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Sai a cadeira de rodas, entram pesos e halteres: Camila busca saúde e autonomia

Para fugir dos tradicionais exercícios para deficientes, menina vítima de bala perdida na adolescência se dedica à musculação com ajuda de personal

Por Renata Domingues com Globoesporte.com 31/10/2017 09h48
Sai a cadeira de rodas, entram pesos e halteres: Camila busca saúde e autonomia
Reprodução - Foto: Assessoria

São 16h de uma quarta-feira, e o carro de Camila Lima entra no estacionamento da academia onde “bate ponto” religiosamente duas vezes por semana. Aos 31 anos, ela convive com uma lesão medular na sexta e sétima cervical há 19, quando foi vítima de bala perdida em um assalto na volta da escola. Mas a cadeira de rodas que a acompanha desde a adolescência nunca foi um empecilho na sua vida. É com ela e o carro adaptado que ela vai para todos os lugares: trabalho, fisioterapia, encontro com amigos, treinos de natação e, mais recentemente, musculação. No esporte, a menina que é formada em ciências sociais encontra uma forma de se manter ativa, melhorar o condicionamento, ganhar autonomia, e, principalmente, de se sentir apenas mais uma pessoa saudável no meio de tantas outras.

Mas passar despercebida é praticamente impossível para Camila. Uns por estranheza, outros por admiração, todos olham para a menina, que de longe parece ser frágil, pulando da cadeira de rodas para os aparelhos e fazendo força na academia. Acha que isso a incomoda? Nem um pouco...

- Já acostumei. Há 19 anos é assim. Quando eu chego no local de cadeira de rodas viro sempre o centro das atenções. Mas com o tempo isso vai sendo superado - disse, com um largo sorriso no rosto.

Camila escolheu a musculação para fugir um pouco da fisioterapia (Foto: Renata Domingues)

 

E a escolha pela musculação foi mais uma forma de Camila não se sentir “paciente” e provar, talvez para si mesma, que, mesmo na cadeira de rodas, é uma pessoa que se cuida como qualquer outra.

- Já queria fazer uma atividade física diferente da fisioterapia, hidroterapia e dos tratamentos tradicionais para quem tem deficiência física. Já tinha ido a algumas academias, mas os profissionais não sabiam como lidar comigo, até que conheci o Daniel. Melhorou muito minha condição física, o emocional também. Na fisioterapia você está no meio de pacientes. Aqui você está no meio de pessoas que estão malhando também, que são saudáveis. Entrei para conhecer, fazer uma atividade diferente e aí fui vendo o quanto isso me ajudava no dia a dia. Comecei a ganhar mais independência e isso foi me surpreendendo e me estimulou a continuar - comemorou.

Além da musculação, Camila também é atleta de natação (Foto: Arquivo pessoal)

 

Daniel Carvalho é o personal que virou amigo e braço direito de Camila. Ele nunca tinha trabalhado com pessoas com necessidades especiais antes, mas encarou o desafio e, com dedicação e boa vontade, tirou de letra a oportunidade de somar na vida dela.

- É uma experiência incrível poder participar da melhora de vida dela. Encarei como um desafio, um aprendizado, e tive tranquilidade para fazer o treinamento dela. A gente foi se conhecendo, e aprendemos muito um com o outro - contou.

Principal objetivo do treino elaborado por Daniel é dar mais autonomia para o dia a dia de Camila (Foto: Renata Domingues)

 

O treino de Camila montado por Daniel tem como objetivo principal fortalecer os membros superiores para que ela tenha mais autonomia para as tarefas diárias. Para isso, ele faz adaptações, e prioriza os aparelhos com bases mais largas e apoio nas costas, além de usar pesos livres e uma luva de velcro para auxiliar a pegada.

- Ela é bem disciplinada e assimila bem o treinamento, só reclama mesmo quando fazemos poucos abdominais. Ela gosta bastante de fazer abdominal - brincou.

Mesmo sem força nas pernas, eles também fazem leg press, onde ela empurra o aparelho jogando peso do tronco sobre as pernas. E os resultados são evidentes.

- Conseguimos ver um aumento da massa muscular dela, uma postura melhor. Tem o aspecto psicológico também, ela está sempre mais motivada, animada quando vem treinar.

Vaidosa, Camila só tem uma reclamação comum a muitas mulheres: a barriguinha que cisma em não sair. O resto ela tira de letra, e leva sua rotina sempre com um sorriso no rosto.

- De manhã eu trabalho, e à tarde faço as atividades físicas. A noite ainda estudo. Tenho o carro adaptado que me ajuda muito. Na rua não é tão fácil andar assim, o carro me deu muita independência.

Vaidosa, Camila só tem uma reclamação comum a muitas mulheres: a barriguinha que cisma em não sair. O resto ela tira de letra, e leva sua rotina sempre com um sorriso no rosto.

- De manhã eu trabalho, e à tarde faço as atividades físicas. A noite ainda estudo. Tenho o carro adaptado que me ajuda muito. Na rua não é tão fácil andar assim, o carro me deu muita independência.

E para aquelas pessoas que, como ela, possuem alguma limitação física e acham que não podem fazer coisas simples, como frequentar uma academia, por exemplo, Camila tem um recado: mexa-se, porque você é capaz!

- Indico para todo mundo que tem lesão na medula ou alguma deficiência. Nosso corpo é para ter movimento, e por ficar numa cadeira de rodas com menos mobilidade a gente precisa mais ainda da atividade física. Muita gente fica em casa porque acha que não dá para fazer, que não consegue, mas dá para fazer. Há uma infinidade de exercícios, de adaptações que vão ajudar qualquer pessoa. Superindico academia ou qualquer atividade física. O negócio é se movimentar. Independentemente de idade e de condição física, a gente consegue melhorar muito nossa qualidade de vida com exercícios. Mexer com o corpo nos surpreende.