Gerônimo Vicente

O início da imprensa feminina em Alagoas e papel no surgimento do movimento feminista no país.

Gerônimo Vicente 07 de março de 2021
O início da imprensa feminina em Alagoas e papel no surgimento do movimento feminista no país.
Reprodução - Foto: Assessoria
O pequeno estado de Alagoas tem em sua história uma projeção na vida nacional e colonial do Brasil que há tempo merece um estudo mais aprofundado por historiadores e pesquisadores para, quem sabe, ganhar projeção no circuito cultural da humanidade. O pouco que se sabe, a partir de 22 de abril de 1500 é que o descobrimento do Brasil se deu em território alagoano e no município de Coruripe, fato ainda  com versão bastante tímida. Anos depois surgiu o Quilombo dos Palmares, esse registrado na história, porém com controvérsias nos livros didáticos. Uma das primeiras revoluções sociais para a liberdade do país teve como palco a cidade de Porto Calvo e Domingos Calabar ,o homem resistente, até hoje não se sabe se é herói ou vilão. Andando ainda mais para frente, há o caso da separação de Alagoas de Pernambuco, movimento que completou neste sábado (6)  204 anos, o mesmo tempo de nosso estado. Foi  um  movimento liberal, conhecido como a Revolução dos Padres no estado vizinho que tinha como foco a independência da província pernambucana e contra o Império de D. João VI e a dominação portuguesa. O lado alagoano se manteve fiel ao imperador e ainda contribuiu para dizimar os opositores. Surgiu uma  a província  alagoana como  um grande presente do Regente. Na República se formou uma sequência de  militares alagoanos contra a monarquia que deu origem a três presidentes alagoanos (Deodoro, Floriano e Hermes), porém são poucos os alagoanos que sabem como esses irmãos, no caso Deodoro e Hermes, foram tão longe.  Todo esse preâmbulo teve o objetivo de incluir mais uma contribuição alagoana para mudança no quadro político-social co país que foi o movimento feminista no país e, mais precisamente o surgimento da imprensa feminista em Alagoas. O jornal “A Palavra”, dedicado à  instrução e o recreio da mulher  e que circulou em Pão de Açúcar, no sertão alagoano entre 1889 a 1898, parece ter sido o primeiro período destinado ao  público feminino no estado de Alagoas. Encontramos algumas edições dele em pesquisa realizada em arquivos online e, para conhecer Acesse:  O Alvorada e a Flor são registrados como os dois primeiros boletins  jornalísticos  do século 20 dedicados à mulher em Alagoas. Ambos  surgiram no município de Penedo em 1909 e 1910 no esteio de um movimento que começou no Rio de Janeiro com o Jornal das Senhoras. Fundado pela feminista argentina Juana Manso, O Jornal das Senhoras tinha como objetivo tratar de temas como belas-artes, literatura, moda, além de tentar despertar a consciência feminina para que estas reivindicassem melhores condições educacionais e acesso ao mercado de trabalho.   O periódico carioca  foi  um passo para o surgimento de  outros pelo país e, principalmente no Sul, como o Sexo Feminino e   Recife. Com a imprensa feminina tão perto de Alagoas, esse  episódio se tornou um pulo para que a imprensa fosse  explorada pelo sexo feminino. Um desses  jornais criado no Rio de Janeiro chamava-se Bello Sexo  e foi com  este slogan que surgiu o A Flor  (clique) no município de  Penedo  que  se apresentava como dedicado ao Bello Sexo. O jornal surgiu em 11 de agosto de 1909,  período  em que Alagoas já possuía centenas de jornais, mas todos controlados por homens e com pouca participação da mulher como escritora. A Flor  ainda tinha na direção o sexo masculino, mas  informou na primeira página que  seu programa “era pugnar pelo adiantamento (avanço) de nossas gentis  patrícias a quem o  oferecemos. Cumprimentando nossos valorosos colegas de imprensa à espera de um carinhoso acolhimento”.  Alice Brandão, Marta Diniz, Palmira Silva foram as primeiras mulheres a escrever sobre o papel feminino na sociedade no jornal penedense. Entre os homens que reforçaram  estavam Adalberto Cavalcante e Affonso Lira. O Alvorada  (clique) surgiu em 15 de agosto de 1910 e teve como diretor Aguiar Brandão. O informativo denuncia na primeira página que havia  naquela ocasião, um grande abismo de preconceitos contra a mulher e apontou como causa o  receio dos homens pela concorrência feminina. Esses períodicos se transformaram em um passo para a conquista feminina no Estado e uma grande contribuição para o movimento feminista no Brasil cuja reivindicação principal era o direito de a mulher  votar e ser votada. Essa história contei no dia 29 de novembro do ano passado, dia de eleição em seu segundo turno para escolha de prefeitos e de vereadores. Mostrei  a  foto de Esther Caldas tirada pelo fotógrafo alagoano Theotônio Barbosa e nela, a mulher é citada como sendo  a primeira alagoana a votar. Citei também Emília Freitas Motta, como uma das primeiras eleitoras de Maceió e Lily Lages, a primeira parlamentar do Estado. O título foi: A PARTICIPAÇÃO ALAGOANA NO DIREITO AO VOTO FEMININO (clique para acessar).