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Ex-membro de comissão diz que vítima de abusos escreveu ao Papa sobre bispo chileno

Carta contraria afirmação do Papa de que vítimas não se apresentaram e o Vaticano não encontrou 'provas para condená-lo'

Por AFP e G1 06/02/2018 15h53
Ex-membro de comissão diz que vítima de abusos escreveu ao Papa sobre bispo chileno
Reprodução - Foto: Assessoria
Uma vítima de abuso sexual escreveu ao Papa Francisco alertando sobre o bispo chileno Juan Barros, suspeito de ter acobertado os crimes de um padre pedófilo, afirmou nesta terça-feira (6) uma ex-conselheira do Vaticano, o que o colocaria em contradição com as recentes declarações do pontífice. O caso do bispo de Osorno (sul do Chile) Juan Barros manchou a viagem do papa ao Chile em janeiro. No avião que o trouxe de volta a Roma, Francisco declarou que o Vaticano havia investigado Barros, sem encontrar "provas para condená-lo". "Vocês me dizem que há vítimas, mas eu não as vi. Elas não se apresentaram a mim", argumentou na ocasião, declarando estar "convencido" da inocência do bispo. Nesta terça, a irlandesa Marie Collins, uma "sobrevivente" de abusos sexuais que abandonou em 2017 a comissão papal de luta contra a pedofilia, decidiu jogar lenha na fogueira, escrevendo no Twitter e contactando a imprensa. "Entrei em choque quando ouvi que o Papa disse no avião que as vítimas de Karadima não chegaram até ele e que ele as ouviria caso o fizessem. Eu sabia que elas contactaram ele diretamente com essa carta há três anos", afirmou Collins no Twitter. https://twitter.com/marielco/status/960449213439074304 Em 12 de abril de 2015, ela foi a Roma com uma carta de um chileno vítima de estupro, Juan Carlos Cruz, segundo confirmou nesta terça à AFP. Marie Collins diz que ela e outros três outros membros da comissão entregaram a carta ao cardeal americano Sean O'Malley, que "expressou sua preocupação". "Ficamos preocupados com a nomeação do bispo Barros, sobretudo se ele foi testemunha de abusos e não identificou os fatos como abusos. Isso significa que ele não protegeu as crianças na condição de bispo", explica Collins. Imagem de arquivo mostra protesto de chilenos contra bispo Juan Barros em catedral de Osorno, no sul do Chile (Foto: AP / Mario Mendoza Cabrera) O cardeal O'Malley, presidente da comissão, também faz parte de um grupo de nove cardeais que ajuda o papa a reformar o Vaticano. Ele assegurou que entregou a carta ao Papa, acrescenta Collins. Vaticano envia investigadores Após os comentários do Papa em apoio a Barros terem causado protestos entre os chilenos, o Vaticano anunciou na semana passada que estava enviando seus investigadores mais renomados para colher depoimentos de Cruz e outras pessoas sobre Barros. A decisão foi tomada "após receber algumas informações" a respeito de Barros, segundo comunicado do Vaticano. Na segunda-feira, algumas vítimas de Karadima anunciaram em uma rádio chilena que testemunhariam no caso. Bispo nega ter testemunhado abusos Em janeiro de 2015, Francisco nomeou Juan Barros à frente da diocese de Osorno, apesar das suspeitas de ter feito silêncio sobre os crimes do padre Fernando Karadima. Este padre foi reconhecido culpado em 2011 por um tribunal do Vaticano de ter cometido atos de pedofilia nos anos 1980 e 1990. De acordo com Collins, ao menos três vítimas diretas de Karadima acusam Barros de ter testemunhado alguns atos. Barros nega as acusações.