Política

Ex-governador Teotônio Vilela Filho é investigado por fraude e propina

Além do ex-governador, Marco Fireman também está na mira da PF e do MPF por causa do Canal do Sertão

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 01/12/2017 14h00
Ex-governador Teotônio Vilela Filho é investigado por fraude e propina
Reprodução - Foto: Assessoria
A Polícia Federal (PF) em Alagoas e o Ministério Público Federal (MPF) realizaram ontem (30) a “Operação Caribdis”, cujo objetivo é investigar fraude em licitação, desvio de recursos, corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa relacionados às obras do Canal do Sertão alagoano entre 2009 e 2014. Os principais alvos são o ex-governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) e o ex-secretário de Estado da Infraestrutura, Marco Fireman. Outros agentes públicos também estão sob investigação, mas seus nomes não foram revelados. Onze mandados de busca e apreensão, expedidos pela 2ª Vara Federal de Alagoas, foram cumpridos. Inclusive em Salvador, Limeira/SP e Brasília. Segundo as investigações, as obras dos trechos 3 e 4 do Canal do Sertão foram superfaturados em R$ 70 milhões e, para garantir seus contratos, as empreiteiras Odebrecht e OAS teriam fraudado a licitação, ditando suas regras, e com a anuência dos investigados. De acordo com a PF e o MPF, há provas de que a Odebrecht pagou mais de R$ 2 milhões em propina ao ex-governador em 2014, mesmo as licitações para o Canal do Sertão serem de 2009. A PF usou carros à paisana para cumprir o mandado na casa de Teotonio Vilela Filho, na orla de Maceió, e lá ficou por duas horas. Foram apreendidos documentos, computadores e celulares. Segundo o delegado Antonio Carvalho, que presidiu a operação, o tucano colaborou com as buscas. A sala de Marco Fireman no Ministério da Saúde também foi alvo de ação policial. INOCÊNCIA O ex-governador Teotonio Vilela Filho, por meio de nota divulgada por sua assessoria, afirma não ter praticado nenhum crime durante sua passagem pelo Governo do Estado. “Em coerência com a sua história de vida pessoal e política, o ex-governador assegura ser o maior interessado na elucidação dessas investigações e que continuará à disposição das autoridades, contribuindo no que for preciso”, diz a nota. Já Marco Fireman não se pronunciou sobre o caso, mas o Ministério da Saúde também emitiu nota. Segundo a pasta, o atual secretário de Ciência e Tecnologia do órgão está à disposição para prestar esclarecimentos. “Os policiais estiveram no gabinete do secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Marco Fireman, então secretário de Infraestrutura do Estado. Não foram levados documentos ao final da busca e o secretário está à disposição da PF para prestar todos os esclarecimentos”, diz o Ministério da Saúde. DEPOIMENTOS Os depoimentos dos envolvidos na “Operação Caribdis” devem iniciar seus depoimentos nesta sexta-feira (1º). Segundo a PF e o MPF, foram solicitados mandados de prisão para o ex-governador e o ex-secretário de Estado da Infraestrutura, mas o Judiciário entendeu não ser necessário. “Nossa visão é de que se trata de pessoas abastadas e, sabendo das investigações, poderiam atrapalhá-las”, diz o delegado Antonio Carvalho. Já para a promotora Renata Baptista, do MPF, foi montada uma organização criminosa na cúpula do Governo do Estado. Operação é originária de delação na Lava Jato No final da manhã de quinta-feira, uma entrevista coletiva foi realizada. Nela, a PF e o MPF deram mais detalhes da “Operação Caribdis”. Segundo os delegados Bernardo Gonçalves, superintendente da PF em Alagoas; Daniel Silvestre, chefe da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado; e Antonio Carvalho, que comandou a operação em Alagoas, a ação contra o ex-governador Teotonio Vilela Filho se originou numa delação de um executivo da Odebrecht à força-tarefa da Lava Jato. “Nesse depoimento se apresentou uma planilha com cognomes e valores pagos como propina e o do ex-governador estava lá. Averiguamos e constatamos que as informações batiam”, explica o delegado Bernardo Gonçalves. O cognome de Teotonio Vilela Filho na planilha é “Bobão” e de Marco Fireman, “Fantasma”. Já a promotora Renata Baptista afirmou que o esquema era coordenado pela cúpula do Governo do Estado à época. “As obras foram superfaturadas em cerca de R$ 70 milhões, mas além desse valor, que não é pouco, não houve a concorrência necessária para uma licitação”, diz a representante do MPF. Segundo ela, “montou-se uma organização criminosa na cúpula do Governo do Estado”, inclusive com a presença de parentes dos gestores públicos. Ainda de acordo com a PF e o MPF, o andamento das obras em si não ficou comprometido, “apesar das práticas ilegais”.