Cidades

Contagem regressiva para o São João

Quadrilhas intensificam ensaios para apresentações em festas juninas; Amanhecer no Sertão iniciou trabalhos ainda em setembro

Por Texto: Lucas França com Tribuna Independente 19/05/2018 09h44
Contagem regressiva para o São João
Reprodução - Foto: Assessoria
Faltando poucos dias para o início da temporada junina, quadrilhas intensificam ensaios em Alagoas para as apresentações do período. Quadras de escolas, associações de moradores de bairros, salões de festas e até espaços a céu aberto são palcos para os ensaios dos grupos folclóricos, que iniciaram desde novembro de 2017. A Amanhecer no Sertão, do Bairro do Bentes, fundada no dia 12 de abril de 2002, por exemplo, começou o projeto 2018 ainda em setembro do ano passado. Formada por 40 casais, totalizando 80 dançarinos e cerca de 20 pessoas na produção e banda própria, a ‘agremiação’ vem com o tema: “Encantos do sol: um reino chamado nordeste”. “O projeto 2018 começou a ser planejado ainda em setembro de 2017, tendo reuniões que visavam definições da temática, cronograma de ensaio e eventos. Já os ensaios começaram em novembro. Os dançarinos continuam ensaiando até os dias das apresentações para participar das disputas juninas”, conta Bruno Melo, integrante da assessoria de comunicação da quadrilha. Bruno e o presidente da Amanhecer no Sertão, Diogo Lima, explicam que a temática tem como objetivo realizar uma celebração ao que de melhor existe na região Nordeste, apresentando diversos elementos que evidenciam isso, reforçando aquilo que é tratado como seus encantos. “Paralelo a isso, serão levantadas questões sociais referentes à responsabilidade de cada indivíduo quanto suas escolhas e como elas implicam diretamente no desenvolvimento de uma sociedade como todo. Por fim, o sol e o tempo serão elementos chaves no decorrer do espetáculo, servindo como analogia aos pontos mencionados anteriormente”, ressaltam. Quadra de escola é palco para os ensaios da quadrilha Amanhecer no Sertão, do Benedito Bentes (Foto: Frank Bernardo / Assessoria da Amanhecer no Sertão) Os coordenadores da quadrilha garantem que mesmo mantendo a tradição, o grupo trará elementos surpresas para o público. “Mesmo respeitando as tradições sempre buscamos trazer novos elementos que prendam a atenção daqueles que vão nos ver. Para esse ano não será diferente, contudo a ideia é manter o elemento surpresa”, comenta. A primeira apresentação da Amanhecer no Sertão já está marcada para o próximo dia 2 de junho. “A primeira apresentação contendo todos os elementos do projeto 2018 (teatro, cenografia, figurino, etc.) será num evento organizado por nós e chamado “Amanhecer convida”. Nesse evento, além da nossa estreia estaremos contando com a participação de outras quadrilhas, sendo elas da capital, interior e uma de outro estado. Antes disso, faremos algumas amostras do que serão apresentados nesse São João, incluindo uma em Recife no próximo dia 26 deste mês”, conta Bruno Melo. PRÊMIOS A Quadrilhar Amanhecer no Sertão já é conhecida nos concursos locais e regionais. “Atualmente somos tetra campeões alagoanos, sendo o último em 2016. Fomos duas vezes campeões do Forró e Folia. Em ambos os casos ganhamos o direito de representar o estado em campeonatos regionais, e em duas oportunidades ficamos em segundo lugar no Nordeste. Ano passado fomos representar o estado no campeonato nacional de quadrilhas juninas em Palmas (TO), ficando em sexto lugar”, comemora. Grupo não economiza no investimento Outra que começou os ensaios com bastante antecedência foi a Quadrilha Dona Dadá. “A preparação vem desde o ano passado. Em julho começamos com a escolha do tema para 2018 e em setembro iniciamos os ensaios’’, conta Washington Nascimento, um dos diretores do grupo. A quadrilha conta com 80 dançarinos, 10 pessoas no teatro, 10 na produção e 15 pessoas na direção e departamentos. “Nossa quadrilha é do bairro de Ponta da Terra, mas temos componentes de diversos bairros de Maceió e do interior de Alagoas como Satuba, Rio Largo e Maribondo. O nosso tema este ano será o inesquecível Chacrinha. Iremos fazer o público relembrar do homem que revolucionou a TV brasileira, onde surgiram vários talentos em seu programa”, conta Nascimento. De acordo com Washington, a primeira apresentação do grupo será no dia 9 de junho. ‘’Nossas apresentações são na capital e no interior do Estado e em concursos intermunicipais, circuito alagoano e forró e Folia”, disse. GASTOS Segundo Washington, a ‘agremiação’ vai gastar em média este ano, em torno de cem mil reais entre figurinos, banda, produção, transporte e iluminação cênica. “Os figurinos são pagos pelos próprios componentes. A quadrilha tem o custo de transporte, banda e produção. Contamos com patrocínio do vereador Kelmann Vieira e de pequenos empresários do bairro, amigos e realizamos eventos para conseguir montar esse espetáculo junino. Não nos acomodamos esperando pela ajuda do município ou do estado que é pequeno em relação a outros estados mais significativos para o nosso trabalho”, conta. Preparação da quadrilha Dona Dadá começou em julho do ano passado; primeira apresentação será no dia 9 de junho (Foto: Cortesia) A dançarina ou ‘quadrilheira’ como é chamado quem participa dos grupos, Luana Santana, da Quadrilha Dona Dadá, já está no meio junino há 11 anos. “Eu entrei em 2008 na quadrilha junina estilizada. Estou envolvida nesse meio. Sempre gostei das quadrilhas juninas desde a época