Política

Undime quer Fundef para a alfabetização

Marcelo Beltrão, presidente da entidade, destaca que precatórios do fundo devem ser investidos em área específica

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 20/01/2018 08h59
Undime quer Fundef para a alfabetização
Reprodução - Foto: Assessoria
Mais de 80% das crianças alagoanas possuem capacidade insuficiente de leitura, segundo dados da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA). Sem conseguir ler e interpretar textos adequadamente, os estudantes tendem a não avançar nas séries escolares e a abandonar os estudos. Diante da necessidade de melhorar a qualidade da alfabetização em Alagoas, a União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) em Alagoas tem defendido que essa fase do ensino seja prioridade e que os recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) sejam usados exclusivamente nessa área. Tribuna Independente – Recentemente, tem havido debate sobre o destino dos precatórios do Fundef, se totalmente destinado à educação ou podendo ser usado em outras áreas. O senhor tem defendido, e buscou diálogo com o Ministério Público Estadual (MPE), que os recursos sejam usados apenas na educação. Por quê? Marcelo Beltrão – Os precatórios do Fundef ainda se encontram em grande parte bloqueados, ao menos os que são provenientes da ação coletiva da AMA [Associação dos Municípios Alagoanos], e deverão ser julgadas agora na volta do recesso forense. Eles são o que a União deixou de repassar aos municípios e eles tiveram de colocar contrapartida maior naqueles anos. Eram recursos para a educação. Houve muita discussão sobre isso, inclusive aqui no Tribunal de Contas do Estado [TCE]. A educação precisa de investimento para tirar Alagoas dos últimos lugares nos indicadores nessa área no país. Alagoas compete, em todos os anos e em todas as avaliações, com o Maranhão nas últimas colocações. A gente não terá outra oportunidade como esta. Já estive com o Alfredo Gaspar [procurador-geral de Justiça] para conversar sobre os dados e indicadores e também com a Niedja Kaspary [procuradora da República] e tento avançar no sentido de mostrar que o gerador dos péssimos indicadores é o péssimo resultado na etapa de ensino da alfabetização. Alagoas não consegue, e aí não é só aqui, bons números na ANA, feita nos anos pares. O último ano avaliado foi 2016 e média do estado foi de pouco mais de 80% com nível insuficiente de alfabetização. Tribuna Independente – A alfabetização é o principal gargalo da educação nos municípios? Marcelo Beltrão – É. Veja, se eu tenho 80% das crianças saindo do terceiro para o quarto ano sem saber ler e escrever, além de nenhum fundamento de matemática, que só se aprende se souber ler e escrever, como a gente pode esperar que nas próximas etapas de ensino elas consigam ter sucesso? Elas vão entrar ou numa etapa de aprovação automática, em sua grande maioria, ou num ciclo de reprovação e retenção, fazendo com que ela avance na idade, mas permaneça na mesma série, gerando distorção idade/série... Tribuna Independente – Isso também gera evasão escolar... Marcelo Beltrão – Sim. Na medida em que vai avançando a idade, e essas crianças não conseguem passar de ano, se gera desmotivação e não vai dando condições necessárias para que elas cheguem ao nono ano – obrigação dos municípios –, assim não se tem acesso ao ensino médio nem ao superior. É isso que está sendo produzido na educação pública. Tribuna Independente – E essa questão dos recursos do Fundef, o senhor tem feito o debate de priorizar a alfabetização... Marcelo Beltrão – Priorizar a alfabetização. Temos 40 municípios com essa disponibilidade e estou tentando encaminhar essa demanda com o secretário de Estado da Educação Luciano Barbosa. Falei com ele, nesta semana agora, sobre todo esse histórico e o mal que provoca a má alfabetização, e como Governo do Estado e municípios pode resolver essa problemática. Acredito eu, resolvendo o problema da alfabetização, fica mais fácil melhoras os indicadores educacionais do estado. Tribuna Independente – Conseguir recurso é a maior dificuldade para melhorar essa realidade? Marcelo Beltrão – Na verdade, a maior dificuldade é um plus de recurso e gestão. Nós precisamos de formação continuada, de que a gestão para educação tenha olhar maior para a avaliação e supervisão pedagógica. Tem de acompanhar, cada vez mais, o passo a passo do ano letivo e deixar de esperar que o resultado só seja observado no final do ano: aprovação ou reprovação. Tem de implantar uma cultura de avaliação sistemática, tem de ter material que se adeque à realidade do professor. Paralelo a isso, a cobrança cada vez maior na frequência, criar um clima para que o aluno participe mais da escola, que reduza a evasão. Hoje temos uma grande problemática no financiamento da educação porque a maioria dos recursos está comprometida com a folha de pagamento. Uma das soluções é recurso e saber como ele deve ser investido, como material didático; formação do professor; e em gestão. Tribuna Independente – Como a Undime tem atuado junto aos municípios nesse quesito, de melhorar a gestão? Marcelo Beltrão – Nós elegemos em nossos seminários a alfabetização como prioridade para este ano. Falei na última segunda-feira [15] aqui na reunião da AMA que discutiu financiamento para que os prefeitos acompanhem seus secretários de educação, no sentido de dar atenção especial à alfabetização. A Undime funciona como facilitador e indutor da boa política de aprendizagem e da melhoria da qualidade de ensino. Ela não tem como executar as ações, mas induzir e trazer aquilo que já funcionou em outros locais, trazer as boas práticas já implantadas. Lá no Ceará, o município de Sobral teve um resultado bom, que pode ser adequado em Alagoas. Aqui, nós tivemos – e tenho orgulho de mostrar os índices – o exemplo de Jequiá da Praia, onde fui prefeito até o final de 2016. Nós temos números, na ANA, inversos ao do estado, e bem acima da média nacional. O que a Undime pode fazer? Levar boas experiências. Não adianta iniciar o ano letivo tentando discutir, seja com o magistério, seja com quem for, ainda o que vai fazer. É possível mudar os números atuais.