Alisson Barreto

O Brasil, o marketing e o castelo interior

Alisson Barreto 11 de abril de 2019
Maceió, 11 de abril de 2019.

O Brasil, o marketing e o castelo interior

O Brasil, após a estabilização da moeda e investimento em políticas sociais parecia que iria permanecer numa ascendente de desenvolvimento e bem-estar. Entretanto, mergulhou em uma quase estagnação e pífio desenvolvimento, passando a ter – por diferentes motivos – um grande índice de pessoas depressivas e de empresas quebradas. O que aconteceu com este país? Um marco histórico de depreciação econômica é a queda de bolsas de valores de Wall Street, em 1929, nos Estados Unidos com repercussões pelo mundo. O Brasil de 2019 registra uma tentativa de reerguimento após a queda do populismo esquerdista. Haveria alguma relação que une a queda da bolsa de valores do século pretérito com o Brasil atual? Haveria alguma relação do bolso do brasileiro com os valores que carrega em seu peito? Abaixo será demonstrado que sim. À primeira vista, o leitor pode ter achado que tal relação seria algo como a distância apresentada pela teoria do caos, mas logo perceberá que é bem mais simples do que possa ter imaginado. Conjeturas à parte, queda-se diante de um cenário de marketing especulativo seguido de depressão pós-eufórica. Ou seja, uma realidade não muito diferente da causada pelas drogas ilícitas, em sua relação euforia – abstinência. Tais relações podem ser observadas em ambientes que vão do marketing pessoal ao empresarial e do seu viés individual ao coletivo, particular ao público. Mais que isso, cada indivíduo é capaz de viver em bolha especulativa suficiente a separar (1) quem realmente se é de (2) como se vê e de (3) como se apresenta. Essas três perspectivas possíveis em cada indivíduo também podem acontecer no registro histórico e nas relações internacionais: quem se é, como se vê e como se é visto. O indivíduo humano pode “mentir” para si mesmo (1) para fazer-se sentir-se bem, ignorando suas próprias mazelas, projetando em si uma imagem otimizada e (2) ignorar dons, graças e carismas projetando em si uma imagem boicotada. Ambas as situações podem gerar prejuízo à realização pessoal do homem como ser. A realização pessoal do homem como ser é também chamada de felicidade e passa pelo crivo da autenticidade para consigo mesmo. Eis, então, onde se abre espaço para a máxima de que a verdade liberta. Ora, para que a verdade haja em sua plenitude é necessária a autêntica adequação entre (1) o que se é, (2) como se vê e (3) como se é visto. A verdade básica na relação entre pessoas é a adequação entre os dois últimos aspectos (2 e 3), pois uma mentira é a inadequação entre o que se apresenta e o que se tem ciência. No entanto, isso é ainda insuficiente à plenitude do indivíduo, uma vez que há um plexo de informações inconscientes que existem em sua mente, interfere em seus comportamentos e fazem parte do que se é, ainda que não faça parte de como se vê. Portanto, a realização do indivíduo como ser requer a corajosa humildade de olhar para os recônditos mais ocultos de seu ser e encarar seus demônios, demolindo tudo aquilo que lhe afasta da plenitude, destruindo seus vícios, suas máculas, mágoas, rancores, escravidões, dependências humanas e mazelas afins para dar lugar à realidade capaz de voltar e unir-se ao Transcendente Ato Puro. União a qual se dá pela unidade oriunda da configuração do eu à verdade libertadora. É preciso, por conseguinte, despir-se das vaidades que impedem de entrar no enorme castelo interior de si mesmo. É onde surgem grandes embates com os demônios das marcas das vaidades, dos vícios das concupiscências, das sequelas das más inclinações. Sem a luz da Verdade Objetiva, que liberta, tal trajeto é fadado ao fracasso, pois já começa sob o vício da vaidade, em sua subjetividade que sabe não ser onisciente, mas não aceita a ajuda da verdade que faz ponte da limitada subjetividade atual para a subjetividade unida à iluminação excelsa. Voltando ao aspecto nacional, o problema se dá quando se troca (A) a busca pelo ganho real pela (B) aparência satisfatória. Trocando em miúdos: você pode apresentar estatísticas para que o mundo veja que você aumentou o número de crianças na escola (aparência satisfatória), mas se o nível educacional é falho ou depreciativo, inexiste ganho real. O marketing populista, nacionalista ou partidário acaba não mostrando o real ganho, mas a imagem viável a apresentar; porém, quando é feito por muito tempo, isso gera um abismo entre o elevado nível apresentado e baixo nível real, gerando uma força decadente que aumenta à medida que aumenta o foço entre o apresentado e o real, até que tudo caia e o país se depare com o alto preço a pagar por suas ilusões. Ganhos reais requerem investimentos reais e duradouros, não apresentações de realidades falsas. Seja num indivíduo, numa empresa ou num governo, se o que tiver de ser eliminado continuar sendo jogado sob o tapete, uma hora o tapete não comportará tamanha sujeira. E do outro polo da mesma realidade convém observar que se o que há de valor continuar ignorado, depreciado, desvalorado ou jogado para escanteio, pode faltar o mais básico para a realização do ser. Agora pare e pense: onde está sua família em suas metas? Qual o valor que é dado à família no ordenamento social pátrio? Ela tem constituição protegida ou é instituição facilmente segregável? E os membros da família são realmente respeitados em suas integridades ou são objetos e propriedades? Visto isso, convido o leitor, nesta semana quaresmal, a parar e pensar: tenho, realmente, coragem de entrar no meu castelo interior para buscar a verdade capaz de iluminar e realizar o meu ser ou prefiro esconder-me no “deixa como está”? Grato por seu tempo, desejo a todos uma enriquecedora semana santa! Por amor ao Ato Puro, em participação no Corpo da Verdade,

Alisson Francisco Rodrigues Barreto[1]

  [1] Poeta, filósofo; bacharel em Direito, pós-graduado. Autor do blog “A Palavra em palavras”, na Tribuna, desde 2011. @alissonbarreto1 (LinkedIn, Twetter e Instagram)