Alisson Barreto

Entre esquerdistas e direitistas: JESUS ABANDONADO

Alisson Barreto 27 de fevereiro de 2018

Entre esquerdistas e direitistas: JESUS ABANDONADO

O mundo, cada vez mais globalizado, produziu uma série de subjetividade que jogou conflitos de ideias no inconsciente coletivo, produzindo extremismos e relativismos convivendo lado a lado. Nesse turbilhão tempestuoso está o povo. Diante de tudo isso, onde está você? Onde fica a Igreja? Como fica Jesus? Vive-se – não obstante a crise econômica, no Brasil – uma época de farras. São elas ideológicas, filosóficas, teológicas, “morais” e com suas inserções de anarquismo, ateísmo, agnosticismo, relativismo, ignorância intelectual, falhas (nem sempre despropositais) de coerência lógica etc.. É um mundo cuja consciência está cada vez mais afetada por ideologias e pensamentos inseridos subliminarmente nos corações. Um mundo que produziu tanta informação que a mente humana começou a chegar ao ponto da lavagem, “resetada” pelo excesso de conteúdo. Um “reset” que faz esquecer uma fundamental parte da História: a parte da história em que Igreja edificou a sociedade atual, com a formação de países, criação de universidades, da ciência atual, de escolas, hospitais e humanização das penas, por exemplo. Para ignorar a Igreja, pouco a pouco, pensadores da divisão foram afastando pessoas da história salvífica: afastando da Igreja, afastaram de Jesus. Como na cruz, na história, Jesus abandonado. Jesus, sem pecado algum, foi condenado à pior das penas aplicadas pelo direito romano: a crucificação. Foi condenado como o pior dos pecadores, crucificado entre dois malfeitores: um à sua direita e outro à esquerda. Ainda hoje, quantos e quantos, em vez de buscarem a centralidade em Cristo, digladiam entre esquerda e direita, acusando-se, mutuamente! A vida cristã tem como foco Cristo, não a direita ou a esquerda, não o erro, mas o acerto. No julgamento final, Deus vai escolher quais os que irão para a direita, como cordeiros, ou irão para a esquerda, como cabritos. No dia de hoje, todos são vocacionados a serem cristocêntricos, servindo, amando, cristificando-se, ou seja, todos vocacionados à santidade, a vocação universal. É importante, pois, centralizar as ações em Cristo para entregar-se e deixar que Deus dê o verdadeiro destino final. Brigar pela direita ou esquerda pode significar abdicar da centralização em Cristo. Acontece, porém, que algumas pessoas não percebem e várias sementes de discórdia tem sido lançadas. O Divisor (Diabolos, ”Diabolos”, em grego) lançou várias sementes de orgulho e discórdia mundo afora. Como no Jardim do Éden, instigou muitos a ignorar os escolhidos por Jesus Cristo: ignorar Pedro e seus sucessores (os Papas), ignorar os apóstolos e seus sucessores (os bispos), por exemplo. Assim, surgiram, dentro da própria Igreja, fenômenos cismáticos que geraram várias denominações religiosas. Como a tentação de dizer o que é bem ou mal, muitos comeram do fruto da árvore proibida. Convém lembrar que um dos ladrões crucificados acusa o próprio Cristo. O que muitos não percebem são os ladrões de fé, os quais também acusam o Corpo de Cristo, que é a Igreja. A Igreja, cuja santidade é uma de suas características, sendo o Corpo de Cristo, também assume os pecados da humanidade, os quais são tantos que, muitas vezes, fazem com que – assim como Jesus – ela seja julgada como pecadora, ainda que seja santa. A Igreja é santa, mas aos olhos dos homens parece ser pecadora. Como Jesus que, sendo santo, aos olhos dos seus algozes parecia ser pecador. E muitos são os algozes do Corpo de Cristo, a Igreja. De tempos em tempos, surgem grupos que a atacam. Algumas vezes com palavras amenas, disfarçadas de amor solidário; em outras, com palavras ásperas, disfarçadas de amor defensor. Quantas e quantas vezes a Igreja fora atacada pela esquerda e/ou pela direita… Por cima, ela não o é, Deus está acima, governando-a pelo Espírito Santo. Por debaixo, também é mais difícil; pois ela faz justiça, eliminando o mal da vida