Cidades

Propostas aulas à distância para o Ensino Médio e EJA

Para educadores, resolução em análise pelo CNE trará impactos negativos caso aprovada

Por Texto: Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 23/03/2018 15h36
Propostas aulas à distância para o Ensino Médio e EJA
Reprodução - Foto: Assessoria
O Conselho Nacional de Educação (CNE) discute proposta que prevê incluir atividades à distância em até 40% da carga horária do Ensino Médio e até 100% na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Para educadores, a mudança pode causar grave impacto no ensino. Membro do Conselho Estadual de Educação (CEE), a professora Edna Lopes afirma que caso aprovada a medida servirá para precarizar o ensino médio no país. “Isso vai precarizar o que já está ruim. O Conselho vai formatar a proposta e até o final do semestre isso vai estar pronto para homologação. Acontece que isso é se desresponsabilizar pela educação pública, porque imagine que se um jovem só vai três dias na escola o resto é a distância, o que vai acontece com esses meninos que estão em plena formação, às portas da universidade: Imagine se eles vão conseguir chegar em alguma com a formação precária desse jeito?”, critica. Outro ponto avaliado é a possibilidade de qualquer atividade extracurricular ser inserida como conteúdo pedagógico. Na proposta, as atividades à distância deverão ser ofertadas em cinco segmentos: linguagens, ciências humanas, ciências da natureza, matemática e formação técnica profissional e serão opcionais aos estudantes. “De qualquer maneira eles querem resolver o problema. Se está faltando professor então resolve com a distância. Tem toda uma limitação. Provavelmente vai sair na resolução que o conteúdo da base comum, os 60% que são obrigatórios vão ser produzidos normalmente, mas os 40% vão ser em atividades de qualquer tipo. É um absurdo. Pode ser em trabalho voluntário, inserção social e tudo isso é contado como aula à distância, mas com conteúdo zero. Porque se um menino vai fazer um trabalho comunitário e contar as horas, vai ter zero de conteúdo. Pode ser qualquer coisa nesses 40%. Isso é simplesmente se desresponsabilizar por algo que é dever constitucional”, aponta. Segundo Edna, a ideia do projeto é resolver problemas como falta de estrutura ou de docentes, criando uma forma de ensino com limitações. Caberá à rede pública a programação, organização e oferta destes conteúdos. “Eu tenho minha dúvidas, porque o Conselho hoje é braço de assessoramento do MEC, quem faz a proposta, é ligado aos empresários. E o empresariado quer mesmo produzir mão de obra barata. O relator da proposta é ligado ao Senai. Agora isso é só para escolas públicas, porque escola particular não vai se submeter a isso jamais. Um aluno de um município com uma escola apenas vai conseguir ter as cinco opções de oferta? Claro que não. A ideia é aumentar essa disparidade, então alunos de escolas públicas vão ter ainda mais diferença em relação ao de escola privada. Vão ficar cada vez mais distantes da universidade”, pontua. “Não vemos isso como forma de melhorar o ensino”, diz professor A proposta segue em análise pelo Conselho Nacional de Educação e caso seja aprovada precisará passar por homologação do Ministério da Educação (MEC). O ministro, Mendonça Filho, negou o interesse do MEC em aprovar a proposta. Para o professor e secretário do Sindicato dos Trabalhadores de Educação de Alagoas (Sinteal), Edilson Dantas, inserir a modalidade EAD não trará benefícios para os estudantes. “A gente entende que nesse caso a educação à distância no Ensino Médio não vem como modalidade que favoreça o ensino. Um país continental como o Brasil não tem a preparação devida nem a tecnologia necessária para utilizar a modalidade, ainda mais nesse percentual, de forma que agregue valor e melhore a qualidade da educação. Não vemos isso como uma forma de melhorar o ensino médio e sim como mais uma medida que o Governo quer impor”, destaca. Ainda de acordo com Dantas, ainda não é possível prever como a modalidade poderia ser aplicada. “A EAD no ensino Médio tem o objetivo de atestar que a carga horária vai ser cumprida. O Governo mudou a carga horária de 800h para 1.400h e também aprovou o ajuste fiscal, e isso inviabiliza o próprio investimento. O Governo sabe que não tem condições de garantir o ensino médio da forma como foi colocado, e o ensino médio não vem para atender, inovar como modalidade, mas como um artifício para garantir que na documentação o aluno de ensino médio tenha as horas. Mas a forma como isso vai ser aplicado? A gente não sabe” acrescenta Edilson. Para o professor, o congelamento dos investimentos é outro ponto contrário a aplicação do ensino a distância. Ele afirma que “o Governo não tem condições de manter” o ensino neste formato. “A gente sabe que isso não vai funcionar. Não é uma questão só de recursos tecnológicos ou manutenção, mas a gente sabe que isso tem sido colocado de maneira irresponsável, porque o Governo cria esse artifício, mas não tem condições de manter. É uma medida economicista e mais uma forma de manter a jornada sem considerar outros aspectos. Nem temos a infraestrutura e não temos recursos. É uma forma maquiada de manter a jornada, inclusive a educação à distância acaba perdendo suas características de autonomia do aluno, por exemplo”, finaliza.