Em busca da estabilidade financeira ou sucesso no mercado de trabalho, muitos estudantes se autoexcluem da vida social. Em plena festividade, o mês junino e a Copa do Mundo não são motivos suficientes para eles abdicarem dos estudos. Esses são os chamados concurseiros de plantão, que para alcançarem a aprovação, não medem esforços.

É o caso do funcionário público Cléberson Guilherme. Ele já fez mais de 40 provas de concurso em todo o Brasil. Conquistou quatro nomeações: três na área da educação e recentemente uma vaga no quadro funcional da Polícia Militar do Estado. Para ele, seguir em frente e não dar ouvidos às críticas é um dos fatores mais importantes para passar num concurso. “Posso dizer que minhas aprovações estão atribuídas a minha total dedicação aos estudos. No início eu estudava mais de 5 horas por dia. Depois diminui o ritmo e fui só estudando os resumos e fazendo os exercícios. Nunca fiz cursinho presencial, prefiro vídeo-aulas pra estudar em casa. Uma ótima forma de estudos é ver os comentários da própria banca” explicou Cléberson.

Sobre vida social, o funcionário público informou que foi preciso abrir mão de alguns círculos.

“Deixei muito de sair com familiares, amigos e esposa. Na verdade, eu até saía, mas ficava pensando em tudo que eu poderia estar revisando. Aí comecei a ficar mais em casa pra estudar. Acho que valeu muito a pena. Minha família sempre me apoiou, às vezes reclamava um pouco com o argumento de que eu deveria descansar, mas eu não dava muito ouvidos porque sempre estava muito focado”.

De acordo com a psicóloga clínica, Aparecida Oliveira, tudo deve ter uma limitação. “Devemos entender e respeitar os limites. Somos seres humanos, não máquinas. Têm pessoas que se trancam e vivem em busca desse sonho, mas elas precisam saber que para passar em um concurso, geralmente, é necessário uma preparação média de pelo menos três anos, mas não quer dizer que nesse meio tempo deve-se deixar de viver”, explica a psicóloga que ainda informa: “O ideal é estipular seus horários e dividir sua rotina. O esgotamento mental é muito pior que o esgotamento físico, já que a mente emana para o corpo. Uma mente doente, adoece todo o corpo. Estipular os horários para estudar e fazer outras atividades, de forma individual ou não, a cada quinze dias, pelo menos, para ter um relaxamento e repor energias é o ideal. Ter o apoio da família e amigos também é fundamental para o sucesso na trajetória”.

O apoio dos pais foi um dos principais motivos para a Joyce Lemos, que largou o trabalho. Hoje ela dedica-se exclusivamente aos estudos e sua meta é alcançar uma vaga na Defensoria Pública do Estado. “Saí do emprego, pois trabalhava os dois horários e isso estava afetando diretamente o meu rendimento. Era muito difícil conciliar. Abdiquei de quase completamente tudo da minha vida social. Além de segunda à quinta-feira, feriados e finais de semana são de dedicação exclusiva aos estudos. Me preparo estudando sozinha e dedico 7 horas do meu dia. Minha família me apoia completamente. É em razão deles que tenho a tranquilidade de só estudar”, informou.

A concurseira ainda afirma que o fato dos pais serem funcionários públicos dá um gás a mais na sua motivação. “Eles me apoiam financeira e emocionalmente. Por serem concursados, eles sabem da importância de realmente se dedicar. Então, como tive o apoio deles, decidi dar um tempo ao trabalho”, finaliza.

Camila Alécio, coordenadora de uma sala de estudos em um empresarial no bairro Serraria, há cerca de um ano e meio vem trabalhando com concurseiros que optam por cabines individuais. Conforme a coordenadora, o número de estudantes interessados pelo modelo de estudo só aumenta, e as festividades juninas e jogos da Copa não influenciaram na frequência dos estudantes. “A maioria é bem assídua e focada. Eles não faltam. Já tive concurseiro que chegou às 7h da manhã e saiu daqui 1h da madrugada. Aniversário, Natal e Ano Novo também não são motivos pra eles deixarem de estudar. Geralmente eles se unem e comemoram rapidamente na sala, e em seguida voltam aos estudos”, informou Camila.

Um dos maiores motivos que faz um concurseiro buscar uma sala de estudo, com cabines individuais é o silêncio. Distrações e intervenção familiar também desmotivam o aluno a estudar em casa. Foi por conta de motivos como estes, que Pedro Henrique decidiu alugar uma cabine. Apesar de iniciar a vida de concurseiro a cerca de três meses, para Pedro, a qualidade do estudo deve ser preservada em qualquer etapa. “Sou formado em Engenharia, o que já é difícil abrir edital para minha área. Então entendi que estudando de forma isolada, eu teria mais tranquilidade e qualidade nos estudos. Aqui consigo ler e destrinchar os assuntos com calma. Em casa eu não conseguia ter essa tranquilidade”, respondeu Henrique.

Caroline Maciel é concurseira há cerca de 3 anos, e também prefere a sala individual porque consegue ficar mais centrada. “Já estudei em sala de aula convencional, mas atualmente prefiro estudar individualmente porque me sinto mais focada. Hoje estudo cerca de 10h por dia, paguei por um pacote integrado que permite que eu use a cabine nos três turnos. As festas e a Copa não vão me atrapalhar. Hoje considero os estudos um trabalho. Na minha opinião só passa quem se esforça e pra garantir minha aprovação, sei que preciso abdicar de algumas coisas”, afirma.

Para um melhor aproveitamento, a orientação é que os concurseiros iniciem os estudos bem antes do edital ser lançado, dessa forma, eles conseguirão se inteirar dos assuntos e revisá-los com mais tranquilidade. É o que defende Mônica Camerino, coordenadora de um cursinho no bairro Jaraguá, em Maceió.

“Quando o concurseiro tem mais tempo, ele fica mais preparado para fazer a prova. Aconselho os candidatos a começarem os estudos bem antes do edital ser publicado. Não temos feriado, principalmente quando já tem edital publicado. Sempre iniciamos as turmas com antecedência. Temos aulas de segunda à sábado e provavelmente teremos de domingo a domingo”, informa Mônica.

Já sobre a frequência dos estudantes em pleno período de festividades, a coordenadora explica que um bom concurseiro não perde o foco com facilidade e que na unidade de ensino, a maioria dos estudantes são bem focados.

“O perfil do concurseiro que está levando os estudos a sério, não permite que ele saia do foco por qualquer evento ou feriado. Este mês, por exemplo, já fizemos várias reservas. Vamos começar uma turma na véspera do feriado. Nós pedimos aos candidatos que eles não abram mão da vida social, porém que não percam tempo com atividades desnecessárias”.