de escola. E desde pequena tive vontade de participar de uma estilizada. Comecei na Quadrilha Show Aconchego, do bairro do Poço, que infelizmente não existe mais. Ai o grupo se separou e montamos a Dona Dadá. Inclusive também sou uma das co-fundadoras”, conta Luana. A dançarina disse que não consegue sair mais. “A dança é uma coisa que me move. Como amo a cultura nordestina e principalmente a quadrilha junina estilizada que vem para a palhoça com uma história com um enredo, isso me encanta. Apesar de sermos uma quadrilha junina estilizada seguimos regras para não perder a essência do tradicionalismo, das quadrilhas matutas. Eu, além de ser quadrilheira nata, tenho amor pela minha quadrilha. Existem os dançarinos que acabam mudando de quadrilhas, mas no meu caso eu tenho um envolvimento muito grande e no momento não me vejo em outra”, explica. Luana disse que a quadrilha não para. “Muita gente acredita que é só o mês de junho. Mas a gente não para. Temos um descanso de dois a três meses e logo em seguida voltamos para planejar, ensaiar, enfim... Vivemos isso”, ressalta. A quadrilheira ressalta que é muito importante manter viva a tradição e salienta que a estilizada trás um enriquecimento para a cultura e para a região. “Muita gente crítica a junina estilizada porque está fugindo da tradição. Mas não é bem assim. São coisas diferentes. A cada ano se inova, como uma escola de samba. O importante é não perder a essência que é ser quadrilha. O que falta é patrocínio e apoio do governo que não temos. Mas isso vem melhorando”, ressalta. Luana Santana diz que grupo trabalha o ano inteiro; descanso só 2 ou 3 meses (Foto: Rômulo Guedes / Cortesia) A quadrilheira explica ainda que além de lazer, os quadrilheiros têm um compromisso e responsabilidade. ‘’Temos um retorno emocional. A gente está ensaiando o máximo para que as apresentações, para que o nosso trabalho saia bonito. Não faltamos os ensaios. Muitos amigos e familiares ficam chateados porque temos um envolvimento com a quadrilha e as vezes fica complicado conciliar os encontros com eles e ensaios que geralmente são nos fins de semana, porque a maioria trabalha e estuda.” Entidade conta com 43 equipes filiadas No estado, são 43 quadrilhas estilizadas com registro na Liga das Quadrilhas Juninas de Alagoas (Liqal) segundo um dos diretores da liga, Washington Nascimento. De acordo com ele, a preparação para o São João de 2018 vem desde o término do São João 2017. “Assim que termina um. Começamos o projeto do ano seguinte. Esse ano a Liqal completa 15 anos de existência e traçou para seus associados um planejamento diferente onde todos possam participar e levar a cultura popular. Ou seja, a quadrilha junina para o público” comenta. Washington disse que para participar dos concursos realizados ou com apoio da Liqal, as quadrilhas só devem ser filiadas a liga. “As quadrilhas só podem participar destes concursos promovidos pela Liqal se forem filiadas. Temos dois concursos realizados; o Forró e Folia em parceria com as Organizações Arnon de Melo (OAM) e prefeitura municipal de Maceió e o outro é o Circuito Alagoano de Quadrilhas que tem três etapas do grupo especial e três etapas do grupo de acesso onde temos as seguintes parcerias, Sesc, prefeitura municipal de Rio Largo, OAM, Parque shopping, e Secretaria de Cultura do Estado de Alagoas (Secult). Os diretores da Liqal informam que o início das apresentações oficialmente acontece no dia 8 de junho com o grupo de acesso. E que para participarem dos concursos as quadrilhas que não forem filiadas têm até o dia 30 de maio para a filiação, para poder participar das etapas. De acordo com Nascimento, neste sábado (19), a Liqal estará realizando a Assembleia Nacional de Entidades Juninas (Anej), na Barra Nova. “Teremos 21 Estados discutindo o regulamento do Concurso Nacional de Quadrilhas que acontecerá em Roraima”, conta. PROFESSOR O professor de história Milton Pedro de Oliveira Filho explica que a origem da Quadrilha Junina se deu na França, especificamente em Paris no século XVIII, como uma dança de salão composta por quatro casais e era dançado pela elite europeia, chegou ao Brasil durante o período regencial por volta de 1830. “Essas tradições culturais merecem e têm que ser preservadas para as gerações futuras. Cada região do Brasil tem sua peculiaridade e expressa às diferenças nas tradições juninas. No Nordeste e Norte há um animado forró programado a acontecer nas ruas ou espaços previamente para este fim. Nesses espaços de eventos entram as quadrilhas juninas. Na atualidade, existem duas categorias de Quadrilhas Juninas: as tradicionais matutas e as estilizadas, ambas com sua importância e brilho nos festejos juninos. No caso da junina matuta, é mais voltada para o tradicional matuto do homem da roça com suas típicas roupas de chita ou xadrez, chapéu de palha e as damas com seus vestidos rodados e tranças. Já as juninas estilizadas são voltadas para os grandes centros urbanos, com muita arte teatral e bastante brilho. Algumas mantêm os passos matutos em suas coreografias, porém acrescentando passos de outros segmentos de danças”, explica o professor. Para o professor Milton que também é quadrilheiro e co-fundador da Junina Só Capim Canela de Paulo Jacinto, interior do estado, seja matuta ou estilizada  a tradição das quadrilhas deve permanecer. “Independente da categoria que a quadrilha junina se encaixa, ambas são importantes para a cultura e o universo junino”, ressalta.