Alisson Barreto

Cuidado com os doutores da Torá

Alisson Barreto 06 de novembro de 2018
Cuidado com os doutores da Torá
Reprodução - Foto: Assessoria
Atentos à vivência eclesial e à missão evangelizadora que o Senhor nos confiou, a Palavra em palavras passará também a abordar as leituras bíblicas da liturgia dominical, em algumas semanas. Tomemos, pois, o evangelho deste 32º domingo do tempo comum, ano B (Mc 12,38-44). A boa nova do aludido domingo traz o alerta de Jesus à multidão: “Tomais cuidado com os doutores da Lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de serem cumprimentados nas praças públicas. Gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes […]” O texto segue e fala do ofertório. Mas a questão central é sobre o que ofertamos, quanto de nós vai em nossas ofertas e se nós estamos nos doando ou apenas querendo ser bajulados. Ora, amados leitores, olhem um pouco mais e percebam o lava-pés nas entrelinhas dessa proclamação. O texto, lido inteiramente, apresenta uma reflexão que vai dos doutores da Lei (Torá, em hebraico), em seus primeiros lugares, à pobre viúva que dá apenas pequenas moedas, mas que que é tudo o que tem. Entre esta e aqueles há os ricos e suas ofertas vistosas, mas que são meramente suas sobras. Olhemos para ele com o olhar dos pobres que amam. Aquela pobre viúva dá, numericamente, pouco; mas axiologicamente muito, em termos de valores: dá tudo o que tem, dá-se para Deus. Ora, não é esse o sentido do lava-pés: doar-se no serviço, doar-se com seus dons, doar-se através dos bens ofertados? Entre a pobre mulher e os doutores da Lei (Torá), há os ricos em suas grandes quantias. Donde vem a pergunta: será que estão, realmente, doando – no ofertório – ou estão ostentando poder econômico ou fazendo das doações momentos egocêntricos, atraindo os olhares para si? Bom… Deixando os julgamentos para o Justo Juiz (Nosso Senhor Jesus Cristo), contentemo-nos em ver que estão sendo solidários, contribuindo com a evangelização. Nos primeiros lugares da leitura estão os que mais causam preocupação a este que vos escreve. Ó Senhor, os doutores da Lei de Deus não deveriam ser os mais humildes e agentes do lava-pés? Por que, então, preferem as melhores roupas, os melhores lugares, as bajulações e os tratamentos “vips”? Ó meu Deus, como me dói ver os pobres nas portas das igrejas sem participarem da Comunhão. E como me dói ver ministros de lava-pés ocupados demais em ordenar que seus pés sejam lavados ou que os holofotes os destaquem. Mas enfim, não foi para isso que vim nem deve ser esse o meu motivo de escrever. Faço desse ensejo um convite a refletir: será que cada um de nós não podemos melhorar? Sim, eu acredito no Amor. Eu acredito que podemos amar melhor. Porque se não for por amor de nada valem as moedas, as cédulas ou as melhores roupas. Lava-me, Senhor. Lava o meu coração e minhas mãos aprenderão a amar! Que saibamos amar melhor e gostemos mais de oferecer rosas do que exigir que nos façam as coisas como desejamos! Já não basta dizer para perdoar, é fundamental aprender a amar. Não dá para cobrar do outro a superação do amor, se não cobrarmos de nós mesmos a cessação de ofensas. Até que ponto continuaremos pedindo que nos aliviem nossos fardos se nós mesmos estivermos colocando fardos pesados nos ombros dos que nos amam? Concluamos, pois, a reflexão desta semana pedindo a Deus que nos ajude a amar, a nos doar, a perdoar e renovarmo-nos na leveza e beleza que é amar. A todos uma santa e abençoada semana! Paz e Bem!

Maceió-AL, 06 de novembro de 2018.

No amor de Maria e em honra a Jesus Eucaristia,

Alisson Francisco Rodrigues Barreto[1]

  [1] Poeta, filósofo (SNSA), bacharel em Direito (Ufal), pós-graduado (Esmal). Seminarista em teologia (SNSA – Seminário Nossa Senhora da Assunção) pela Arquidiocese de Maceió. Autor deste blogue – “A Palavra em palavras” – desde 2011, em TribunaHoje.com. Autor do livro “Pensando com Poesia” e membro-fundador do grupo Amme – Amigos Marianos Missionários da Eucaristia e da Pia Escuderia de Sigmaringen.