de muitos, pelos sacramentos e pelo amor de Deus, que a rege. Pelos sacramentos, a Igreja pisa a cabeça da Serpente. Vivemos uma época em que alguns filhos chegam a agredir seus pais e professores. Também a Igreja, Mãe e Mestra, sofre agressões de seus filhos, os que foram batizados. Em muitas casas, os pais têm a voz ignorada pelo orgulho dos filhos. Também na Igreja, em muitas vezes, leigos são muitíssimos desrespeitosos para com os clérigos. Faz falta a tradição dos filhos pedirem a bênção aos pais; dos leigos pedirem a bênção aos clérigos. Quantas e quantas vezes as pessoas estão trocando as graças sacramentais pelas desgraças do desrespeito… Senhor, afastai de Vossa Igreja esse mal! Não dá para honrar a Cristo sem honrar a Igreja. Não dá para honrar a Igreja sem honrar o clero e a família. É preciso honrar a família de casa e a família de Cristo. É preciso honrar a Cristo, em Sua Igreja. É necessário honrar Deus, em Seu Filho. Quando Cristo assumiu os nossos pecados foi tão desprezado, ignorado e desrespeitado que até de Deus se sentiu desamparado. Mas sua fidelidade e respeito ao Pai testemunhou para nós um mistério de amor mais forte do que a explosão de todas as estrelas e bombas atômicas. Jesus Abandonado ao Pai entregou o Seu Espírito. No mistério da Cruz, Jesus assume os nossos pecados e, no cumprimento de Sua pena, salva-nos. Por amor, dá-Se pela humanidade. Por amor, dá-Se a Deus. Por amor, dá-nos uma Mãe, Maria Santíssima. Por amor, dá-nos ao Pai, em Seu Corpo. Por amor, morre e dá-nos a Vida, dando-nos à Vida, dando-Se a nós e dando-nos a Si próprio. Assim, Jesus Abandonado fica só para não nos deixar sós e, mais que isso, unir-nos n’Ele. Jesus Abandonado é, pois, como bem enfatiza Chiara Lubich, o “Mestre da Unidade”. É Ele Quem realiza a oração sacerdotal: UT UNUM SINT (Que todos sejam um, n’Ele). Jesus Abandonado é o santo refúgio dos sofredores, dos perseguidos, dos injustiçados, dos esquecidos. Jesus Abandonado é o exemplo de total obediência e entrega à vontade de Deus, ao Supremo Amor. Supremo exemplo de amor da qual irradiam todas as virtudes. Jesus Abandonado está diante de nós (É Deus Conosco, Emanuel) e acima de nós, para que – olhando para Ele e sem se desviar d’Ele – o fiel possa ser moldado pelo Espírito Santo, n’Ele, segundo a vontade do Pai. Uma pessoa desviar o próprio olhar d’Ele é ratar, é errar, é falhar. Nem direita nem esquerda, como querem as tempestades, olhos fixos em Cristo e não se afundará nas águas tempestuosas do pecado e das tentações. Cristocentrismo é a palavra que falta no coração humano. Fazei-a ressoar em seu coração! De um lado, uns acreditam que priorizar os pequenos é combater os grandes. De outro, alguns acreditam que para acolher os grandes não se pode priorizar os pequenos. Enquanto isso, Jesus passa no meio deles e eles não o veem. Ali também está Jesus abandonado. Nosso combate não é contra pequenos nem contra grandes, não é contra pessoas – como bem ensinou São Paulo. Nosso combate é o bom combate, contra aqueles que tentam e afastam pessoas dos planos de Deus. O bom combate é pela salvação, pelo amor, pela unidade em Cristo. O Espírito Santo foi rogado ao Pai para que todos se tornassem um em Cristo, Filho de Maria e de Deus Pai. Esse é o caminho, a verdade e a vida. É preciso, pois, desapegar-se de todo o caminho de ódio e divisão. É fundamental fazer do próprio conhecimento um instrumento de amor, de humildade, misericórdia, cooperação e motivação às orações. Oremos uns pelos outros para que nos mantenhamos firmes, na unidade, fidelidade e obediência. São José, protetor da Igreja, defendei-nos! São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate! Senhor, tende misericórdia de nós!  

Maceió, 27 de fevereiro de 2018.

No amor de Maria e aos pés do Bom Pastor,

Alisson Francisco Rodrigues Barreto[1]

[1] Poeta, filósofo, bacharel em Direito, pós-graduado. Seminarista da Teologia no Seminário Nossa Senhora da Assunção. Autor do blogue A Palavra em palavras, na Tribuna, desde 2011.