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Parque Ceci Cunha vira abrigo para pedintes e moradores de rua

Num dos cartões-postais de Arapiraca, eles são vistos diariamente utilizando espaço como casa e local de trabalho

Por Davi Salsa com Tribuna Independente 10/02/2018 09h27
Parque Ceci Cunha vira abrigo para pedintes e moradores de rua
Reprodução - Foto: Assessoria

O Parque Ceci Cunha se tornou um abrigo para pedintes e moradores de rua, que dividem o mesmo espaço com flanelinhas e outros trabalhadores informais na área central de Arapiraca.

Impulsionadas pela falta de emprego, dificuldades financeiras e pelo vício do álcool e outras drogas, essas pessoas são vistas diariamente deitadas sobre pedaços de papelão e panos velhos, numa espécie de dormitório improvisado em um dos principais cartões-postais da cidade.

Quem passa pelo local pode observar algumas mulheres estendendo roupas em um varal construído em um trecho do parque.

Os pedintes e moradores de rua também disputam espaço fazendo os chamados “bicos” e pedindo escolas nas portas de bancos, restaurantes e lojas no centro comercial de Arapiraca.

Há quatro meses nessa condição, José Carlos da Silva, de 40 anos, conta que passou a viver nas ruas depois que perdeu o emprego e ficou dependente do consumo de bebidas alcoólicas. “Já perdi vários empregos e a única saída pra mim foi morar na rua”, relata.

Coordenação estima 60 pessoas em situação de rua na cidade

Na cidade de Arapiraca tem 60 moradores de rua, segundo estimativas da coordenação do Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua, o Centro Pop, que é vinculado à Secretaria de Assistência Social e Políticas para a Mulher.

De acordo com a assistente social e coordenadora do Centro Pop de Arapiraca, Telma Freire, homens em idade produtiva, na faixa etária entre 18 e 35 anos, representam 85% das pessoas que vivem em situação de rua na segunda maior cidade de Alagoas.

A maior parte é procedente de outras cidades da região e, também, de capitais como Aracaju, Salvador e Maceió.

Telma Freire revela que o Centro Pop de Arapiraca funciona há cerca quatro anos, com adoção de políticas públicas para resgatar os moradores de rua e devolvê-los a suas famílias e ao convívio social digno.

Ela explica que o trabalho de ação do Centro Pop é feito, inicialmente, com abordagem social aos moradores de rua, no período noturno, um momento em que, segundo a assistente social, é mais fácil localizar essas pessoas no pernoite em postos de combustíveis, praças e outros logradouros da cidade.

A coordenadora diz que o Centro Pop atua em parceria com outros órgãos de assistência social, como também Defensoria Pública, Ministério Público Estadual, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Serviço Nacional de Emprego (Sine).

“Considero o nosso trabalho uma grande missão. É um trabalho difícil e complicado, mas gratificante quando a gente consegue resgatar uma pessoa e devolvê-la para o convívio social”, comenta Telma Freire.

Ao chegar ao Centro Pop, o morador de rua é recepcionado por uma equipe que entrega kit de higiene pessoal. Após o primeiro dia, passa a ter direito aos outros serviços, a exemplo do banho, café da manhã, almoço, lanche da tarde, lavagem de roupas, atendimento psicossocial e direcionamento a órgãos responsáveis pela emissão de documentos. Todas as ações são realizadas após o consentimento do usuário da unidade.

Vivendo em situação de rua há mais de um ano, em Arapiraca, o jovem Erick Alves da Silva, de 28 anos, conta que morava em São Paulo e deixou a capital paulista para fugir do vício das drogas e da dependência química.

“Trabalhei em muitas empresas, mas o vício atrapalhou muito e acabei perdendo as oportunidades. Foi então que decidi sair de lá e vir aqui para Arapiraca”, relata Erick.

O jovem morador de rua diz que conheceu o pai biológico, mas devido a problemas no relacionamento foi convidado por um amigo para morar com a companheira em uma vila na periferia da cidade.

“Agradeço muito o apoio que estou recebendo aqui, no Centro Pop. Espero conseguir um emprego, juntar dinheiro e voltar para São Paulo, tentar mais uma vez ser feliz”, relata.

Município conta com duas casas de acolhimento para esse público

Além do Centro Pop, localizado na Rua Professor Domingos Correia, no centro da cidade, Arapiraca também possui o Albergue Noturno Monsenhor José Neto, uma instituição particular mantida com ajuda de empresários locais e voluntários.

A casa de acolhimento de pedintes e moradores de rua, localizada no bairro Cacimbas, iniciou as atividades no ano de 2016.

No espaço são assistidos, diariamente, 50 homens em situação de rua. O albergue oferece banho, jantar, pernoite e café da manhã.

No último censo, realizado pela prefeitura, foram cadastradas 60 pessoas em situação de rua na cidade de Arapiraca.

Ainda de acordo com o levantamento, nos últimos dois anos, o Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua, o Centro Pop, já contabiliza mais de 1.600 atendimentos a homens e mulheres vivendo nos logradouros públicos da cidade.