Gerônimo Vicente

O que a imprensa liberal americana tentou ocultar surgiu em forma de  tentativa de golpe político

Gerônimo Vicente 10 de janeiro de 2021
O que a imprensa liberal americana tentou ocultar surgiu em forma de  tentativa de golpe político
Reprodução - Foto: Assessoria
Em 22 de agosto do ano passado, uma semana depois de ter sido iniciada a campanha eleitoral para a presidência dos Estados Unidos escrevi neste espaço um texto intitulado, ”Eleição americana de 2016, a ponta da lança que envenenou a política brasileira” no  qual fiz a seguinte pergunta? Será que mais uma vez, Democratas e Republicanos repetirão as polêmicas campanhas entre as duas candidaturas como as que  ocorreram em 2016, as quais  foram recheadas boatos, sátiras, notícias falsas, xenofobia, misoginia, intolerância social de ambos os lados, desvios de condutas e uma avalanche de teorias  conspiratórias? (clique e leia) Foi muito pior do que se imaginava e, desta vez,  esse mau exemplo para o mundo   por pouco não resultou em  golpe político. As cenas vistas na quarta-feira (6) no Capitólio já  eram pré-anunciadas por autoridades de fiscalização dos Estados Unidos, mas ignorada pela imprensa tradicional liberal, talvez para mostrar ao Planeta que estava tudo na mais perfeita ordem na chamada, maior democracia do mundo. Em um desses textos (8 de novembro de 2020), ao me referir  à eleição dos Estados Unidos citei a existência do Q-Anon, uma organização composta por teóricos da conspiração que tem como objetivo principal arregimentar pessoas, propagando a desinformação e a transformando em uma pós-verdade.(Clique e leia). “Da mesma forma que os excluídos como, latinos, negros, transexuais e imigrantes ganharam espaço no Poder Legislativo Americano, o QAnon também conseguiu inserir  integrantes que, certamente, apresentarão os mais esquisitos projetos conspiratórios e darão muito trabalho a Joe Biden”,opínei na época sobre a ação desse grupo. Descobri a denominação do Q-Anon, em setembro de 2020, lendo a manchete de uma reportagem do New York Times sobre teoria da conspiração. Antes achava se tratar apenas de “alucinados”, mas a leitura  dessa  matéria me fez entender que as bizarrices dessa organização, que possui milhões de adeptos, entre eles alguns conhecidos jornalistas, professores universitários, religiosos, policiais e empresários de mídia americana, têm objetivos ousados, como  a que ocorreu no Capitólio. Um detalhe interessante é que empresas publicitárias e até algumas vinculadas à indústria cinematográfica dão apoio financeiro ao Q-Anon e, daí  o fato de vários "super heróis" se infiltrarem nas manifestações, como por exemplo o viking Jake Angeli, o homem com capacete de touro de pele de urso e com uma lança na mão, cuja foto se espalhou pelo mundo. Apoiador de Trump, Angeli, que foi preso no sábado (9), é apelidado no grupo como Q-Shaman e sempre usa  aquela roupa para se destacar como ele próprio falou no site Arizona Republic. O site de notícias Poynter relatou que, em dezembro, Angeli lançou uma campanha de crowdfunding (arrecadação)  online para financiar sua participação em eventos pró-Trump. Esteve ainda em comícios no Arizona, numa manifestação em Phoenix e, em uma  análise feita pelo pelo  PolitiFact ( a mídia americana anti-fake-news)  da página privada de Angeli no Facebook mostrou fotos e postagens que indicavam suporte para QAnon e Trump. Seguidores de QAnon acreditam que Trump está liderando uma luta contra uma conspiração global de pedófilos adoradores de Satanás. Como eles chegaram  à esquisita conclusão que gerou essa  onda  na extrema-direita?. São resquícios devastadores da campanha de 2016. Entre as desinformações  propaladas contra Hillary Clinton na disputa com Donald Trump, uma delas se refere ao envolvimento de um dono de uma famosa pizzaria, a Ping-Pong, em Washington, quando