Alisson Barreto

HABEAS ANIMAM - A felicidade no mundo das trevas

Alisson Barreto 30 de abril de 2018

Habeas Animam

A felicidade no mundo de trevas

Por Alisson Francisco

Parte 1 – Imerso nas trevas e a busca por felicidade

O mundo não é das trevas, mas nelas está mergulhado. O homem, que vive no mundo, ainda que dele não seja, para a felicidade é destinado. E o que o mundo faz ao homem? Apresenta uma aparente felicidade.

A verdadeira felicidade não se esconde; porém, o torpor das falsas felicidades que o mundo apresenta acaba por aprisionar muitos dos homens. Então, a verdadeira felicidade acaba tornando-se algo distante ou não destinada a eles.

De modo que você, caríssimo(a) leitor(a), pode estar cercado de trevas e não perceber que a felicidade é uma realidade que Aquele que Ama reservou para você. Ao mesmo tempo, cuidado! Você pode achar que está degustando a felicidade, cego pelas alegrias das falsas felicidades. Então, como encontrar a felicidade no mundo de trevas?

Como encontrar a felicidade preso(a) às ilusões mundanas que conduzem o homem à mesquinhez do pecado? Se o pecado prende em uma cadeia de ilusões, como é possível sair? Onde conseguir o habeas corpus da alma? Ou melhor, habeas animam

Parte 2 – A busca por liberdade, a verdade e o processo de santificação

Impetrar o habeas animam é o ato oriundo da busca por liberdade que só se satisfaz na busca pela verdade absoluta, a qual requer uma adesão sincera e plena, nutrida pelo amor, moldada nas virtudes e nos sacramentos, misteriosos instrumentos sacros de modelação cristificante. Sim, não se trata aqui de contentar-se com verdades subjetivas, relativas, mas de perquirir a verdade que leva a transcender, a sair de si e permitir a segunda fase procedimental: o processo de santificação.

O habeas animam, por conseguinte, é o nome que dei ao instrumento querigmático-cristificante capaz romper com as cadeias do pecado e libertar o indivíduo em sua condição mais profunda. Teologicamente, sabe-se que o batismo realiza plenamente essa libertação, uma vez que purifica de todos os pecados e faz incidir o Espírito Santo sobre o batizado, inserindo-o no Corpo de Cristo para que, nele, possa ser guiado pelo Caminho da Verdade, que é Quem o liberta.

O processo de busca da verdade – anseio infuso na natureza do coração humano – leva o homem a contemplar a perfeição e a esta leva-o para o Absoluto Ser, o Qual atrai o homem para Si. Em outras palavras, é o Ser que atrai o ser humano. O Ato Puro atrai o capacitado para agir. O Perfeito atrai o feito para a perfeição.

Porém, o homem esbarra em suas limitações. A busca cognitiva esbarra nas limitações do cognoscente. E elas são basicamente duas: (1) os limites do que pode ser atingível pelo homem, que separam o homem do transcendente; (2) os limites oriundos das corrupções e torpores causados pelo pecado.

Esses limites prendem o homem na cadeia de pecado, no mundo, afastando-o da condição para o qual foi criado: a realidade celestial. A qual, quanto mais desviado para a fixação do olhar para o mundo, mais o Céu lhe parece distante, imaginário ou mesmo fictício.

Portanto, como se depreende deste texto, o habeas animam é instrumento salvífico tanto de modo específico e plenamente eficaz, como também difuso, disperso ao longo do processo de cristificação: nome dado ao processo de plena configuração do homem à humanização perfeita. Explicando: tomando em conta que Jesus Cristo é o Homem perfeito, a Palavra Sagrada e a Verdade absoluta, o processo de aperfeiçoamento do homem é um processo de configuração a Cristo, chamado de processo de cristificação. O processo de cristificação é muito conhecido como santificação, pois Jesus é o Santo por excelência e todos aqueles que se configuram perfeitamente n’Ele são chamados santos. De modo que Jesus Cristo é Santo em si mesmo e os santos são santos por participação no Corpo de Cristo.

Parte 3 – Das trevas à felicidade

A ideia de que santo é alguém distante que está no Céu e que para cada um de nós seria uma utopia é um erro de interpretação acerca do plano salvífico de Deus, que quer que todos sejamos santos, que dá a santidade como vocação e missão universal e que enviou Seu Filho para realizar isso: no que consiste a nossa salvação.

O Habeas Anima é, portanto, o instrumento pelo qual o Defensor nos liberta, configura-nos na verdade e nos adequa à condição celeste: santidade. Como se percebe, isso requer ao indivíduo uma reedição de si que requer o agir humilde de reconhecer-se aquém do Transcendente, aceitação de que Ele seja Deus Conosco e, permitindo, que Ele seja próximo, como o oleiro, molde na humildade cristificante, pela qual o ser humano, já cristão, se reconhece necessitado da graça e da misericórdia de Deus, que o molda, renova e santifica. O Habeas Anima, portanto, toma o homem deviente e necessitado da graça e o traz de volta à Vida. Eis que só então, Ele se insere na felicidade, também chamada vivência na graça e agir bem-aventurado.

Todo esse processo conduz o homem de uma instância em que ele passa de momentos em que está em estado de graça para a plenificação de eternamente ser na graça. Eis que o homem passa de atos virtuosos isolados para o constante agir em virtude. Eis que seu coração encontra sua noiva tão esperada: a felicidade, destino ao qual todo homem é convidado.

Maceió, 30 de abril de 2018.

No amor de Maria e nas vésperas do dia de São José,

Alisson Francisco Rodrigues Barreto*

*Alisson Francisco Rodrigues Barreto é seminarista do curso de Teologia, no Seminário Arquidiocesano de Maceió. Poeta, filósofo; bacharel em Direito (Ufal), pós-graduado (Esmal). Autor do blog A Palavra em palavras, desde 2011, e do livro Pensando com Poesia (disponível no site americanas.com).