Alisson Barreto

SÍMBOLOS RELIGIOSOS E IMUNIDADE NUM ESTADO LAICO

Alisson Barreto 22 de julho de 2016

SÍMBOLOS RELIGIOSOS E IMUNIDADE NUM ESTADO LAICO

Por Alisson Francisco

 

(Obs.: caso não consiga visualizar o vídeo ou queira assistir a ele de forma apartada, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=OagHAhMH-Jg )

 

Algumas pessoas incomodam-se com símbolos cristãos em prédios e automóveis públicos, mas será que eles, realmente, afrontam o estado laico?

No Brasil, o símbolo mais característico das ambulâncias sempre foi a cruz. Por motivos não apenas religiosos como também históricos, todas as ambulâncias tinham uma cruz vermelha pintada ou plotada, na lataria e vidros. A razão disso é facilmente compreendida quando se percebe que as primeiras instituições beneficentes, no Brasil, foram trazidas pela Igreja Católica, de modo que apresentavam o crucifixo e, por conseguinte, a cruz como sinal de cura e salvação. Ademais, por um tempo, o estado brasileiro era professional e havia união entre estado e Igreja. Portanto, a cruz em ambulâncias e prédios públicos, como no caso dos tribunais, tem uma razão histórica tanto em relação ao tempo quanto em relação ao serviço aos necessitados de assistência de saúde e social.

 

No caso dos tribunais, ao contrário do que muitos pensam, o Crucifixo e, por conseguinte, a cruz, eram colocados nas paredes não por simples veneração ou sinal de adoração dos membros dos tribunais, mas como um sinal da necessidade de se fazer justiça e se evitar a injustiça. Não se pode esquecer que Jesus Cristo foi um inocente condenado como o mais terrível dos criminosos; a mais humilhante e dolorosa condenação lhe foi aplicada, após um julgamento sem direito ao contraditório e ampla defesa; tornou-se um sinal de alerta aos julgamentos e de salvação reconfortante aos que creem em sua ressurreição. De modo que a cruz nos tribunais remete à necessidade de se cuidar para não condenar inocentes, dando direito ao contraditório e à ampla defesa e evitando penas desumanas ou cruéis.

Como veem, o Cristianismo fincou raízes e lições de serviços sociais, cuidados médicos e aplicação da justiça no coração da história pátria. Negar o exemplo que os antepassados deixaram não é um mero deixar de utilizar sinais religiosos, mas uma negação de sua própria história e uma evidente declaração de ingratidão.

Tanto nos aspectos supramencionados como no bem consciencioso que a fé cristã confere ao cidadão, confundir a ação beneficente dos cristãos com as entidades de captação monetária que usam a palavra igreja para captar recursos pecuniários é prejudicial ignorância ou má fé. O problema maior se dá quando, constatando os interesses de lucro das falsas igrejas, alguns defendem o fim da imunidade tributária dos templos, situação na qual, mais uma vez, se dispõem a punir o justo pelo pecador. A situação se agrava quando ateus, por intrínseca aversão à Igreja, empenham-se em usar de seus espaços para ignorar as ações benevolentes das igrejas propriamente ditas, sob argumentos que só se aplicam às falsas igrejas.

No que diz respeito à imagem propriamente do Jesus Crucifixo nos Tribunais, vale dizer que não se pode atacar a utilização de tal imagem sob o argumento de utilização de símbolo religioso nem por incomodar-se com tal escultura. Isso porque é comum nos prédios públicos comum quadros com imagens de prefeitos, governadores e presidentes, bem como de bustos de personalidades históricas. No caso dos tribunais e outros prédios relativos ao Direito, é comum a colocação de estátuas de deusas pagãs, como Têmis (olhos vendados, representando a imparcialidade da justiça) e sua filha Diké (olhos abertos, representando a justiça social), mãe e filha, na mitologia grega.

No que tange à cruz, nos hospitais e ambulâncias, convém lembrar que era utilizada desde os primórdios de nossa pátria, antes mesmo da existência de ambulâncias e, obviamente, muito antes da paganização ou mesmo do surgimento da entidade denominada Cruz Vermelha. Vale dizer que a Cruz Vermelha começou usando o símbolo cristão da cruz e, depois, para alcançar os povos muçulmanos e judeus, adotou também a lua e a estrela, todos na cor vermelha. Enquanto a instituição denominada Cruz Vermelha surgiu em 1863, durante a I Guerra Mundial, a cruz de quaisquer cores ou de nenhuma cor já era utilizada pela Igreja. Motivo pelo qual, a cor da cruz também não é motivo para que se tirassem das ambulâncias e prédios públicos. A cor vermelha era também utilizada por movimentos eclesiais, de modo particular o dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, como se pode obervar em sua bandeira. O Movimento do Sagrado Coração de Jesus se originou com a aparição do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque, em 27 de dezembro de 1673. Portanto, quase dois séculos antes da entidade Cruz Vermelha.

Como se vê, amados, a utilização de símbolos cristãos em países como o Brasil são, ao mesmo tempo, um motivo histórico, o reflexo da fé de um povo e também uma motivação à vivência virtuosa, com enaltecimento de valores como justiça, ação social, médica e misericordiosa.

Um santo fim de semana a todos!

Paz e Bem!

 

Dado em Maceió, 22 de julho de 2016.

Alisson Francisco Rodrigues Barreto*

 

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*Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo; bacharel em Direito, pós-graduado. Missionário católico laico. Autor do livro Pensando com Poesia e do blog-vlog "A Palavra em palavras".