o site Wikileaks divulgou que John Podesta, então coordenador da campanha de Hillary se reuniu com o proprietário do estabelecimento para discutir arrecadação de fundos. Grupos trumpistas  revelaram, sem provas, de que  em vez de fundos de campanha, o assunto tratado foi  pedofilia. As referências nos e-mails a "pizza" e "massa" foram interpretadas como palavras-código para "meninas" e "meninos". Com a vitória de Trump o assunto ganhou força ao ponto de a Ping-pong, frequentada por muitos pais com suas crianças, sofrer uma tentativa de atentado por um senhor muito religioso que invadiu o local com poderosas armas na mão. Edgar Maddison Welch  vivia uma vida normal na pequena cidade de Salisbury, Carolina do Norte. Ele  pegou seu celular, uma caixa de cartuchos de espingarda e três armas carregadas - um rifle AR-15 de 9 mm, um revólver Colt calibre .38 de seis tiros e uma espingarda - e  entrou em seu Toyota Prius. Ele dirigiu 570 km até um bairro abastado em Northwest Washington, DC; estacionou o carro; colocou o revólver em um coldre em seu quadril; segurou o rifle AR-15 contra o peito e entrou pela porta da frente  da pizzaria chamada Comet Ping Pong .No fundo do local, crianças se reuniam para jogar futebol e assistirem a bandas de músicas. O homem só não consumou o ato devido uma sala com computadores armazenados e que, certamente, as cenas estavam sendo filmadas e resolveu se entregar. Ao ser esclarecido sobre o caso se arrependeu da ação. A partir desse ato criminoso, o Q-Anon chegou a sua tese; A de que uma conspiração de elites poderosas estava abusando de crianças e se safando com isso. Vários canais de comunicação foram criados, a partir dessa “estória” do pizzagate e muitos estão ativos espalhando mais fatos, entre eles, o 4chan, site que é  principal porta-voz do grupo.  A letra Q tem um significado especial para os adeptos. É uma pessoa anônima da Internet que afirma ser uma fonte do governo com informações sobre uma conspiração de “estado profundo” para trabalhar contra Donald Trump. As postagens de Q em um fórum periférico da Internet são a base para a teoria da conspiração QAnon. A  teoria da conspiração afirma que figuras públicas como Hillary Clinton, Tom Hanks (ator) e Oprah Winfrey (apresentadora de TV) são pedófilos canibais adoradores de Satanás. Em, 2018, O FBI descreveu o Q-Anon como uma potencial ameaça de terrorismo doméstico . Por trás dos manifestantes  há uma poderosa rede de mídias digitais com canais no YouTube, jornais diários, rádios ,canais de tv comunitários e comerciais que espalham ações apocalípticas em torno da política americana. No dia do ato, por exemplo, o próprio Q-Anon chegou a disseminar que as manifestações contra o Capitólio foram obras dos Antifas (antifascistas) e chegaram a envolver  uma conhecida empresa de circuito eletrônico de câmeras  como contratada para fazer reconhecimento facial dos participantes que negou ter feito a sondagem. A violação do Congresso não teve precedentes na história moderna. Os Estados Unidos passaram mais de dois séculos sem uma violação organizada de seu Capitólio antes de 6 de janeiro. A primeira vez que o Capitólio foi invadido desde que os britânicos destruíram o Capitólio em 1814, como parte da Guerra de 1812. Nesse período, as tropas britânicas lutaram para chegar a Washington em agosto de 1814 e incendiaram o Capitólio e outros edifícios  Em 24 de agosto daquele ano, usando tochas e pasta de pólvora, os britânicos  queimaram o Capitólio, a casa do presidente e outros prédios do governo,  de acordo com a história do Senado .No momento em que uma tempestade de verão apagou as chamas, o Capitólio era pouco mais do que uma concha queimada.  Acostumados a financiar golpes políticos  pelo mundo afora, os Estados Unidos viram a domesticação do terror  arruinar  a chamada “maior democracia do mundo”.