Economia

Celulares devem começar a vir com reconhecimento facial e inteligência artificial

Lançamentos de smartphones mostram que indústria consolida tendências tecnológicas e de design

Por Texto: Helton Simões Gomes com G1 04/03/2018 17h46
Celulares devem começar a vir com reconhecimento facial e inteligência artificial
Reprodução - Foto: Assessoria
Prepare-se. Seu próximo celular provavelmente contará com inteligência artificial (um robô vai alterar suas fotos sem pedir permissão e até mudar o jeito do seu celular carrega a bateria); uma tela mais alongada, que vem sendo comparada à de cinemas; e reconhecimento facial, que cria uma nova forma desbloqueio. Os novos recursos são os mais novos consensos no mundo da indústria móvel, a julgar pelos lançamentos de smartphones durante o Mobile World Congress (MWC), em Barcelona, na Espanha. As tecnologias não são novas nem surgiram na maior feira de tecnologia do mundo, mas foram consolidadas no MWC deste ano. As sete fabricantes que desfilaram seus lançamentos por lá apresentaram novos aparelhos com uma dessas características quando não com todas juntas. A Alcatel, por exemplo, foi a primeira do mundo a adotar as telas alongadas em todo seu portfólio, além de adicionar reconhecimento facial. Além de adotar as telas alongadas, Asus e Sony, por sua vez, implementaram sistemas de inteligência artificial no funcionamento das câmeras e bateria. Em conversas com G1, os executivos dessas três empresas, que aderiram a esses recursos pela primeira vez, explicaram por que a indústria embarcou nessa onda. 'Telona de cinema' Como a principal forma de interagir com os recursos do celular é a tela, apostar na ampliação dessa área de contato entre usuários e o que o smartphone tem a oferecer foi algo natural, disseram eles. A empresa a estrear as telas mais amplas foi a LG, ao apresentar o G6 no MWC de 2017. No mesmo ano, outras aderiram ao formato, como Xiaomi, Samsung e Apple. O que ela fez foi ampliar a altura da tela sem ampliar sua largura. Até então, a proporção habitual entre as duas medidas de era 16:9. Essa relação passou a ser de 18:9. Com isso, os celulares ganharam mais espaço de tela e tiveram os botões levados para as costas do aparelho ou eliminados de vez, além de ter suas bordas reduzidas. “A proporção de 18:9 dá um melhor aproveitamento do celular, com uma tela maior, mas com um tamanho menor”, comenta Fernando Pezzoti, presidente da Alcatel no Brasil. “O consumidor quer mais tela. Todo mundo quer mais tela. Há quanto eu escuto reclamação de que consumidor não compra borda, compra tela”, explica Marcel Campos, diretor global de marketing da Asus. Apesar de muitos vídeos não se encaixar perfeitamente nessa tela alongada, o que deixa faixas pretas nas laterais, desenvolvedores de aplicativos já começaram a fazer adaptações. O movimento conta com um advogado relevante: o Google, dono do sistema operacional presente em 4 a cada 5 celulares. Sony lançou o modelo Xperia ZX2 (Foto: Divulgação) Ao anunciar os novos displays, a LG os chamou de tela de cinema. Era mais um exagero, para explicar o novo conceito, do que algo próximo do real. “Ela tentou fazer essa correlação, que é muito legal, mas isso está em um formato muito menor”, diz Campos. Isso porque as telas de cinema têm 21:9. O que o novo formato fez mesmo foi afastar o celular do formato padrão das TVs, de 16:9. Isso poderia dificultar a chegada de filmes feitos para a nova telona do celular. Só que já há uma movimentação dentro da indústria cinematográfica para rodar longas em 18:9. Isso se ele perdurar e não for substituído por outro, porque já há variações. Nem bem a LG inaugurou o formato, a Samsung já apresentava em março de 2017 o Galaxy S8, com tela de 18,5:9. A Asus fez o Zenfone 5 com tela de 19:9 (na prática, o display tem proporção de 18:9, já que parte dele é ocupado por uma série de sensores, como o de reconhecimento facial). “Se você lembrar dos tempos de telefone celular, a tela era grande, Depois diminuiu. Fizeram tela colorida e ela aumentou. Veio câmera, e a tela aumentou. Veio smartphone, e a tela aumentou. A gente não sabe o que vem pela frente. De repente inventam algum uso que é diferente e muda essa tendência também”, comenta Joe Takata, gerente de produtos da Sony. Reconhecimento facial Outro recurso que parece ter vindo para ficar é o reconhecimento facial. Ele dá ao celular a capacidade de ser destravado, após identificar em um rosto os traços faciais