Alisson Barreto

BREVE MANUAL SOBRE A ORAÇÃO - PARTE IV

Alisson Barreto 11 de agosto de 2016
PARTE IV – A cristificante realização eucarística

Por Alisson Francisco

1.       A REALIZAÇÃO DA ORAÇÃO NA EUCARISTIA

A Eucaristia e, por conseguinte, a celebração eucarística realiza a oração de forma completa. Ainda que só seja, plenamente, compreensível na realidade celeste, já na Terra, o Céu vem ao encontro dos filhos de Deus. Na quarta parte deste breve manual, buscar-se-á apresentar de forma simplificada um pouco dessa realidade.

Quem crê na Palavra de Deus crê em Jesus Cristo e quem crê em Cristo crê em suas palavras. A esse respeito, ouçamos o que nos diz o Senhor: “Em verdade, em verdade, vos digo: aquele que crê tem a vida eterna. EU SOU O PÃO DA VIDA.” (Jo 6,47-48)

Eu sou o Pão vivo descido do Céu. Quem comer deste pão viverá para sempre. O Pão que Eu darei é a Minha Carne para a vida do mundo. (Jo 6, 51)

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Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a Carne do Filho do Homem e não beberdes Seu Sangue, não tereis a vida em vós. Quem come Minha Carne e bebe o Meu Sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia. Pois MINHA CARNE É VERDADEIRAMENTE COMIDA E O MEU SANGUE É VERDADEIRAMENTE BEBIDA. Quem come a Minha Carne e bebe Meu Sangue permanece em Mim, e Eu nele. (Jo 6,53b-56)

Toda a liturgia e toda oração do cristão é voltada para Cristo. Como Jesus Cristo ensinou, a Eucaristia é o próprio Cristo. Portanto, toda liturgia e toda oração do cristão se realiza plenamente na Eucaristia. Unidos em oração, em nome de Jesus Cristo, Cristo se faz presente e direciona para Ele próprio, pois Jesus Cristo é o Caminho. De modo que a vivência da oração é cristocêntrica (ou seja, voltada para Cristo, que é o centro) e, sendo cristocêntrica, é também voltada para a Eucaristia, presença real e visível de Deus em meio ao seu povo.

Note que, na Santa Missa, há duas mesas: a Mesa da Palavra e a Mesa da Eucaristia. Não há superioridade de uma sobre a outra porque em ambas está Jesus Cristo. Na primeira, Jesus Cristo é a Palavra de Deus que nos vem falar. Na segunda, Jesus Cristo é a Eucaristia que nos vem alimentar. A primeira prepara para a segunda, tendo em vista que a Palavra anuncia o Banquete do Cordeiro, ouve-se o Verbo para depois adorá-Lo e comungá-Lo, na Eucaristia.

Assim, na celebração (da Palavra ou da Eucaristia) há momentos de silêncio litúrgico, que preparam o cristão para a abertura e intimidade com Deus. Ao começar a celebração após o toque do sino (ou, se não houver, o canto inicial), cessam-se todas as conversas paralelas e todo o foco do cristão passa a ser a vivência da oração na celebração. Também é importante observar a importância do silêncio eucarístico, quando, ao receber a Jesus Eucaristia, calamos todas as nossas vozes para mergulhar no mistério unitivo pelo qual participamos da Comunhão, unindo-nos aos anjos e santos e a Nosso Senhor Jesus Cristo, na Comunhão Eucarística. Pessoalmente, o silêncio também antecede a comunhão, quando o cristão freia seus barulhos internos para adorar ao Senhor, presente visivelmente, na Eucaristia. Então, o fiel silencia e adora, recebe Jesus Eucaristia e silencia, diante do mistério eucarístico, mergulhando na Comunhão.

Na celebração, o fiel recebe bênçãos de diversas formas: (1) por participar do Corpo de Cristo, ao traçar o sinal da cruz sobre si próprio ele abençoa a si mesmo e, (2) ao receber a bênção do sacerdote, recebe a bênção do Cristo Cabeça.

