Alisson Barreto

DAS DUAS DIMENSÕES DO AMOR E SEUS TRÊS PLANOS AOS CUIDADOS COM A SAÚDE

Alisson Barreto 22 de setembro de 2015

Maceió, 22 de setembro de 2015

DAS DUAS DIMENSÕES DO AMOR E SEUS TRÊS PLANOS AOS CUIDADOS COM A SAÚDE

Exercitar-se como reflexo do amar!

O que me diz de se cuidar como forma de exercitar o amor?

1. O amor a si próprio

Os cristãos tomam como base o mandamento de amar ao próximo como a si mesmo, em resumo aos sete últimos mandamentos do decálogo. No entanto, que tipo de motivo a amar outrem teria alguém se não amasse a si próprio? Ora, ao pé da letra, a quem pouco se ama pouco restaria para amar a outrem, já que o preceito se cumpre em amar tal qual, não mais quê. Convenhamos, não descumpriria o preceito de amar ao próximo como a si mesmo aquele que não se ama. Amar-se, eis a questão!

Você sabia que não cuidar da própria saúde e falhar no cumprimento do mandamento de não matar? A falta para com o dever de cuidar de si próprio, não raro, toma ares de suicídio indireto. Isso ocorre, por exemplo, no caso do diabético que insiste em comer doces, do hipertenso que abusa do sal ou do alérgico a uma comida que deliberadamente persiste em comê-la.

O suicídio, é verdade, pode sustentar-se numa fuga da vida decorrente de uma visão pessimista do mundo ou de uma demasiada desesperança na vida. O suicídio pode resultar de uma crença equivocada, como no caso dos mitos da reencarnação e o das 72 virgens, a levar um indivíduo a exterminar-se na expectativa de uma nova vida. São casos de falta de amor ou falha no amar, por insuficiência do ânimo ou deturpação do foco de amar.

O Amor em Si é perfeito, mas as nossas formas de amar por nós mesmos são sempre falhas, imperfeitas. Só no Amor é possível amar; só no Amor é possível tornar-se amor. O amor é sempre alteridade e encontro, e não se cumpre plenamente até que seja todo no Todo, todo no Amor, todo no Eu Sou.

2. O amor ao próximo

O amor leva ao encontro com o outro. Só quem está bem consigo próprio pode, em sinceridade, amar ao próximo. Aquele que vai a outrem pelo que ele tem a oferecer não ama ao próximo, ama só a si mesmo; está investindo, não amando.

O amor leva a transcender-se. Num primeiro momento, ao superar as barreiras do comodismo para fazer-se melhor, assim se realiza no ato de amar a si próprio; num segundo momento, rompendo as barreiras do egoísmo para proporcionar bem a outrem; e por fim, o estágio de amor que dá sentido a todos os outros, no qual o indivíduo cristifica-se, imergindo no Amor até ser todo amor por participação no Amor.

O amor ao próximo, desde que nos limites do amor, trabalha o indivíduo no desapego de si próprio para levar ao outro o bem que se quer a si próprio, essa é a regra de ouro! O ato de levar amor a outrem traz o Amor a si e faz de si próprio instrumento de amor a santificar o próprio agente do ato de amar. O bom odor de amar impregna de bom cheiro aquele que ama!

O cuidado com a saúde, nessa perspectiva, é um cuidar de si para poder melhor proporcionar o bem a quem ama. Cuidar de si para ter saúde suficiente para proporcionar o bem é, dessarte, um ato de amor. Nesse aspecto, por exemplo, aquele que faz atividade física para ter saúde para cuidar dos doentes, nisso, exercita o amor pelos doentes; o pai ou a mãe que faz caminhada para ter um coração firme para cuidar da família, dedica amor à família.

3. O amor a Deus

O amor a Deus é o centro, o destino, o sustento e o ápice da realização de todo amor. Não há verdadeiro amor se não levar para Deus! Fora de Deus todo amor é falho, imperfeito e sujeito aos revezes da imperfeição.