cadastrados. Se o iPhone X, da Apple, fez surgirem muitas pessoas tentarem burlar seu sistema de reconhecimento facial, foi a Samsung a incluir pela primeira vez esse tipo de reconhecimento biométrico em um celular, o S8. “Já existe reconhecimento facial há um bom tempo, mas está ficando mais maduro agora”, diz Campos, da Asus. Pezzoti, da Alcatel, comenta que a inclusão do sistema para trocar senhas alfanuméricas e em forma de códigos por rostos foi feita para ser mais prático. “É só olhar para o seu celular e ele desbloqueia sozinho. Quer coisa melhor do que colocar a senha ou fazer aqueles risquinhos que deixavam marcas na tela?” Só que, apesar de se alastrar muitos aparelhos, o reconhecimento facial não é lá muito confiável. Nem para quem o adota. “Ainda assim não é tão rápido e tão seguro quanto a impressão digital”, diz Campos. Nem a Apple, que eliminou seu sensor que lê impressões digitais, abriu mão da possibilidade de haver outra forma de desbloquear seus aparelhos. Reconhecimento facil do Xperia ZX2, novo smartphone da Sony. (Foto: Divulgação/Sony) “A gente fez questão de deixar o reconhecimento de digital, porque ainda é o jeito mais rápido e mais seguro de você desbloquear o seu telefone e acessar os dados que são importantes para você”, diz Campos. Só que o leitor de digitais ganhou funções adicionais além da de destravar o smartphone. No Zenfone 5, o sensor funciona como um mousepad, que controla o painel de notificações (deslizando o dedo sobre o leitor, é possível maximizar ou minimizar o menu de controles e até ver os avisos de aplicativos). Já no Serie 5, da Alcatel, o leitor de digitais transforma cada dedo cadastrado em um atalho para um serviço (por exemplo: o indicador abre o Facebook, o médio ativa o Instagram, e por assim vai). Inteligência artificial Nem só de especificações técnicas potentes serão feitos os smartphones daqui para frente. Quem estiver em busca de um aparelho terá de observar que tipo de inteligência artificial será aplicada e de que forma esses robozinhos irão modificar o funcionamento do celular. Durante a MWC deste ano, fabricantes apresentaram aplicações AI (inteligência artificial, na sigla em inglês) que não só identificavam objetos em cenas captadas pelo celular, mas faziam modificações ou acrescentavam objetos. Algumas eram capazes de alterar o volume do toque de celular, conforme o barulho do entorno, e até de gerenciar a recarga do celular para fazer a bateria durar mais tempo. “O que você pode fazer com AI é aprimorar o uso”, diz Takata, da Sony. A empresa apresentou o Xperia XZ2, que possui AI para identificar a movimentação de objetos, de modo que uma foto seja captada antes de o usuário apertar o botão. Nova tecnologia permitirá que os celulares Samsung façam traduções simultâneas de uma língua para outra (Foto: Richard Drew / AP) A Asus foi outra que deu um banho de AI em seu aparelho. Assim como o Xperia XZ2, o Zenfone 5 entende como o usuário costuma carregar a bateria durante as noites. Dessa forma, os 100% de carga só são atingidos quando estiver perto da hora de acordar. Isso porque deixar o celular muito tempo carregando quando a carga máxima já foi atingida degrada a bateria. Até agora, as fabricantes preferiam dar reunir as experiências com inteligência artificial em assistentes pessoais, em vez de pulverizá-las como recursos adicionais de outras tarefas do telefone. Na Samsung, a Bixby é a espertinha do celular, e na Apple, é a Siri. “O problema é que todo mundo só fala de grandes coisas com inteligência artificial e não das pequenas. E as pequenas são as que mudam o dia a dia do usuário”, diz Campos. Segundo a Asus, essa recarga inteligente faz a vida útil do celular dobrar. Samsung Galaxy S9 Plus (Foto: Richard Drew/AP) Ainda que a inteligência artificial traga benefícios, os fabricantes não ignoram que entregar tudo nas mãos de um robô pode não ser o melhor dos negócios. "Qual o maior problema de ter câmeras que fazem cenas com AI? O usuário perde o controle. A AI está mudando as condições da câmera, mas e se você não quiser a foto daquele jeito e se não gostar da configuração que a fabricante fez para aquele cenário? Onde desliga? Não tem”, diz Campos. O problema de perda de autonomia, pelo menos no caso da Asus, é solucionado ao acionar o modo manual da câmera. É até possível alterar as configurações do fabricante. Só que isso é feito com mais inteligência artificial, que passa a replicar as preferências do próprio usuário.