Alisson Barreto

O MARTÍRIO NOSSO DE CADA DIA

Alisson Barreto 13 de março de 2017

O martírio nosso de cada dia

Por Alisson Francisco

A primeira palavra que vem à cabeça de muitos para significar martírio é sofrimento. Mas será que tal concepção é realmente adequada? Como um cristão deve encarar o martírio? Será que podemos, realmente, falar em martírio cotidiano?

O mártir é, no senso comum, alguém que deu a vida por uma causa ou por uma fé. Isso é suficiente para que boa parte das pessoas associe martírio a sofrimento. Porém, a palavra martírio tem um algo mais que salta aos olhos, nesta questão. Em especial, se o indivíduo é cristão!

A palavra martírio vem do grego e significa testemunho. Sim, essa palavra é mais utilizada e, por isso, toma um significado especial na mente das pessoas quando se trata de um testemunho a custos elevadíssimos, como no caso das perseguições e, sobretudo, as que culminam com a morte. O testemunho em que se dá a vida é uma grande prova de amor; pois os instintos naturais tendem a recuar diante da ameaça mortal.

Não obstante, para o cristão, crendo a vida não se encerrar aqui e confiante na fé que recebeu de Cristo, por meio dos apóstolos, contenta-se em testemunhar a fé, pela alegria de poder contribuir para a salvação de outros, enquanto aceita a ceifa de sua vida como instrumento unitivo ao Cristo Crucifixo. Para que, com Ele morrendo, com Ele e para Ele seja ressuscitado.

O martírio dos santos, portanto, é o testemunho de amor, fé e esperança que eles dão ainda que isso lhes custe a vida temporal. Doam-se na vida temporal para ganhar a eterna!

Acontece, porém, que muitos tendem a ver o martírio dos santos apenas pelo seu cume mortal, como um mero ato heroico e pontual. Na verdade, a honra dos altares provem de longos combates interiores e duradouras lutas espirituais. Os martírios são precedidos por reiterados atos de testemunho autêntico. Antes que Cristo fosse crucificado, acendeu a chama da fé em muitos corações! Antes de termos a honra de morrer por Cristo, precisamos viver o Seu amor diariamente, não só nas grandes coisas como e, principalmente, nas pequenas.

A santificação é, por conseguinte, um processo de perene superação no amor. O martírio é, por decorrência, uma declaração de amor esculpida não em um “flash”, mas numa decisão de vida. Não é uma cena cinematográfica, é uma escolha proveniente dos rincões mais profundos da alma.

A Quaresma é um tempo oportuno para termos a coragem de olhar para as partes mais ocultas de nossa alma e lançar nelas um clarão a dizer-lhe: eu irei te trabalhar, ó parte minha! É o momento da faxina do ser. É o desafio dos, verdadeiramente, corajosos: pois, nas profundezas de nossas almas, ninguém mais estará vendo, a não ser Deus. Lá, só você pode entrar. É onde sua coragem é mais desafiada. Lá está o verdadeiro lugar da opção preferencial. É onde sua escolha não é submetida à apreciação de terceiros. Só Deus sabe o que lá está guardado.

Pois bem, o martírio nosso de cada dia passa pelo desafio de viver esse combate nas entranhas da alma, prestando um testemunho que muitas vezes só é apreciado pelas realidades espirituais. Pois ninguém na Terra estará vendo suas derrotas e vitórias, mas Deus está de olho.

Inclusive, Deus está de olho se você está fazendo faxina na alma ou jogando para debaixo do tapete das aparências. Renovemos, pois, o ânimo de buscar as coisas do Alto! Cristifiquemo-nos.

Boa e santificante Quaresma!

Paz e Bem!

Dado em Maceió, 12 de março de 2017.

Atenciosamente,

Alisson Francisco Rodrigues Barreto[1]

[1] Poeta, filósofo (Seminário Arquidiocesano de Maceió); bacharel em Direito (Ufal), pós-graduado (Esmal). Seminarista e estudante de Teologia, no Seminário Arquidiocesano de Maceió. Membro do Amme e autor do Blog A Palavra em palavras, na Tribuna, desde 2011.