A dimensão do amor a Deus é um eixo onde se realizam quaisquer formas verdadeiras de amor. Só em Deus o amor encontra sua realização! As rosas deixam cheiro de flores nas mãos de quem as oferece; o amor faz mais que isso, transforma em amor aquele que ama em Deus.

Foi Deus, que é o Amor por Excelência, Quem criou tudo em perfeição, no Amor e para o Amor. Os dois outros planos de amor, os concernentes ao eu e ao próximo, esbarram nas questões dimensionais do amor. Explico:

O amor tem duas dimensões: uma vertical, na qual Deus vem ao nosso encontro e nós respondemos a Deus indo ao encontro d'Ele; e uma horizontal, na qual, cheios de Deus, vamos ao encontro do próximo e também ao profundo de nosso ser.

Portanto, para a realização da dimensão horizontal requer-se a imersão na dimensão vertical. De modo que, para viver bem cada um dos planos do amor é necessário viver bem suas duas dimensões.

Trocando em miúdos, exemplifico: para viver bem o plano do amor a si próprio, é fundamental que se viva bem as dimensões de amar a Deus acima de tudo, (1) indo ao encontro d'Ele e se entusiasmando com a iniciativa Pneumática e (2) indo ao encontro dos outros seres humanos para levar a eles o Amor Pneumático (do Espírito Santo de Deus). Isso porque as duas dimensões do amor são necessárias à perfeição do amar que, por sua vez, fará do ente que ama amor! Assim, o indivíduo que vai ao encontro de Deus e, em Deus, vai ao encontro do próximo faz mais bem a si próprio do que o que só vai ao encontro de si mesmo. Ou seja, aquele que é capaz de sair de si acaba beneficiando mais a si do que o que só quer beneficiar a si. Aquele que teme morrer morrerá e aquele que nega a si para que Cristo viva nele encontra a Vida!

No caso da atividade física, ela passa a ser uma declaração de amor a Deus quando exercida como instrumento de cuidados ao corpo criado por Deus para ser nosso corpo! O homem é corpo e alma, ambos criados por Deus e ambos devem ser cuidados por amor a Ele.

Nessa explanação, observa-se como cuidar da saúde do corpo e da alma são duas dimensões do exercício de amar, quando feitos por amor!

Em suma:

Há duas dimensões do amor: vertical e horizontal, cf. eixo de relação de si com Deus ou de si com o outro.

Três planos do amor: a si próprio, ao outro e a Deus, cf. relação intrapessoal, inter-humana e teocêntrica.

Cada plano realiza suas dimensões.

Duas dimensões do homem: corpo e alma espiritual. Considerando a alma humana como sendo a alma com espírito, tendo em vista que os animais têm alma sem espírito e os anjos têm espírito sem corpo.

Portanto, verdadeiramente, amar-se é cuidar de si próprio como um todo criado por Deus, zelando pelo corpo e pela alma, fazendo-se instrumento do Amor que conduz a Deus e o leva ao próximo, levando também Deus ao próximo e motivando a conhecer o nosso interior para, com isso, também amarmo-nos a nós mesmos! A conhecer o próprio interior e a enxergar o interior do próximo, passando a melhor conhecer os demais e a si mesmo, realizando o amor em cada um de nós.

Amar é uma caminhada no Amor, fazendo do caminhar no ato de amar um instrumento transformador do caminhante, transformando o próprio indivíduo em amor, por participação no Corpo de Cristo, o Caminho, a Verdade e a Vida. Amar transforma o criado em filho no Filho, ser no Ser, amor no Amor! Amar é o agir mais sublimamente inclusivo, amar é sair da periferia humana para a imersão no Reino dos Céus.

Paz e Bem!

Alisson Francisco Rodrigues Barreto*

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*Poeta, filósofo, bacharel em Direito, pós-graduado. Autor do blog A Palavra em palavras, o qual está disponível em http://www.tribunahoje.com/blogs/51/a-palavra-em-palavras , desde 2011.