O pai-nosso como remédio espiritual à ansiedade e antídoto ao prejulgamento

Por Alisson Barreto

Publicado em 29/10/2019

No Brasil, cerca de 10% da população era acometida por ansiedade em 2017. Ou seja, 18,6 milhões de brasileirosi. Saber quais os sintomas da ansiedade e por que a oração que Jesus ensinou ajuda a tratá-la e a minimizar prejulgamentos pode facilitar a vida de muitos.

O tempo passa, mas o amor não passe.

Que ansiedade seja passado,

O prejulgamento, superado.

E o amor volte a imperar!

Os principais sintomas da ansiedade são (1) preocupações, medos ou tensões potencializados, sem a capacidade de relaxar; (2) sensação, contínua, de que algo ruim acontecerá; (3) Medo extremo de algum objeto ou situação; (4) medo exacerbado de ser humilhado publicamente; (5) falta de controle sobre pensamentos ou atitudes e (6) pavor após situação muito difícil.ii Há quem diga que a depressão seria o excesso do passado; o estresse, o excesso do presente e a ansiedade seria excesso de possível futuro.

Ora, falar em excesso de possível futuro é pensar nos prejulgamentos que muitos acabam fazendo. Já parou para pensar na quantidade de pessoas que julgam até mesmo o Papa sobre o que acham que ele fará? Já parou para pensar que muita gente tem insônia pelo que acha que os filhos farão ou deixarão de fazer? A reflexão por meio da oração pai-nosso entra justamente no tratamento desse excesso do possível futuro com que se depara.

Acabar-se com futuro que não chegou é enforcar-se com hipóteses.

Antecipar o futuro para se prejudicar é atirar no pé para andar.

Não viver o pai-nosso é falar mais do que amar.

Primeiramente, convém observar que a conjetura de futuro negativo bate de frente com as três virtudes teologais que a podem tratar: a fé, a esperança e o amor. A fé fortalecida sustenta a confiança no Bem, a esperança motiva a agir por esperar o Bem e o amor move na ação de agir bem e proporcionar o bem para o Bem. Esse agir bem insere o cristão na dinâmica do pai-nosso, por meio da qual o cristão pede o pão nosso de cada dia, não o de ontem nem de amanhã, mas aquele a ser dado hoje!

Para onde olhamos é aonde vamos.

É como nos impulsionam nossos pés que nos movemos.

A oração é cônjuge do agir.

A dinâmica do pai-nosso, pouco a pouco, age no tempo subjetivo da pessoa; libertando o indivíduo das marcas que se estendem no cronos (tempo natural, sucessão de fatos medível em relógio) e o insere na confiança do kairós (tempo de Deus, tempo independente do relógio). Ou seja, a oração do pai-nosso fortalece a pessoa na fé que a guia em confiança; levando-a a confiar no futuro, em vez de temê-lo; esperando em Deus, em vez de desesperar-se. A vivência da oração do pai-nosso leva a ocupar-se com o atual, construindo e buscando em Deus e com Deus, em vez de cruzar os braças por temer o futuro.

A ansiedade boicota o presente, prejudicando o futuro. O prejulgamento prejudica o outro, ofendendo a justiça. A dinâmica do pai-nosso restaura o indivíduo dos vícios inconscientes que o emperram seu caminhar e corrige o justiceiro (1) de tomar de Cristo para si o julgamento e (2) de antecipar o julgamento para antes de (a) ouvir as partes e (b) analisar a realização dos fatos. Afinal, a oração não é só para ser dita, é para ser vivida!

Elevemos as mãos: ao Pai nos voltemos!

Guiemo-nos em oração e não julguemos!

Ocupemo-nos com o que devemos nos ocupar.

Construamos o hoje. E o futuro nos virá.

Por fim, unamo-nos em oração ao Pai para que a oração que o Senhor nos ensinou nos ajude a rogar pelo Papa e pelos nossos, confiantes de que – ocupando-nos com o que nos é necessário hoje – Deus nos providenciará o amanhã.

Maceió, 29 de outubro de 2019.

Alisson Francisco Rodrigues Barreto1

1Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo, bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), autor do livro “Pensando com Poesia” e do blog “A Palavra em palavras”. Este, desde 2011, na Tribuna (TribuaHoje.com).

iOMS – Organização Mundial da Saúde. World Health Organization. Depression and Other Common Mental Disorders. Genebra. 2017. Disponível em: <<http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/254610/WHO-MSD-MER-2017.2-eng.pdf;jsess ionid=178B8D4B29C3C7E0DCA942DB0C5319E7?sequence=1>>. Acesso em 29/out/2019.

iiMedley. Disponível em <<https://www.medley.com.br/podecontar/preciso-ajuda/ansiedade-e-depressao>>. Acesso em 29/out/2019.