Diante de Jesus Eucaristia, o cristão também realiza a oração de adoração, ora silenciosa ora com palavras. Com palavras, movimenta seu corpo a se pronunciar adorando; em silêncio, conflue todas as suas palavras para seu ápice silencioso, parando tudo para adorar. O Papa Bento XVI, no documento Sacramentum Caritatis, preceitua que adoramos para comungar e, na verdade, “pecaríamos se não O adorássemos”.

A Celebração da Eucaristia e a Celebração da Palavra também tem o momento das preces, além dos momentos de “oremos”, como no caso da oração do dia, também chamada de coleta (não confundir com ofertório). São momentos em que o cristão realiza as orações de intercessão e petição de súplica.

A Missa é uma celebração do sacrifício incruento de Cristo, Que Se deu por nós na Cruz, mas também é momento em que O louvamos, bendizemos, agradecemos e glorificamos. Eis, pois, que Celebração é também oração de ação de graças e louvor.

Quando rezamos o rosário, contemplamos os mistérios salvíficos e meditamos cada mistério ao longo de um pai-nosso e uma dezena de ave-marias, coroando o mistério contemplado e meditado com o ponto mais alto de cada mistério: glória. Isso porque toda a oração é para a honra e glória de Deus. Também na Celebração, busca-se honrar o Santo Nome do Senhor, a começar pelo respeito em não pronunciar o nome de Deus Pai e reverenciar com a cabeça toda vez que se pronuncia o nome de Jesus, bem como quando se citam as três pessoas da Santíssima Trindade, como no caso da oração chamada glória. Como se vê, na Celebração, não é apenas a alma espiritual que reza, mas também o corpo dedica-se à oração. Celebrar a Palavra e Celebrar a Eucaristia é, por conseguinte, ato do corpo e ato do espírito.

A alma espiritual do cristão dirige seu corpo de modo que ambos participam da celebração, preparando o cristão, todo, para se aproximar de Jesus Eucaristia. Não é um ato mecânico do corpo nem um ato do espírito que despreze o corpo; é um ato do homem todo.

Assim, os fieis ficam de pé para receber o presidente da celebração que lhes passará o ensinamento dos apóstolos (na pregação, se Celebração da Palavra, ou homilia, se Missa). No caso da Celebração da Eucaristia, a Santa Missa, o presidente da celebração é também o homem que age na pessoa do Cristo Cabeça e, por tal dignidade, oferece o sacrifício a Deus Pai, proferindo as palavras “por Cristo, com Cristo e em Cristo, a Vós, ó Pai”. Motivo pelo qual é o sacerdote, e somente ele, quem profere essas palavras e estende as mãos ao Pai. O próprio Jesus Cristo, o Sacerdote por excelência, no sacerdote oferece-Se ao Pai como sacrifício. Quando o sacerdote ergue as mãos e apresenta o sacrifício ao Pai, como também Jesus é erguido na Cruz, o sinal de salvação é visto pela assembleia, que O adora em sublime silêncio.

Ao ficarem sentados para ouvir a Palavra de Deus, os cristãos dirigem o próprio corpo para a posição adequada a ouvir o que o Senhor lhes falará. Ao ficar de pé, para a proclamação do Evangelho, os fieis se põem de prontidão para ouvir e acolher a boa-nova proclamada! Ao sentarem-se, novamente, colocam-se na humilde posição de discípulos que querem ouvir e apreender os ensinamentos dos apóstolos, passados pela pregação ou homilia.

A cada “oremos” (oremus) e a cada momento de preces, os cristãos se põem de pé para mostrarem-se unidos na voz que enleva a Deus as orações de petição de súplica e intercessão. Notando, porém, o seguinte: diante da súplica da oração eucarística, os cristãos se põem de joelhos em súplica para que Deus Se faça Eucaristia e adoração ao Deus Que Se faz Eucaristia. Levantando, após as palavras do padre, dizendo: (1) “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a Vosssa ressureição. Vinde, Senhor Jesus!”, ou (2) “Todas as vezes que comemos deste Pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a Vossa morte, enquanto esperamos Vossa vinda!”, ou (3) “Salvador do mundo, salvai-nos, Vós que nos libertastes pela cruz e ressurreição”.

