Economia

Alagoas tem a menor diferença salarial entre homens e mulheres

Dados mostram que rendimento das alagoanas chega a 96,7% do total do salário masculino

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 21/02/2018 08h36
Alagoas tem a menor diferença salarial entre homens e mulheres
Reprodução - Foto: Assessoria
O salário médio das alagoanas representa 96,7% do total do salário masculino, de acordo com os dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). É a menor diferença entre todos os estados do país. Em contrapartida, elas ocupam 40% das vagas do mercado de trabalho, uma das menores taxas de participação do país. O levantamento aponta que o salário médio das mulheres no estado é de R$ 2.092,64 enquanto que o dos homens chega a R$ 2.164,80.  São 293.125 homens em atividade formal e 196.547 mulheres. Os números consideram a participação no trabalho formal, isto é, com carteira assinada e a média salarial de homens e mulheres. A Rais utiliza dados de 2016. No país, diferença salarial média chega a 15%, mas segundo o Ministério do Trabalho tem apresentado recuo, em dez anos foram 2% a menos. O economista Cícero Péricles afirma que algumas das justificativas para esse cenário são fatores como escolaridade e áreas de ocupação. Quando é feito o comparativo geral, a diferença é menor. Mas se considerado segmentos isolados, como funções tipicamente masculinas, há disparidade salarial e no número de mulheres atuando. “A presença feminina no ambiente escolar é muito alta, tanto na escola quanto no ensino superior. A formação escolar das mulheres é melhor. Então, faz com que os cargos em áreas que exigem melhor nível de preparação acabem sendo ocupadas por elas, a exemplo de concursos públicos, áreas da educação e saúde. No entanto se levar em consideração nas tarefas masculinas tradicionais há desvantagem. Nas tarefas homem x mulher ela leva desvantagem”, pontua. Ainda de acordo com o economista, apesar de considerar médias, os dados apontam um melhor aproveitamento das posições ocupadas pelas mulheres. “A Rais só mede os formais, de carteira assinada. Mas é evidente que quando a gente olha outros setores os homens ganham mais que as mulheres, principalmente quando ocupam a mesma função. Num restaurante o gerente acaba ganhando mais que a gerente, no campo isto também acontece. Qualquer atividade, em geral, a chefia é masculina. São 40% de ocupação feminina, mas com posições melhores ocupadas, melhor preparadas e compensa ou outros 60% porque os homens ocupam mais áreas onde se paga menos”, avalia Para o economista, apesar de positivos, os dados demonstram a necessidade de mais investimentos em educação, para que as mulheres continuem ocupando novos espaços. “Para mim, o único caminho é o investimento em educação, para que a cada ano haja incremento nessa presença. 40% já é um dado muito bom se levarmos em conta um estado como o nosso, com um extremo conservadorismo da sociedade alagoana. Isso já é um avanço extraordinário. A conquista das alagoanas no mercado se dá apenas pela educação formal, quanto mais educação, maior a renda e maior a probabilidade de disputar um cargo. Isso do ponto de vista da economia”, diz. “Redução de distância de salários é resultado de luta”, diz militante Mestre em Educação e militante do Movimento Feminista Olga Benário, Vanessa Satiro avalia que a redução na disparidade salarial das mulheres em relação aos homens é uma conquista resultante das lutas em prol dos direitos. “A pesquisa apresenta duas características importantes na nossa opinião. Essa redução de distância de salários é resultado da luta e das denúncias que as mulheres têm feito em relação a esse absurdo imposto as mulheres. É preciso seguir nessa mobilização para que possamos por fim nessa disparidade. Por outro lado, mesmo tendo essa redução, as mulheres recebem um salário médio 15% menor que o dos homens”, afirma. No entanto, Satiro diz que ainda é preciso avançar, considerando outras limitações sociais como acesso e respeito aos direitos das mulheres. “A presença de mulheres nos postos de direção ainda é reduzida. A situação de assédio é uma constante no ambiente de trabalho, mesmo no deslocamento ao trabalho, nos ônibus e nas ruas. E, para completar, as medidas adotadas com a reforma trabalhista atinge em cheio as mulheres, permitindo até mesmo a permanência de mulheres grávidas em locais insalubres”, aponta. Vanessa Satiro acrescenta que é preciso observar também o contexto socioeconômico do estado. “Em Alagoas, mesmo estando entre os estados de menor disparidade, a verdade é que os trabalhadores, como um todo, recebem menores salários que os demais estados”, afirma. “É muito importante que num momento como esse, que se aproxima o 8 de Março, que possamos aprofundar essa reflexão. A remuneração salarial das mulheres e suas condições de trabalho são fundamentais para garantir melhores condições de vida para todas as mulheres, pois vivemos numa realidade em que muitas mulheres são chefes de lares”, finaliza Satiro.