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Santuário do Peixe-Boi é a grande atração da Rota Ecológica dos Milagres

Turistas do local, no Litoral Norte, se encantam com esses animais ameaçados de extinção, dóceis e extrovertidos

Por Texto: Claudio Bulgarelli - Sucursal Litoral Norte com Tribuna Independente 17/02/2018 09h10
Santuário do Peixe-Boi é a grande atração da Rota Ecológica dos Milagres
Reprodução - Foto: Assessoria
O Santuário do Peixe Boi se transformou, nos últimos anos, na principal atração turística da Rota Ecológica dos Milagres, levando, por ano, mais de 10 mil pessoas a fazer o passeio pelas tranquilas águas do Rio Tatuamunha. O santuário é um projeto de preservação localizado em um trecho do rio, no povoado de mesmo nome, em Porto de Pedras. Trata-se de um dos mais importantes projetos de proteção do país, já que a espécie está ameaçada de extinção, restando apenas cerca de 500 exemplares que vivem em liberdade. É um dos braços do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ligado ao Ibama), que trata da adaptação de animais resgatados na tentativa que eles voltem a viver em seu meio natural. O peixe-boi-marinho é herbívoro e tem esse nome pelo fato de comer capim agulha no mar. Para sobreviver, o peixe-boi precisa ir ao mar comer e depois voltar para as fontes de água doce para matar sua sede. É um mamífero ameaçado de extinção, de temperamento dócil e extrovertido, podendo chegar a 800 quilos e viver por até 60 anos. A ameaça de extinção faz com que essa região alagoana seja de extrema importância para a proteção desse animal. Mas embora ameaçados, é possível vê-los ao longo do leito do rio, que é uma espécie de berço para esses mamíferos e, sobretudo, nas praias próximas. No santuário, quase sempre, se pode encontrar algum filhote em cativeiro, sendo alimentado diariamente por tratadores com cenouras e beterrabas. Depois de nove meses de adaptação, ele é solto na natureza, mas continua monitorizado pelo projeto. E essa é a maior realização dos técnicos que atuam no projeto, que é ver os animais reabilitados e finalmente reintroduzidos em seu ambiente natural: rio e mar. No entanto a poluição e a degradação do meio ambiente, causados pelo homem, estão impossibilitando que muitas dessas ações tenham o fim desejado. A poluição é um grande risco para a vida de todos os animais soltos na costa alagoana. O peixe-boi Assú, por exemplo, ficou muito debilitado depois de ingerir lixo e óleo de embarcações motorizadas. Apesar dos esforços dos profissionais que dedicam suas vidas a resgatar, reabilitar e reintroduzir os peixes-boi em seu ambiente natural, a interferência do ser humano tem feito com que não só essa espécie, mas outros animais marinhos corram risco de extinção. Criticamente em perigo, a espécie é listada como “vulnerável a extinção” em âmbito mundial pela União Internacional para Conservação da Natureza. No Brasil é a espécie de mamífero aquático mais ameaçado de extinção, classificada como “em perigo crítico” desde 1989.  Inúmeros fatores podem levar os peixes-bois-marinhos à extinção ou contribuir para o seu desaparecimento: caça intensa no passado, pesca criminosa na atualidade, captura acidental, destruição dos locais onde vivem, poluição e o perigo das embarcações motorizadas. Centro bate recorde de visitações durante 2017 A principal atração turística da Rota Ecológica, ao lado das piscinas naturais, atingiu um número histórico de visitações de janeiro de 2017 a janeiro de 2018, incluindo essa quinzena de fevereiro, com mais de 10 mil atendimentos a turistas. Somente em dezembro, janeiro e fevereiro, quase três mil pessoas fizeram o belíssimo passeio pelo Rio Tatuamunha, gerando um faturamento de mais um milhão de reais, que é dividido entre os jangadeiros que fazem os passeios e a Associação responsável pelo mesmo, com autorização do ICMBio. Como esse tipo de exploração é um turismo de base comunitária, o objetivo é garantir a preservação ambiental por meio da visitação turística. A Associação do Peixe Boi foi fundada em julho de 2009, a partir do desejo de lutar pelos direitos dos comunitários de usufruir da natureza com consciência e responsabilidade, discutindo e propondo soluções para os problemas locais. Foi criado por um grupo de guias comunitários motivados, inicialmente, pelos conflitos em torno do turismo de observação dos peixes-bois-marinhos em ambiente natural no Rio Tatuamunha. Nesse mesmo ano, os Ministérios Públicos Federal e Estadual, as prefeituras de São Miguel dos Milagres e Porto de Pedras, juntamente com o Centro Mamíferos Aquáticos, a APA Costa dos Corais, unidades do ICMBio e comunidade local, criaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para o ordenamento do turismo de observação do peixe-boi marinho na APA Costa dos Corais, somente permitido no estuário do Rio Tatuamunha, entre Porto de Pedras com São Miguel dos Milagres e para defender interesses de conservação da espécie do mamífero aquático mais ameaçado de extinção no litoral brasileiro e seu habitat, a Costa dos Corais. Atualmente o turismo de observação envolve mais de 20 jangadeiros credenciados, mas somente 10 podem entrar no rio por dia, levando 10 pessoas por jangada, ao valor de 50 reais por pessoa. O trabalho dos jangadeiros está direcionado ao serviço de condução de visitantes e às ações socioambientais para a gestão ambiental compartilhada e a melhoria da qualidade de vida da população local, já que mais de 100 famílias vivem diretamente ou indiretamente desse tipo de turismo. Para realizar a observação dos peixes-boi no Rio Tatuamunha, sem impedir que eles cumpram seu papel biológico algumas regras devem ser respeitadas: como o passeio acontece todos os dias, é necessário o agendamento por telefone ou e-mail; os passeios de jangada são restritos ao horário das 10h às 17h, com duração de 1h30m e não é permitido alimentação nem qualquer forma de interação com o animal. O passeio é uma contemplação do rio e manguezal de Tatuamunha, com sua flora e fauna local, em especial o peixe-boi. O visitante é acompanhado por um condutor credenciado durante todo o passeio. Começa com uma pequena caminhada pelo povoado até chegar à ponte estreita sobre rio e manguezal. Após a travessia da ponte, onde já se pode contemplar a beleza e riqueza da biodiversidade local, embarca-se numa jangada simples, conduzida com varas por dois remadores. Segue-se por um passeio tranquilo com algumas paradas no leito ou nas camboas do rio, além de uma parada para observar o recinto de readaptação dos peixes-boi e, com sorte, para contemplar os animais livres que podem ser encontrados no percurso.