. Vamos seguir nossa saga em defesa da vida.
Dr. Wanderley Neto
Sobre
Um blog de um alagoano que tem muita história de vida e tantas estórias pra contar. Um espaço dedicado à cidadania, à saúde, às políticas públicas e ao sentimento de ver e viver Alagoas.
Sou José Wanderley Neto. Nasci em Cacimbinhas, Alagoas, Brasil. Sou Cardiologista e Cirurgião Cardiovascular. Em Maceió e no Nordeste, implantei a cirurgia cardíaca no ano de 1978 e realizei o 1º transplante de coração há mais 30 anos. No linear da vida profissional, eu e minha equipe já realizamos mais de 22 mil cirurgias e 50 transplantes. E, com 50 anos de medicina, continuo minha missão de cuidar de pessoas e defender a vida.