Política

Justiça Federal acata denúncia contra ex-governador Teotonio Vilela Filho

Líder tucano agora é réu em ação sobre supostos desvios de recursos e recebimento de propina

Por Carlos Amaral com Tribuna Hoje 12/12/2017 10h43
Justiça Federal acata denúncia contra ex-governador Teotonio Vilela Filho
Reprodução - Foto: Assessoria
Atualizada às 15h11 A 2ª Vara Federal de Alagoas acatou a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra o ex-governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) por corrupção passiva, peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de bens e fraude em licitações em obras do Canal do Sertão Alagoano. Teotonio Vilela foi alvo da Operação Caribdes, da Polícia Federal (PF), no último dia 30 de novembro e agora é réu na Justiça Federal. Tanto para a PF quanto para o MPF, na gestão do tucano (2006 -2014) foi montada uma “organização criminosa na cúpula do Governo do Estado”. Segundo as investigações, o ex-governador recebeu mais de R$ 2 milhões em propinas da Odebrecht e mais de R$ 70 milhões foram superfaturados nas obras dos trechos 3 e 4 do Canal do Sertão Alagoano. Durante entrevista coletiva, realizada no dia da Operação Caribdes, a PF afirmou que as empreiteiras Odebrecht e OAS teriam fraudado a licitação, ditando suas regras, e com a anuência dos investigados. Contudo, ainda não se sabia se a OAS também teria pago propina a agentes do governo Teotonio Viela Filho. As obras foram executadas em 2009, mas o dinheiro foi repassado ao tucano em 2014. Além do ex-governador, também são réus no mesmo processo: Carlos Alberto Quintella Jucá (Beto Jucá), ex-assessor especial do ex-governador; Fernando José Carvalho Nunes, ex-secretário adjunto de Infraestrutura; Marco Antônio de Araújo Fireman, ex-secretário de Infraestrutura e hoje diretor de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde; Alexandre Biselli, diretor de contrato da Odebrecht; Elias Brandão Vilela Neto, irmão de Teotonio Viela Filho; Fabiano Rodrigues Munhoz, também diretor da construtora Odebrecht; Ide Saffe Júnior, engenheiro da OAS; Jeronimo Leoni Leandro Lima, engenheiro da Cohidro Engenharia; João Antônio Pacífico Ferreira, ex-diretor-superintendente da Construtora Norberto Odebrecht; José Ricardo Nogueira Breghirolli, diretor da Construtora OAS; e Ricardo Felipe Valle Rego de Aragão, ex-Superintendente/Assessor de Projetos Especiais da Secretaria Estadual de Infraestrutura.   Operação é originária de delação na Lava Jato   Segundo os delegados Bernardo Gonçalves, superintendente da PF em Alagoas; Daniel Silvestre, chefe da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado; e Antonio Carvalho, que comandou a operação em Alagoas, a ação contra o ex-governador Teotonio Vilela Filho se originou numa delação de um executivo da Odebrecht à força-tarefa da Lava Jato. “Nesse depoimento se apresentou uma planilha com cognomes e valores pagos como propina e o do ex-governador estava lá. Averiguamos e constatamos que as informações batiam”, explicou o delegado Bernardo Gonçalves no dia da Operação Caribdes. O apelido de Teotonio Vilela Filho na planilha é “Bobão” e de Marco Fireman, “Fantasma”. Já a promotora Renata Baptista afirmou, também durante entrevista coletiva em 30 de novembro, que o esquema era coordenado pela cúpula do Governo do Estado à época. “As obras foram superfaturadas em cerca de R$ 70 milhões, mas além desse valor, que não é pouco, não houve a concorrência necessária para uma licitação”, diz a representante do MPF. Segundo ela, “montou-se uma organização criminosa na cúpula do Governo do Estado”, inclusive com a presença de parentes dos gestores públicos. Ainda de acordo com a PF e o MPF, o andamento das obras em si não ficou comprometido, “apesar das práticas ilegais”. OUTRO LADO A única manifestação de Teotonio Vilela Filho foi por meio de nota, ainda no dia da Operação Caribdes. Ele garantiu não ter praticado nenhum crime durante sua passagem pelo Governo do Estado. “Em coerência com a sua história de vida pessoal e política, o ex-governador assegura ser o maior interessado na elucidação dessas investigações e que continuará à disposição das autoridades, contribuindo no que for preciso”, diz a nota. Já Marco Fireman não se pronunciou sobre o caso, mas o Ministério da Saúde também emitiu nota no dia 30 de novembro. “Os policiais estiveram no gabinete do secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Marco Fireman, então secretário de Infraestrutura do Estado. Não foram levados documentos ao final da busca e o secretário está à disposição da PF para prestar todos os esclarecimentos”, diz o Ministério da Saúde. Os depoimentos foram prestados na sede da PF em Maceió, localizada no bairro de Jaraguá, nos dias subsequentes à Operação Caribdes. Nota de Téo Vilela "Confio na Justiça e na minha história. Tenho a mais das absolutas certezas de que na política cumpri com decência e ética meu compromisso com Alagoas e com os alagoanos e, portanto, sou o maior interessado em que essas investigações esclareçam definitivamente a verdade, reafirmando a minha disposição em colaborar com as autoridades que as conduzem. Mas é preciso, desde já, deixar muito claro e enfatizo que não há em meu patrimônio, da minha esposa e de meus filhos, qualquer bem que tenha sido adquirido com dinheiro ilícito, de forma ilegal ou qualquer coisa desse porte. Entendo que na condição de homem público, tenho a obrigação de prestar contas à sociedade, o que sempre fiz e faço com consciência do dever honestamente cumprido, mas, como pai e marido, tenho, igualmente, o dever de proteger a minha família de suposições que não retratam a realidade dos fatos e que nos indignam profundamente. Repito a minha crença no andamento correto das apurações, no aguardo de que esse procedimento restabeleça o mais breve possível a verdade sobre todas essas absurdas acusações, com convicção de que não pratiquei nenhum ato contra o estado, contra a política e sobretudo contra os alagoanos que me elegeram Senador por três vezes e Governador do Estado por duas vezes. Teotonio Vilela Filho"