Política

“Acordo não contempla a categoria’, diz presidente de sindicato de caminhoneiros

Propostas do governo de Michel Temer deixam a desejar e categoria insiste na paralisação nas rodovias

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 26/05/2018 10h19
“Acordo não contempla a categoria’, diz presidente de sindicato de caminhoneiros
Reprodução - Foto: Assessoria
A greve dos caminhoneiros tem gerado uma série de situações desconfortáveis, tanto para a população, devido ao valor do preço dos combustíveis, quanto ao Governo Federal que, diante do impasse entre manter sua política de preços na Petrobras, perdeu a queda de braço com a Câmara dos Deputados sobre a redução do PIS-Cofins. Na noite de quinta-feira (24) foi anunciado aos quatro ventos que a greve tinha terminado, após acordo feito com representações sindicais dos caminhoneiros. Contudo, isso não passou de “fake news”. À Tribuna Independente, o presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens de Alagoas (Sindicam), Valdir Kummer, diz que o acordo não chegou nem perto do que deveria. “A manifestação deve continuar”. Alagoas conta com quatro pontos de mobilização. Tribuna Independente – O acordo apresentado nesta quinta-feira não contemplou as demandas dos caminhoneiros, ao menos de boa parte, não é? Valdir Kummer – Não. Não contemplou. Deixou muito a desejar e acredito que a manifestação deve continuar, praticamente, em todo o Brasil. Tribuna Independente – O acordo não contemplou em quê, o valor da redução do óleo diesel foi abaixo do esperado? Valdir Kummer – Abaixo do esperado. A remuneração financeira que o pessoal queria, diminuição do valor do óleo diesel, não chegou nem perto do que deveria ser. Tribuna Independente – Além do preço do óleo diesel, quais são as demais pautas de reivindicação dos caminhoneiros? Valdir Kummer – A principal causa mesmo é esse aumento abusivo do óleo diesel. É isso aí que tornou inviável o transporte. Já estava difícil, agora ficou bem pior. Tribuna Independente – Encareceu muito o custo do transporte de carga? Valdir Kummer – Muito. Essa é a principal causa. Tem outras coisas aí. Alguém botou faixas que não tem relação alguma com o movimento. É apenas a opinião particular de algumas pessoas que, pode até ser minha opinião também, mas não tem relação com o que estamos fazendo aqui. Tribuna Independente – O senhor se refere às faixas por intervenção militar? Valdir Kummer – Isso. Aquilo é uma situação particular de alguém. Não tem nada a ver com o movimento. Tribuna Independente – Até por que pode ter caminhoneiros que não sejam favoráveis à intervenção militar... Valdir Kummer – É. Eu posso até concordar, mas não estou aqui para isso. Estou aqui para outra coisa. Nossa causa aqui é outra. Tribuna Independente – Tem gente colocando essa greve como locaute, quando são as empresas que suspendem os serviços. Esse movimento é locaute? Valdir Kummer – Não, não. Isso aqui não tem nada a ver com empresa. Isso aqui foram dez caminhoneiros autônomos que vieram me procurar, para eu dar uma força e acompanhar a movimentação. Tranquilamente eu vim com eles e começamos a mobilização aqui. Tinha só dez pessoas. Abrimos esse movimento e começamos a atracar os caminhões. Os próprios caminhoneiros desciam dos caminhões e aderiram ao movimento e começaram a atracar outros. Foi assim que o movimento cresceu. Tribuna Independente – E até onde o movimento está disposto a ir, pois já há informações de problemas com abastecimento, principalmente de gasolina? Valdir Kummer – Olha, isso aí depende do governo. Ele tem de abrir mão, conceder alguma coisa. Enquanto não mudar a situação do transporte, principalmente para o caminhoneiro autônomo... Alguma coisa tem de ser feita, do jeito que está não pode continuar. Porque amanhã ou depois, vem a policia rodoviária e manda o cara encostar e não deixa mais rodar por causa de pneu careca, liso. Já tem muitos assim. O pneu está assim devido à situação financeira, e não porque o caminhoneiro quer. Então, é uma falta de respeito com a categoria. Tribuna Independente – É um conjunto de fatores, então? Valdir Kummer – Exatamente. Acredito que o caminhoneiro não tem de pagar a conta de desmando do país, de má governança dos últimos dez ou quinze anos. Ele não é responsável por isso, é vítima. E ainda tem de pagar, além de ser a vítima? Está errado. E não é só o caminhoneiro, é com um bocado de classe no Brasil. Tribuna Independente – Tem muita gente comparando essa greve de agora com a anterior, de alguns anos atrás, ainda no governo Dilma Rousseff (PT). O que tem de semelhante e de diferente nessa de agora? Valdir Kummer – Essa greve, particularmente, é do caminhoneiro mesmo. Não é de sindicato, nem de movimento nenhum. Ela é só – exclusiva mesmo – da categoria. O próprio caminhoneiro que se prontificou a fazer isso. E ele, o caminhoneiro, mesmo que algum sindicato queira abrir, acordar com o governo, a categoria, no geral, acredito, não está satisfeita e não deve aceitar e suspender a paralisação. Tribuna Independente – Tem um viés mais de problema da categoria do que a questão política? Valdir Kummer – Na verdade, isso não é uma greve. É uma paralisação. Não adianta a polícia vir aqui... Não existe isso de você querer obrigar alguém a trabalhar. Você já viu isso? A escravidão acabou. Você trabalha se quiser. Estamos num país livre. Ninguém pode chegar aqui e dizer ‘você vai ter que andar’. Isso não existe. Tem de ter respeito pela pessoa, principalmente por quem trabalha. Nos últimos anos, aqui no país, parece que quem trabalha não tem mais valor. Tribuna Independente – Parte desses aumentos constantes no combustível que temos tido nos últimos dois anos é reflexo da mudança da política de preço da Petrobras, que adotou a cotação do mercado internacional. O senhor acredita ser possível rever esses aumentos sem rever essa política? Valdir Kummer – Acho difícil porque é um compromisso assumido pelo Governo Federal. Agora, minha pergunta é a seguinte: se o dólar baixasse a R$ 1,50, se o petróleo viesse a $40 ou 50 o barril, o combustível iria baixar na mesma dimensão? Eu duvido. Pago para ver. Isso não iria acontecer. Quando é para subir o preço a favor do governo ou da Petrobras tudo funciona, mas quando é para baixar o valor do combustível em favor da categoria, isso não existe.