Gerônimo Vicente

Brasil aplica neoliberalismo “demodê” e já descartado no ocidente

Gerônimo Vicente 21 de fevereiro de 2021
Brasil aplica neoliberalismo “demodê” e já descartado no ocidente
Reprodução - Foto: Assessoria
Será que o trabalhador formal ou informal  que  está pagando mais de R$ 5 por um litro de gasolina ou quase R$ 4 por um litro de óleo diesel consegue entender como funciona a política de preços estabelecida pela Petrobras e que, na semana passada provocou crise entre  os defensores do neoliberalismo e o governo extremista de direita de Jair Bolsonaro? Se tentar entender, certamente não vai  conseguir absorver mais do que dez segundos de uma explicação sem fim. Os controladores deste tipo  do  subsistema do capitalismo, representados pelos segmentos econômicos mais abastados, como os maiores bancos, a grande mídia, enfim os detentores do capital internacional, evidentemente não têm interesse que o cidadão comum entenda como funciona esse arquétipo  histórico de exploração humana. A realidade mostra que, mais uma vez,  que o Brasil está atrasado em relação ao mundo ao “pioneirizar”, aquilo que o mundo ocidental começou a descartar desde a crise socioeconômica de 2008.  O neoliberalismo  mostrou sua cara no Brasil no início da década de 1990, no governo Collor. Havia uma necessidade de os produtos estrangeiros entrarem no país por conta da competitividade entre as grandes potências e estimulada pelas novidades da tecnologia da informação. A denominação de “carroças” aos carros brasileiros dada pelo presidente da República foi a porta de entrada para que as principais montadoras mundiais se estabelecessem no Brasil, dando ao país uma capacidade instalada para produzir mais de 5 milhões de unidades.  No governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), esse modelo econômico foi ampliado com a privatização de estatais, consideradas improdutivas para o Estado como, por exemplo, a Vale do Rio Doce e as empresas de telecomunicações. Na visão dos especialistas tucanos, quanto menor o tamanho do Estado, maior o da arrecadação, fator  que proporcionou, a partir daí, a drástica redução de políticas públicas em áreas como educação, saúde, habitação e educação. Anos antes, o neoliberalismo já começava a dar sinais de abalo desde que a “dama de ferro”, a primeira-ministra Margareth Thatcher conseguiu “entortar” a economia britânica, provocando alta no desemprego e recessão profunda em todo o Reino Unido.  Porém na América Latina, então livre dos governos militares, aquela era hora de os Estados Unidos entrarem  com “a sola da botina” nos países do lado sul, aplicando-lhes uma forçada dolarização em todos os seus extremos e que, por aqui, resultou no Plano Real. Assim os brasileiros começaram, desde 1994, a pagar cada centavos da contribuição norte-americana em nos proporcionar igualdade ao resto do mundo quando se falava de uma aparente modernidade. Os governos Lula e Dilma também seguiram a cartilha do neoliberalismo, contudo com a diferença de que as políticas  sociais foram implementadas e incentivaram a redução da pobreza e o consumo e como bons exemplos hoje estão a agricultura familiar, a formação profissional do cidadão e a rediscussão do sistema público de saúde (SUS) esse mesmo que hoje salva milhões de vidas em meio a uma pandemia. O que o presidente Jair Bolsonaro tenta processar, atualmente na Petrobras, ao interferir  na política de preços e no modelo gerencial, foi rejeitado por esse mesmo mercado e pelo próprio presidente  durante o governo Dilma Rousseff no período de congelamento de preços dos combustíveis. Naquela época, do nada, surgiram agências de risco, economistas e comentaristas de plantão, artigos prontos para o ataque em revistas internacionais. Enfim, a arrumação para o desmonte da estatal estava preparada. Depois do impeachment, coube ao tucano Pedro Parente mudar toda a política de preços. A cotação do barril de petróleo no Brasil passava a ser equiparada ao preço no mercado internacional, ou seja em dólar, uma moeda que, em 2016, já era três vezes mais alta do que o real. Com isso seria possível atrair investimentos estrangeiros para a empresa, afinal de contas o lucro seria estratosférico para essas multinacionais. O resultado é o que nós assistimos na última semana. O brasileiro não sabe onde arrumar dinheiro para pagar sua mobilidade para o trabalho e o governo não sabe como evitar a impopularidade diante do novo cenário, até porque as regras estabelecidas na estatal são “imexíveis” como dizia o ex-ministro do Trabalho do governo Collor, Rogério Magri. Na Europa, a palavra “neoliberalismo” soa, no momento, como assombração para aposentados e os milhões de desempregados no continente. E foi nessa onda, que o extremismo de direita se ampliou, principalmente nos países do Leste-Europeu. Na França, por exemplo quem dá as cartas é a filha do ex-presidente José Maria Le Pen, Marine Le Pen, extremista que liderou as manifestações dos coletes amarelos (gillette-jeunes) e que fez com que o presidente Macron revisasse toda a política de estado mínimo, valorizando os profissionais da saúde, estimulando empregos, reduzindo impostos e investindo mais na saúde dos franceses, principalmente. Na Itália, esses radicais já provocaram duas crises e a última detonou do cargo o primeiro-ministro Giuseppe Conte, substituído na semana passada  por Mário Draghi em um governo de coalizão. Matteo Salvini, ex-ministro do  Interior, é o influenciador  nas confusões governamentais e crítico dos liberais. O Reino Unido já vai com o seu terceiro primeiro-ministro, em menos de uma década (Tony Blair, Theresa May e agora Boris Johnson) e a crise pode se agravar com a saída do país da  União Europeia. Como me referi em um dos meus textos, “o neoliberalismo hoje está ensanduichado entre os extremos (direita e esquerda) e aqui no Brasil, o exemplo disso são as cotações de que Bolsonaro e Lula ou Haddad, disputarão o mandato presidencial de 2022, no segundo turno, enquanto a direita neoliberal fica atordoada. Do lado norte-americano, não precisamos nem falar do que foi Donald Trump, todavia sabe-se que o sucessor Joe Biden parece ter iniciado o governo ignorando algumas pautas neoliberais, nem que isso seja apenas por aparência. Já há indícios de negociações com a Venezuela, da revisão de medidas sobre imigração, a volta à OMS e a plena defesa do clima no planeta. Afinal de contas, eles são imperialistas e conseguem resolver suas crises, explorando  seus “colonos” e as  ampliando para seus quintais e como exemplo  local está a a crise na Petrobras. Atrasado e sem rumo, o Brasil, de forma atabalhoada, tenta imprimir à sua população um “neoliberalismo demodê”.