Alisson Barreto

A PERDA DE VALORES E A DESCONFIGURAÇÃO DO HOMEM

Alisson Barreto 16 de abril de 2015

A perda de valores e a desconfiguração do homem

A primeira pergunta a convir é o que se faz valorar os valores? Em que sentido poder-se-ia dizer que há perda de valores? Como e até ponto se pode falar em depreciação do homem?

Obviamente, o leitor já deve ter indagado sobre a questão filosófica típica dos valores: que são eles? Ora, primeiramente, é rigoroso não confundir valor com preço, dado que este limita à condição física de um objeto; enquanto o valor remete a concepções axiológicas e, por conseguintes, de moral, menos temporal e com maior teor de subjetividade. O comércio delineia os patamares dos preços, mas não dos valores. Os valores remetem mais aos princípios que às regras, bem como dizem mais respeito à natureza do que as condições momentâneas; os preços são mais decorrentes das situações do que da natureza.

Disso, brotam respostas à primeira questão suscitada. Valor, etimologicamente, vem do latim valere, pelo qual tem um sentido de estar bem, ter saúde e que remente ao axiológico, do grego axios, que significa precioso. Enquanto o custo remete ao preço, o valer remete à qualidade inapreçável. Há bens menores, aos quais se pode atribuir preços e que podem se valorizar ou desvalorizar, e bens maiores, aos quais se atribuem valores, os quais podem ser valorados ou desvalorados.

Valorar é agraciar com valores que não se restringem às limitações de preço; ao contrário de valorizar, valorar é inapreçável.

O homem, em sua natureza de ente criado pelo Ato Puro à Sua imagem e semelhança e vocação a ser por participação, nunca tem seu valor extinto. Fato este que desemboca no termo: dignidade da pessoa humana.

Não obstante, o ser humano – ao afastar-se do Ser (Ato Puro, Deus) – desvalora-se, em decorrência de sua escolha por desassemelhar-se do Ser. Fato que não lhe retira a condição de ente chamado a ser Ser por participação no Ser – visto que continua sendo ser humano, pois não pode retirar de si a própria natureza –, mas remete-o a uma certa desconfiguração que o afasta da condição celestial participativa, por optar pela não participação. Ou seja, escolher o Inferno, em vez de o Céu.

O ser humano é chamado, vocacionado, a configurar-se ao Ser e tal configuração só é possível por meio da participação no Corpo do Ser que Se fez homem: Jesus Cristo. Tal configuração é moldada por meio dos sacramentos e vivência sacramental, com os quais o insere numa reconfiguração a qual chamamos de cristificação ou santificação. Cristificação porque o processo de fazer-se participar cada vez mais no Corpo de Cristo fá-lo ser mais “cristo”, ou seja, participante do Corpo de Cristo de forma cada vez mais fiel. Santificação porque só o Ato Puro é santo e só Cristo é santo, de modo que a cristificação é um processo de santificação do ser humano, meio sem o qual não se entra no Reino dos Céus, ou seja, meio pelo qual se torna santo por participação no Santo.

Ao Se dizer o Caminho, Jesus Cristo revela-Se como Ser que reconfigura o ente a inserir-se no Ser, tendo como consequência a Vida em seu sentido mais alto: felicidade eterna.

Noutras palavras, o Ato Puro fez o homem à sua imagem e semelhança, mas como o homem pecou (agiu em modo que corrompe sua configuração), Ele próprio veio reconfigurar o homem, fazendo-Se instrumento, Sacramento de Configuração, perdoando os pecados e inserindo o indivíduo no Corpo do Cristo: Aquele que é a Perfeita Imagem de Deus Pai. Ou seja, o Deus Filho (Jesus Cristo) é a imagem visível do Deus invisível. Isso demonstra, portanto, que o Cristo é a imagem que reconfigura o homem para que este passe a ser imagem restaurada, nova imagem daquele que foi criado à imagem de Deus. Ou seja, a Palavra que tudo criou fez-se imagem para restaurar a imagem do homem, para que este não se perca na condenação de não poder mais participar do Ambiente Santo e Eterno, o Céu, após a morte e ressurreição.

Lamentavelmente, nosso povo tem se afastado da imagem de Deus, optando por caminhos decadenciais, depreciativos; optando, não raro, por viver de forma mais coadunada com os anjos decaídos do que com os celestes, em vidas mais depreciadas do que enlevadas.

Resta-nos, pois, reacender a chama do amor de Deus em nós mesmos e tornarmo-nos tempero salutar à felicidade, à salvação humana, a começar pela nossa!

Paz e Bem!

Dado em Maceió, 16 de abril de 2015.

Alisson Francisco Rodrigues Barreto[1]

[1] Poeta, filósofo; bacharel em Direito, pós-graduado. Servidor público. Missionário católico leigo.