Alisson Barreto

FAKE MEMORIES E FAKE HISTORIES

Alisson Barreto 28 de agosto de 2018

Fake Memories e Fake History

Numa época em que tanto se fala em fake News, não está na hora de um despertar para os perigos das falsas memórias e a possibilidade de falsos fatos históricos? Até que ponto que um ensinamento político ou histórico é confiável? Nessa mesma linha de raciocínio cabe questionar-se sobre até que ponto as histórias que algumas pessoas nos contam acerca de outras ou delas mesmas podem ser tomadas como verdades? Mais que isso, cabe questionar-se: “até que ponto minhas memórias e autopercepção me pode ser confiável? ”. A questão é parar para pensar sobre se o que foi estudado nos colégios e faculdades realmente aconteceram como memorizamos e se a nossa óptica de ver e memorizar não foram editadas de modo a corromper as capacidades interpretativas e cognitivas da realidade. Nessa perspectiva, é possível observar que alguns professores têm a capacidade de transformar a forma de seus alunos veem a realidade. Eis a significativa importância de os professores serem escolhidos não apenas sobre a relevância de seus conhecimentos como também acerca de suas virtudes e demais qualidades morais. Afinal, um professor tem a oportunidade de direcionar os alunos para novos conhecimentos, sejam eles reais ou lúdicos. E os alunos são os seres vulneráveis, diante do dever de memorizar e adquirir conhecimentos, muitas vezes guardando o que seus professores preceituam sem maiores questionamentos, ora por falta de subsídios ao questionamento ora por falta de permissão para fazê-lo, no ambiente acadêmico ou mesmo cultural, religioso e familiar. Não foi hoje que a humanidade percebera que as palavras (e mesmo expressões corporais) podem ser manipuladas para que o falso se passe por verdadeiro. Não foi só Adão que comeu o proibido fruto e as artimanhas de convencimento não foram utilizadas só por Eva. A figura da sedução para que Adão e Eva reinterpretem a proibição do Éden se repete diante de Jesus, no ambiente do deserto. Ora, o Cristianismo tem ciência de que Jesus é a Palavra de Deus que Se revelou à humanidade, fazendo-se Homem e dando-Se como Alimento àqueles que foram chamados a se tornarem membros do Seu Corpo, que é a Igreja. Também membros da igreja, em seus desertos e em seus jardins são tentados, seduzidos a fazerem “novas” interpretações da Palavra. Assim como Adão e Eva foram postos para fora do Éden, muitos acabam caindo nas seduções de, em vez de comerem do Pão que dá a vida, comerem frutos de seus suores. Suas supostas “novas” interpretações, portanto, não são novas, mas “velhas”, instigadas pela Velha Serpente. Ora, informações que contrastam com a forma de enxergar a vida podem levar a entusiasmados brilhos nos olhos ou ranger de dentes e choros. Dentre os que acompanham os escritos deste blog (A Palavra em palavras), provavelmente, não haverá ranger de dentes; mas a paz de quem aprecia a reflexão e não tem medo de perscrutar a verdade para vivê-la. Ainda que, muitas vezes, isso custe mudar-se, nas profundezas da própria alma, para encontrar o Ser. E não raro ver-se como Sócrates, dando a vida por amor à Verdade. Reinterpretações, edições – de textos ou figuras, por ex. – são preciosas brechas para a formação de “fakes”. Assim, surgem as “fake News”, “fake memories” (falsas memórias), “fake histories” (falsas histórias) e até os “fake friends” (falsos amigos) e as bíblias “fake”. O mal não existe em absoluto, por si só, e age, escolhendo coisas que foram criadas boas para inserir seu veneno. A questão é que nem tudo o que é falso é por escolha deliberada. Uma falsa interpretação ou falsa memória. Todas as vezes que uma pessoa se lembra de algo enseja uma possibilidade de erro à memória. Um indício disso é que se vinte pessoas participarem de um acontecimento, vinte anos após, as mesmas pessoas vão começar a relatar diferenças em seus relatos. Há pesquisas que comprovam essa assertiva acerca dos erros causados tanto pelas reincidentes lembranças como pelos esquecimentos delas. Mas o problema maior não são as falhas nas memórias, mas nas ideologias e nos interesses políticos que se infiltram nos registros históricos que chegam até as pessoas. E sabe-se que não se para nisso. Historiadores, filósofos, geógrafos o tempo todo são alimentados com informações que os levam a repassar ou recriar cenários que não corresponderam às realidades fáticas, ainda que eles acreditem que tais fatos sejam verídicos. As induções de pensamentos não são fatos novos nem incomuns. Muita gente se aproveita de contatos com superiores em locais de trabalho, comunidades ou fraternidades para obter vantagens (para si ou para outrem) ou para causarem prejuízos a terceiros. Alguns fazem de forma tão velada que nem seus superiores e suas vítimas se dão conta. E muitos não se dão conta que, em alguns casos, da mesma forma que chegam a tais pessoas, afastando-se delas as atacam pelas costas ou armam planos para tal. Outras, apenas se contentam com a proteção para suas próprias costas, ainda que isso possa custar prejuízos a boas pessoas. A lógica da vida, porém, é o reverso deste texto. Enquanto no texto em tela a maior parte do que fora escrito/lido até então trata de “fake” (também chamada de corrupção), a corrupção é a menor parte do todo, ainda que um pé machucado pode levar a um tropeço e uma cabeça torta pode condenar um corpo. Graças a Deus, a perfeição do Criador é superior às falhas das escolhas de seus seres. Graças a Deus, a misericórdia de Deus não abandonou a humanidade. Graças a Deus, o Amor de Deus veio até nós, Deus Se fez Homem e Se deu como Alimento para que o homem possa ter vida, saindo da “vida fake” e integrando-se à vida na Verdade. Muitas pessoas reclamam de decepções ou vivem em falsas realidades, mas aqueles que resolvem dizer sim a Deus, veem de seus olhos caírem as escamas que lhe dificultam a visão e não percebiam. Abrem-se asas em suas perspectivas emocionais. Matam suas sedes por felicidade: saciam-se no Alimento da Verdade e na Bebida do Amor de Deus. Aquele que encontra a Verdade, que é o Cristo, percebe que foi descoberto pelo Amor, fisgado pelo Altíssimo e enriquecido para o Caminho das virtudes que o encaminham para o Céu. E uma hora chegará em que todas a realidade “fake” ruirá e nos depararemos diante do Justo, Verdadeiro e Absoluto: Deus, o Amor que nos ama e nos resgata de nossas imperfeições. A todos uma santa semana! Que Deus nos ilumine em nossas vocações e prepare os nossos corações para uma melhor vivência da Palavra! Paz e Bem! Dado no dia de Santo Agostinho, em Maceió, 28 de agosto de 2018.

Alisson Francisco Rodrigues Barreto[1]

[1] Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo com bacharelado em Direito e pós-graduação em Direito Processual. Seminarista pela Arquidiocese de Maceió, é estudante de Teologia e fundador do grupo de amigos autointitulados Amigos Marianos Missionários da Eucaristia (nas redes sociais, Instagram e Facebook: “@amme.33”). Autor do blog “A Palavra em palavras”, desde 2011. Também autor do livro “Pensando com poesia”, disponível em Americanas.com.