Antônio Pereira
Em memória do juiz Helder Costa Loureiro, um herói de Alagoas

Na década de 90 ninguém ousava falar mal de alguns membros da Polícia Militar de Alagoas, muito menos comentar inúmeros crimes atribuídos a eles. Esse grupamento, que atualmente damos no nome de milícia, na época era chamado de gangue fardada. Seus integrantes eram especialistas em extorsão, grilagem de terras e, o maior dos crimes, assassinatos por encomenda, cuja morte de maior repercussão foi do fiscal de renda e ex-chefe da Secretaria da Fazenda de Alagoas, Sílvio Luna Viana, em 1996.
Matar Sílvio Viana foi o maior erro já cometido pela gangue fardada, pois o crime teve enorme repercussão na sociedade alagoana e nordestina. Sílvio Viana tinha como principal atribuição fiscalizar os atos dos usineiros, que eram intocáveis até então em Alagoas. Até hoje não há uma indicação oficial sobre os mandantes da morte de Sílvio Viana, mas seus executores estão todos condenados, mortos ou respondendo a novos processos judiciais.
A partir da morte de Sílvio Viana surgiu um figura magistral, seu nome: Helder da Costa Loureiro. Juiz considerado linha dura, não por condenar pessoas pura e simplesmente, mas por cumprir a legislação, seguir todos os trâmites judiciais, dar ampla defesa e, no fim, caso os acusados tivessem efetivamente culpa, condená-los nos rigores da lei.
Claro que essa atuação suscitava enorme inveja, mas também grande admiração no meio judicial. Helder Loureiro tinha a respeitabilidade de todos, inclusive de seus inimigos, notadamente bandidos reconhecidamente culpados.
Assim, Helder Loureiro acabou pagando com a própria vida pela sua atuação, pois após condenar os membros da gangue fardada e seu líder, o ex-tenente-coronel Manoel Francisco Cavalcante, o juiz foi também condenado. Sua vida se resumia a trabalhar e se recolher a sua residência sob forte aparato de segurança. Sabia-se que os membros da gangue fardada estavam ávidos por encher o magistrado de balas.
Anos vivendo em prisão domiciliar, como ele mesmo dizia, fez com que Helder Loureiro tivesse ainda mais admiradores nos corredores da Justiça alagoana. Todos sabiam que o juiz tinha dado sua própria vida para banir do convívio social sociopatas da mais alta periculosidade.
Honestidade
Certa vez Helder Loureiro ao ser perguntado sobre possíveis desvios de corrupção de servidores públicos ele disse: 'Sou juiz e vivo do meu salário. Tenho uma casa na cidade, um carro novo e uma casinha na praia. O salário só dá para isso. O juiz que tiver mais do que essa estrutura, ou roubou ou herdou. Não dá para ter mais do que isso com os rendimentos da magistratura'.
Fica aqui o registro para a posteridade deste grande homem, pai, avó e íntegro alagoano. Fez do seu ofício uma arma contra a criminalidade. Fez da sua vida um exemplo para todos os magistrados e servidores públicos em geral. Alagoas deve muito a Helder Costa Loureiro.
*O juiz Helder Loureiro faleceu aos 57 anos em um hospital de Recife-PE em 2014 devido a complicações de um câncer.