Também convém observar que, na Celebração da Santa Missa ou na Celebração da Palavra, os cristãos fazem reverências de cabeça também ao nome da Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e diante do padre ou bispo, bem como fazem reverência de corpo quando passam em frente ao Altar, sacratíssimo local onde ocorre o sacrifício de Cristo e onde Ele Se dá por Alimento para que o povo de Deus tenha vida n’Ele. No momento da comunhão, diante do Santíssimo, pode-se fazer uma genuflexão ou comungar de joelhos, em respeito e adoração a Jesus Eucaristia, desde que por humildade, e não por orgulho, para se curvar diante de Deus, jamais para aparecer diante dos homens. Motivo pelo qual, o cristão deve sempre estar atento se convém ou não ajoelhar, fazer genuflexão ou receber em pé. O principal é que, por dentro, se dobre em respeitosa humildade e adoração. A prostração, em celebração litúrgica, fica reservada aos casos de ordenação e consagração, conforme ritos próprios.

A Santa Missa termina com o “ite missa est”, “ide em paz e o Senhor vos acompanhe!”. Ir acompanhado por Jesus é levar consigo Jesus aonde quer que o cristão vá, seja falando, seja silenciando, seja mostrando com o exemplo. Nosso Senhor Jesus Cristo disse que “quem come da Minha Carne e bebe do Meu Sangue viverá em Mim e Eu viverei nele”. Portanto, aquele que comunga é convidado a ser cristo em movimento, em socorro aos necessitados. A comunhão, portanto, não resume a união com Cristo apenas na celebração, mas uma união destinada a traspassar o tempo e o espaço, cristificando, cada vez mais o fiel e o mundo que o cerca. De modo que a Eucaristia motiva o cristão a ser Corpo de Cristo a evangelizar, orando e trabalhando, sendo sal da terra e luz do mundo para os homens.

Proferir as orações, durante a celebração, é realizar a oração vocal. Ouvir o que foi dito e as realidades do mistério eucarístico que vão se descortinando à medida que o fiel avança no caminho da fé é realizar a oração de meditação. Silenciar em adoração e aprendizado é realizar a oração de contemplação.

Na Eucaristia, encontra-se o caminho, a verdade e a vida da oração, encontra-se Jesus, Senhor Que Se faz presente nas espécies do Pão e do Vinho, em Corpo e Sangue, Alma e Divindade. A Eucaristia é presença real de Cristo; é alimento, centro, fonte e sustento de toda a vida verdadeiramente cristã. 

 

2.       Considerações finais

Amados, louvado seja Deus que nos reuniu nessa partilha. Que Ele nos ilumine a bem vivermos a oração, fazendo de nós próprios sinais e instrumentos de salvação! Que as meditações aqui apreciadas nos motivem a galgar mais profundamente os mistérios de nossa redenção, adentrando no Castelo Interior de forma mais profunda e substancial, até que nada mais em nós seja marcado pela corrupção, pois tudo em nós seja cristificado, plenificado para o Reino Celeste.

Grato pela paciência de ler esses escritos e muito mais grato ainda por saber que lês para aumentar a união com Cristo, Nosso Senhor!

 

Dado em Maceió, 11 de agosto de 2016.

No amor da Virgem Maria, Nossa Santíssima Mãezinha, e suplicando as misericórdias do Sagrado Coração de Jesus,

 

Alisson Francisco Rodrigues Barreto[1]

[1] Poeta, filósofo; bacharel em Direito, pós-graduado. Missionário católico leigo, em busca das coisas do Alto e buscando o encontro dos irmãos para que mais almas possam conhecer e acolherem o Salvador.