Alisson Barreto

TUDO BOM OU TUDO BEM?

Alisson Barreto 11 de agosto de 2015
Tudo bom ou tudo bem?

Provavelmente, você já observou que há pessoas que se cumprimentam e perguntam “tudo bom?” e outras que perguntam “tudo bem?”? Será que há diferença substancial nessa pergunta?

Quero, estimado(a) leitor(a), chamar atenção, de modo particular, à relação entre adjetivo e substantivo, notadamente existente entre o bom e o bem, respectivamente.

Pasme, entretanto, vou demonstrar que nem tudo que é um bem é algo bom e nem tudo o que é bom  corresponde a bem.

A palavra bom (do latim bonus) remete a o que apetece o indivíduo, o que lhe lhe agrada o(s) sentido(s), que dá sabor, prazer, boas sensações… Já a palavra bem (do latim bene) remete a algo anterior à realidade dos sentidos: a realidade substancial, a da essência.

Há, porém, não confunda, uma diferença significativa entre (1) a substantivação da palavra bom e (2) a objetificação (coisificação) do bem. Por exemplo: ao dizer que Fulano é o bom (bom substantivado) e tem bens (bem objetificado). Também se pode dizer que o bom faz o bem (advérbio). Quando uma pessoa faz um bem a outra, ela proporciona algo bom e, por tal algo bom, comumente passa a ser considerada uma boa pessoa. O bem causa uma sensação boa e sua prática reiteradas por uma pessoa a identifica como uma pessoa boa. Assim, por produzir goiabas diz-se que tal árvore é uma goiabeira. Da mesma forma, quem pratica costumeiramente o bem exercita virtudes e quem pratica o mal, vícios.

Quando um indivíduo experimenta uma droga psicotrópica (ex.: cocaína, craque, maconha etc.), ele tem sensação de prazer e, portanto, pode descrever tratar-se de algo bom. Entretanto, não poderá dizer que se trata de um bem, pois gera vício, acarretando uma dependência caracterizada pela prática reiterada (e, costumeiramente, compulsiva) de algo que não causa bem ao seu organismo, além de lhe retirar uma de suas características mais fundamentais: a liberdade.

Quando se diz tudo bom, diz-se que tudo está sendo agradável aos sentidos, apetecendo, que suas sensações causam bem-estar. Quando se diz tudo bem, significa que as coisas estão corretas, em paz, funcionando adequadamente.

O bom remete ao gosto, o bem à correição e perfeição; aquele nos leva ao bem-estar, mas o bem nos leva ao ser bem. O agir pelo bom é buscar ou produzir sensações que apetecem, o agir pelo bem implica praticar atos que realizam como ser. Assim, o bem é relacionado com a essência da pessoa e a enriquece; o bom é relacionado com os frutos, é consequência. O bom tende a ser temporário e o bem tende a eternizar.

O oposto de bom é o ruim, o mau, o desgostoso; o de bem é mal, corrupção. Porém, notadamente, algo pode ser ruim e causar um bem, como no caso de um remédio amargo ou uma cirurgia de recuperação dolorosa.

O feminino de bom é boa e de mau é má; já no caso da palavra bem e mal é invariável. Sendo que os plurais daqueles são bons, boas e maus, más; e os dos demais são bens e males. Portanto, poder-se-ia até questionar o ditado “há males que vêm para o bem”: não deveria ser “há coisas más que vêm para o bem”? Ao menos, no fundo, é o que se entende diante de um pós-operatório ou de um chá para curar uma enfermidade: pode ser algo ruim, mas é para o bem! Bem diferente do que ocorre com as drogas ou o excesso de comida: podem até ser bons, mas são terríveis males. Por ex.: um diabético que se empanturra de doces, pode até se satisfazer no paladar, mas pode até morrer pelo mal que fez a si próprio. Ao contrário, um choque de reanimação a um paciente pode trazê-lo de volta à vida. Da mesma forma, uma palavra impactante que até pareça “forte, pesada”; pode ser o amor curativo na vida de uma pessoa! Afinal, nem sempre uma pessoa acorda com uma palavra doce ao ouvido; nalgumas vezes, é importante que o despertador toque.

Pois bem, que tipo de dia queremos desejar aos nossos amigos e pessoas amadas?

E você, como está? Tudo bem? Tudo bom? Tudo em paz!

Paz e Bem!

Dado em Maceió, 10 de agosto de 2015.

Alisson Francisco Rodrigues Barreto[1]

[1] Poeta, filósofo; bacharel em Direito, pós-graduado. Autor do blog A Palavra em palavras desde 2011.