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Erdogan é reeleito presidente da Turquia

Presidente há 15 anos na Turquia era considerado favorito, e ficará mais 5 anos no cargo. Polêmico, trouxe de volta religião ao cenário político do país.

Por G1 24/06/2018 20h21
Erdogan é reeleito presidente da Turquia
Reprodução - Foto: Assessoria
Recep Tayyip Erdogan que está há 15 anos no poder, foi reeleito presidente na Turquia na eleição presidencial deste domingo (24), de acordo com porta-vozes do governo. Ele ficará mais cinco anos no poder. A apuração ainda está em andamento. Com 97% dos votos contados na eleição presidencial, Erdogan tinha 52,6% dos votos, de acordo com a agência oficial turca Anadolu. Pouco depois da vitória, Erdogan, o líder mais popular da história recente da Turquia, declarou que "não há como voltar atrás em relação aos avanços que ele e o partido conquistaram para a economia nos últimos anos". "É hora de focar no futuro do nosso país, deixando de lado as tensões do período de eleições" , disse em pronunciamento. Mais poderes O resultado das eleições é especialmente importante para a Turquia, já que o vencedor tem agora poderes reforçados após o referendo de abril de 2017 convocado pelo próprio após o fracassado golpe de julho de 2016. Neste novo sistema, ainda não plenamente em vigor, desaparecerá a figura do primeiro-ministro e o presidente concentrará todo o poder em suas mãos, sem o controle apenas do parlamento. Desta vez, o presidente turco enfrentou na breve campanha eleitoral uma união inesperada dos partidos de oposição e um concorrente, Muharrem Ince, capaz de desafiá-lo. Repercussão Segundo fontes presidenciais, o primeiro-ministro albanês, Edi Rama, parabenizou o presidente pelo telefone. Em outro telefonema, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, também felicitou Erdogan pelo "sucesso do processo democrático turco e sua vitória nas eleições presidenciais", segundo informou a agência oficial de notícias palestina (WAFA). Abbas disse: "Desejo à Turquia mais sucesso, progresso e estabilidade". As felicitações também vieram do ministro das Relações Exteriores da Grécia, Nikolaos Kotzias, e do emir do Qatar, Sheikh Tamim bin Hamad Al Thani. Líder reformador e autoritário Há quinze anos de poder, Recep Tayyip Erdogan é tido como um líder reformador, combativo, autoritário e repressivo. Promoveu profundas transformações na Turquia através de megaprojetos de infraestruturas e conduz uma política externa firme diante do Ocidente, chegando a incomodar seus tradicionais aliados ocidentais. Para seus simpatizantes, continua sendo o homem do milagre econômico e das reformas que levou os valores islâmicos de volta à vida pública, libertando a maioria religiosa e conservadora do país da dominação das elites laicas. Mas os críticos – entre eles liberais secularistas, curdos de inclinação à esquerda e até alguns nacionalistas – acusam Erdogan de uma deriva autocrática, principalmente desde a tentativa de golpe de Estado de julho de 2016, à qual se seguiram expurgos em massa. Opositores e jornalistas também foram detidos, provocando preocupação na Europa. Sua passagem pela prisão, os enormes protestos e uma sangrenta tentativa de golpe de Estado não foram suficientes para deter a ascensão do "rais" ("chefe"), como o chamam seus partidários, que dirige o país com mão de ferro desde 2003. Trajetória Casado e pai de quatro filhos, Erdogan tem 64 anos. Nasceu em Kasimpasa, bairro operário de Istambul, e faz alarde com frequência de suas origens humildes. Educado em um colégio religioso, ex-vendedor ambulante, "Tayyip" tinha o sonho de se tornar jogador de futebol antes de se lançar à política pelo movimento islamista. Foi eleito prefeito de Istambul em 1994. Em 1998, seu último ano na prefeitura, foi condenado a uma pena de prisão por ter recitado um poema religioso, episódio que serviu para reforçar sua imagem. Triunfou em 2002 quando o AKP venceu as eleições legislativas e foi nomeado primeiro-ministro um ano depois, ao ser anistiado da pena de prisão. Venceu todas as eleições desde então. Entre 2002 e 2004, Ancara adotou reformas políticas e econômicas, aprovou a abolição da pena de morte e autorização a língua curda na televisão pública. Ainda assim, as negociações para adesão à União Europeia ficam estagnadas por anos. Em 10 de agosto de 2014, Erdogan é eleito chefe de Estado no primeiro turno das presidenciais, que, pela primeira vez, são realizadas por voto universal direto. Nas legislativas de 7 de junho de 2015, o AKP fica no topo, mas sem maioria absoluta no Parlamento (pela primeira vez). O presidente Erdogan convoca novas eleições em 1º de novembro, que o AKP vence de forma maciça. Em abril de 2017, venceu por uma margem estreita um referendo sobre uma reforma constitucional para reforçar consideravelmente os seus poderes. Marca na história O presidente, que domina a política turca há 15 anos, parece determinado a deixar sua marca na história de seu país, assim como o fundador da república, Mustafa Kemal Atatürk. "Um burro morto deixa sua sela, um homem morto deixa sua obra", repete com frequência o chefe de Estado, multiplicando as referências ao sultão Mehmet II, que conquistou Constantinopla em 1453. Em seus comícios, emprega suas qualidades de orador, que em grande parte contribuíram para sua longevidade política, referindo-se a poemas nacionalistas e ao Alcorão para conquistar as multidões. Desafios Em 2013, explodiram grandes manifestações contra o governo, que foram brutalmente reprimidas. O movimento de contestação nasceu em 31 de maio no parque Gezi, quando a polícia reprimiu violentamente centenas de ecologistas que se opunham ao corte das árvores do parque. Os protestos se espalharam por todo o país voltado, principalmente, contra Erdogan, que era acusado de autoritarismo e de querer “islamizar” a sociedade turca. No final de 2013, seu poder ainda vacilou com um escândalo de corrupção envolvendo seu círculo mais próximo. No entanto, Erdogan denunciou um "complô" e ignorou em grande parte o caso. Mas, em 15 de julho de 2016, o presidente turco teve que enfrentar seu maior desafio. Um grupo do Exército realizou uma tentativa de golpe que deixa 250 mortos e causa transtorno na situação política da Turquia. Ancara acusa o clérigo Fethullah Gülen, que vive nos Estados Unidos, de ter estimulado o golpe, algo que ele nega. Em reação à tentativa de golpe, o governo turco ordenou expurgos de um alcance inédito contra os simpatizantes de Gülen, contra o movimento pró-curdo e os meios de comunicação. Mais de 140 mil pessoas foram demitidas ou suspensas, e mais de 70 mil foram detidas.