Gerônimo Vicente

Desafios à Covid-19 podem aglomerar ainda mais o “Bloco Lotação Hospitalar”

Gerônimo Vicente 14 de fevereiro de 2021
Desafios à Covid-19 podem aglomerar ainda mais o “Bloco Lotação Hospitalar”
Reprodução - Foto: Assessoria
 Na história do carnaval brasileiro essa é a terceira vez que a festa momesca é adiada, porém há meio termo nessas decisões, porque quando se refere ao adiamento da festa, os olhos da população, sob orientação da mídia, lançam-se para os chamados QGs do frevo e do samba, aqueles com tradição carnavalesca e habituados a aglomerar multidões, tais como as cidades históricas e os sambódromos. É evidente que Olinda, hoje, nem se parece a mesma neste período, bem como o Farol da Barra, em Salvador, ou a praça Marquês da Sapucaí, no Rio. No entanto, as praias estão lotadas, as casas de veraneios e cidades litorâneas se transformaram nesses dois primeiros dias (sábado e domingo) em palcos de festas particulares e públicas e, consequentemente, com gente aglomerada e sem máscara.  Em 12 de setembro do ano passado, publiquei neste espaço um texto intitulado ESPERO QUE NÃO! MAS, O CARNAVAL DE 2021 PODE TER COMEMORAÇÃO DUPLICADA.(clique link) E pelo andar da carruagem é o que pode ocorrer daqui para o final do ano, porque muitos municípios resolveram adiar para o fim do primeiro ou início do segundo semestre de 2021. Em 1918, o carnaval foi adiado no país e, principalmente no Rio de Janeiro, devido à gripe espanhola, de 1918, que somente na capital do país tirou a vida de mais de 120 mil pessoas .Naquela ocasião,  a doença estava tão presente  entre a população como está a Covid-19 neste momento e chegou a provocar a morte do presidente da República, Rodrigues Alves, que sequer assumiu o cargo. Dizem até que o vice Delfim Moreira foi comemorar no meio da festa popular. Mas esse fato e a epidemia não foram suficientes para evitar que a população fosse às ruas e formasse blocos como “O Cordão do Bola Preta” (um deboche a um dos sintomas da gripe espanhola que deixava manchas arredondadas escuras na pele) e “O Bloco do Eu Sozinho” que começou com um folião que não queria se aglomerar. Essas agremiações existem até hoje, mas neste ano estão fora do circuito do carnaval em respeito às recomendações das autoridades sanitárias. Alguns anos antes, em 1892, o ministro do Interior à época decidiu mudar a festa de fevereiro para 26 de junho devido à quantidade de lixo na cidade gerado pelo evento e que, por consequência, provocava a disseminação do cólera, a doença mortal do período. Não teve jeito. O Entrudo, uma espécie de bloco que  tinha como principal característica o chamado “mela-mela”  foi às ruas e seus foliões aumentaram ainda mais a sujeira  da capital federal com uma combinação química de  farinha, água e limões e até dejetos humanos. Isso duas vezes naquele ano: em fevereiro e no fim do primeiro semestre. Houve ainda uma tentativa de adiamento em 1912 por causa da morte do Barão de Rio Branco e a sugestão  foi mudar a data para a Páscoa, em abril. Também não houve adesão dos foliões que ainda zombaram da proposta com marcha carnavalesca: O povo brincou os dois carnavais, cantando a seguinte marchinha: “Com a morte do Barão/ tivemos dois carnavá/ Ai que bom, ai que gostoso/ Se morresse o Marechá”. O ‘Marechá’,  citado, era o presidente,o alagoano, marechal Hermes da Fonseca, irmão de Marechal Deodoro da Fonseca. Desde a semana passada, especialistas em infectologia vêm alertando sobre a explosão de casos que podem surgir, após esse novo período festivo no Brasil, gerando uma terceira onda de infecções, quando estamos em plena calamidade pública nesta segunda onda. Mas, assim como no passado, os brasileiros gostam de desafiar a vida, embora quase 250 mil  já tenham deixado esse mundo. Na sexta-feira, uma  atitude pra lá de audaciosa foi vista no Rio de Janeiro, quando a quadra de uma escola pública foi tomada por um show do cantor Belo, assistido por quase duas mil pessoas aglomeradas e  sem a proteção individual necessária. No sábado, no município de Capão da Canoa, no Rio Grande do Sul, uma multidão ocupou a orla quebrando todas as regras definidas. Indignado, o internauta Alexandre Aguiar  postou: 

Capão da Canoa madrugada pic.twitter.com/VikAbOBS9l

— Covidfest (@BCovidfest) February 14, 2021 Não há @brigadamilitar_ no litoral, secretário e vice-governador @DelegadoRanolfo? Ou só para torcedor em estádio de futebol em que sobram cavalos, gás e bomba de efeito moral? Isso é deboche com a sociedade gaúcha. Cadê o @governo_rs que interditou as praias na festa de Iemanjá? Capão da Canoa madrugada ( assista ao vídeo) Hashtags denominadas #covidfest e #coronafest além dos perfis Brazil Covid fest e o Brasilfedecovid  apontam para  esses focos de disseminação do coronavírus neste período carnavalesco. No sábado (13), o BrasilfedeCovid  postou a seguinte mensagem:   Acabamos de subir no Instagram NOVE festas de Carnaval ilegais/clandestinas que vão rolar em Santa Catarina neste final de semana. Para piorar, temos mais umas 30 para subir. Em Recife,  está programado o Carnival Recife para os dias 16 e 17 (terça e quarta-feira), contudo além de optar por expressões em inglês  para confundir  a fiscalização, os organizadores omitem o local. Outra festa  que ronda as redes sociais foi o Jururê Internacional (veja vídeo) ocorrida, neste sábado (13) . Outro vídeo de restaurante MAHAU em São Paulo neste sábado (13) (assista ao vídeo).

Milk Jurerê Internacional pic.twitter.com/QBcDS6wDBh

— Covidfest (@BCovidfest) February 13, 2021   Com a vacinação a conta-gotas e com os carnavais clandestinos, em forma de CovidFest e CoronaFest  por todo o país, o que fica mais evidente é que no pós-carnaval o  Bloco Lotação Hospitalar estará ainda mais aglomerado.