Cidades

Grupos de matriz africana relembram Quebra de Xangô

Dezenas de pessoas acompanham o cortejo pelas ruas do Centro até a Praça dos Martírios, onde houve apresentações

Por Lucas França com Tribuna Independente 02/02/2018 08h16
Grupos de matriz africana relembram Quebra de Xangô
Reprodução - Foto: Assessoria
O Cortejo Xangô Rezado Alto foi às ruas do Centro de Maceió na tarde de ontem (1º) para rememorar o episódio de 1912, batizado de Quebra de Xangô, quando casas de culto afro religiosas de Alagoas foram invadidas e destruídas. Dezenas de pessoas, além de 11 grupos  de cultura afro-brasileira, se concentraram na Praça Dom Pedro II no Centro da Capital. Os grupos de matrizes africanas, religiosos do candomblé e umbanda, e grupos culturais rezaram e dançaram enquanto esperavam o cortejo que seguiu pela Rua do Comércio até a Praça dos Martírios. A Fundação Municipal de Ação Cultural (Fmac) divide a produção do evento com a Articulação da Matriz Africana de Alagoas, grupo composto por religiosos, artistas e produtores culturais. O coordenador de Políticas Culturais da Fundação Municipal de Ação Cultural (Fmac), Amaurício de Jesus, contou que neste ano a sétima edição do evento teve apresentações culturais durante todo o dia. “Além do cortejo cultural que partiu da Praça Dom Pedro II em direção à Praça dos Martírios, outra parte dos grupos culturais fizeram apresentações simultâneas sobre tablados montados ao longo do percurso”, disse o coordenador. Ainda de acordo com o Amaurício, a celebração do Xangô Rezado Alto coloca em discussão a intolerância religiosa. “A perseguição de 1912 foi um silenciamento do saber ancestral que essas casas de culto afro-brasileiras guardam e a celebração do Xangô Rezado Alto nos permite dar visibilidade às reivindicações dessas comunidades”, destacou. Após o percurso, houve apresentações de maracatus, afoxés, dança, teatro e outras manifestações da cultura popular em um palco montado na Praça dos Martírios. QUEBRA DE XANGÔ O episódio popularmente conhecido como Quebra de Xangô aconteceu no dia 1º de fevereiro de 1912 em casas de culto afro-brasileiras de Maceió e de outras cidades do interior de Alagoas. Paramentos e objetos de culto sagrados foram retirados dos templos religiosos, expostos e queimados em praça pública, intimidando as manifestações culturais de matriz africana.   “Evento chama atenção para a intolerância religiosa”   Para Pai Célio de Iemanjá, a celebração chama atenção para a intolerância religiosa. Além do Quebra, ele relembra outros episódios. [caption id="attachment_59371" align="alignright" width="200"] Pai Célio diz que Xangô Rezado Alto também relembra outros episódios (Foto: Sandro Lima)[/caption] “Não é apenas uma quebra. Tiveram várias outros. A como à extinção de Quilombo dos Palmares. A segunda foi à separação de Alagoas e Pernambuco, e a terceira foi quando Getúlio Vargas impediu os cultos de matriz africana em todo território do país. Isso nos tirou visibilidade. O Quebra vem de uma conjuntura política. Queriam linear coisas ligadas ao governo daquela época. Hoje estamos celebrando para não acontecer fato semelhante”, explica Pai Célio, um dos principais líderes da religião afro em Alagoas. Mãe Mirian reforça que o evento é uma manifestação de luta. “É mais um ano da luta dos movimentos em prol de relembrar o que passou. Houve e ainda há preconceito, mas seguimos com espírito de luta”, disse. Participaram do evento os grupos Afoxé Oba Agodô, Afoxé Oju Omin Omorewá, Afoxé Ofá Omin, Afoxé Odo Yá, Maracatu Raízes da Tradição, Afoxé Povo de Exu e os Afro Dendê, Maracatodos, Afojubá, Baianas do Ganga Zumba, Taieiras Alagoanas, Afro Zumbi, Afro Erê e Afro Afoxé.