Alisson Barreto

BREVE MANUAL SOBRE A ORAÇÃO - PARTE II

Alisson Barreto 26 de julho de 2016

PARTE II – Corpo, espírito e ato

Por Alisson Francisco Rodrigues Barreto

1.       ATO DO CORPO E DO ESPÍRITO

O ser humano é composto de corpo e alma espiritual. Da mesma forma que a carne corrupta pode tentar o espírito, o espírito pode frear os anseios da carne, cristificando-a. Da mesma forma que o espírito corrupto pode levar a carne pela via pecaminosa, a determinação em direcionar a carne retamente pode frear e redirecionar anseios turvos dos espírito. De modo que as posições e a forma como lidar com o corpo podem contribuir para a cristificação do espírito do orante e as determinações do espírito também cristificam o corpo do orante.

 

2.       POSIÇÕES DE ORAÇÃO E ORAÇÕES COM O CORPO

2.1.    Sentado. A posição de sentado é típica do indivíduo que se coloca em humilde posição de aprendizado, motivo pelo qual os fieis se mantém sentados e com os ouvidos atentos para apreenderem a Palavra de Deus que chega a seus ouvidos, alimentando-os com a chama da fé.

2.2.    Em pé. Em pé é a posição de quem se coloca de prontidão, seja para ouvir o Evangelho proclamado; para levar as ofertas a Deu; dirigir-se para receber Jesus Cristo, na comunhão; ou para levar Jesus aos homens, em missão, após o término da missa, seja por meio da palavra, do agir misericordioso ou do exemplo silencioso.

2.3.    Deitado (caráter excepcionalíssimo). Deitado não é uma posição propriamente destinada à oração, mas em toda posição se pode rezar. Assim, os acamados não ficam impossibilitados de realizar suas orações, pois o silêncio de um corpo inerte também pode ser humilde utilização para a permanência e perseverança na oração.

2.4.    Em genuflexão. A genuflexão é uma espécie de ajoelhar-se; porém, levando um único joelho ao chão. Uma forma salutar de separar a genuflexão respeitosa da genuflexão adoradora é reservar o joelho direito para adoração e o esquerdo para reverências não adoradoras. A genuflexão pode ser realizada antes de comungar e deve ser utilizada quando diante do Santíssimo Sacramento no Altar.

2.5.    De joelhos. Ajoelhar-se é levar os joelhos ao chão e é, normalmente, utilizado para a adoração, podendo ser reservado para tal, se o fiel assim o desejar, o que lhe é muito válido e salutar. Assim, um indivíduo que se ajoelha para pegar algo no chão não realizada adoração; mas se ele se ajoelha para prestar culto a Deus, ele utiliza seu corpo para adorar ao Senhor. Motivo pelo qual, o ato de ajoelhar-se em culto deve ser destinado, exclusivamente, a Nosso Senhor.

2.6.    Prostração ajoelhada. A prostração é um ajoelhar-se com o acréscimo da inclinação do tronco em direção ao chão, humilhando-se diante de Deus de forma mais profunda. Assim, de joelhos o cristão humildemente adora e, prostrado, ele adora com ênfase em humilhar-se, buscando uma reverência mais aprofundada. O fiel ajoelha-se em, em seguida senta-se sobre seus calcanhares, em seguida, dobra seu tronco para frente e, curvando-o, leva a testa em direção ao chão, num ato de quem se reconhece indigno de levantar o olhar para Deus. Assim, o fiel se reconhece índigo de conduzir seu corpo a olhar para Deus, enquanto seu coração o direciona para Deus de forma mais sublime: na humildade.

2.7.    Prostração completa. A prostração completa segue a prostração simples (ajoelhada) e conduz o indivíduo o indivíduo à prostração máxima, deitando-se de bruços no chão, como a terra que se estira para que o Senhor caminhe sobre ela e sobre ela lance suas sementes para que os frutos alimentem e levem vida aos homens e a toda a criação. A prostração completa é utilizada em ordenações como um morrer para o mundo e nascer para Deus, abraçando a humildade e os valores das realidades celestes.

2.8.    Em reverência de corpo. A reverência de corpo é aquela em que o fiel dobra seu tronco em reverência ao altar, onde o Cordeiro de Deus é imolado e, na Cruz, exaltado para a salvação de nós homens. A sacralidade do altar leva o cristão ao zelo, evitando colocar objetos fora da liturgia e mesmo em relação ao toque, reservando tal toque ao sacerdote, na celebração do sacrifício eucarístico.

2.9.    Em reverência de cabeça. (1) Em honra ao Santo Nome do Senhor, o fiel curva sua cabeça toda vez que ouve Seu Santo Nome do Senhor Jesus sendo pronunciado. (2) Pela unidade intrínseca da Santíssima Trindade, toda vez que se pronunciam as três pessoas da Santíssima Trindade o cristão também faz reverência de cabeça, como no caso da oração do glória. (3) Pela unidade filial e cumprimento ao mandamento do honrar pai e mãe, também se faz reverência de cabeça ao se pronunciar o nome de Maria Santíssima. (4) Tendo em vista que o bispo e o padre agem em nome do Cristo cabeça, em respeito a essa excelsa dignidade, também se faz reverência de cabeça quando se passa diante do padre ou bispo.

 

3.       ORAÇÃO E TRABALHO

3.1.    Retirar-se para orar. É muito importante reservar um tempo para o ato desértico de retirar-se para oração, buscando o diálogo com Deus. Aquele que fica sozinho com Deus jamais se sente solitário, pois está na companhia dos anjos e santos. Quando um cristão se retira para rezar o rosário, a Virgem Santíssima educa-o e guia-o no caminho cristificante de forma sábia e salutar, pois o filho que busca a Mãe Santíssima ele o faz como Corpo de Cristo, portanto, está sozinho fisicamente, mas ele está com a igreja e ambos estão com Cristo. A unidade formada por meio da oração permite que se ore por aqueles que estão distantes. Retirar-se para silenciar e dialogar com Deus é um ato belo, humilde, dedicado, revigorante e enriquecedor ao espírito.

3.2.    Orar e trabalhar. Orar é um ato que se pode fazer em qualquer circunstância. Ao cristão que se retira para rezar, não é correto se permitir distrações que lhe prejudiquem o foco orante. Ao contrário, o fiel deve mergulhar o mais profundamente no mistério da oração. Orar e trabalhar só é bem-vindo no sentido de preparar-se para o trabalho por meio da oração e, por meio da oração, consagrar o trabalho que se fará.

3.3.    Trabalhar e orar. Trabalhar e orar é o ato de quem, ocupando-se com algum afazer, encontra espaço para, de alguma forma, exercitar a oração.

Valem as máximas “ora et labora” de São Bento, por meio da qual ele motiva os fieis a se ocuparem tanto com o trabalho como com a oração, e a de São Gregório Nanzianzeno: “é preciso lembrar-se de rezar com frequência maior do que se respira”.

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Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo, bacharel em direito, pós-graduado; autor do blog A Palavra em palavras desde 2011.

 

Faltam apenas duas partes. Boa leitura!

PS: Amanhã (27/8/2016), parte III - Da liberdade às expressões de oração