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Desflorestamento de Mata Atlântica cresce 36% em Alagoas, aponta Inpe

Pior município é Branquinha, com a eliminação de 11 hectares (ha) de florestas nativas

Por Lucas França com Tribuna Independente 15/12/2017 08h05
Desflorestamento de Mata Atlântica cresce 36% em Alagoas, aponta Inpe
Reprodução - Foto: Assessoria
Segundo o Atlas dos Municípios da Mata Atlântica, lançado esta semana pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que traz um panorama da situação da cobertura vegetal do bioma nos estados do Nordeste entre os anos de 2015 e 2016, o desmatamento em Alagoas aumentou 36% em relação ao período anterior. O desmatamento no Estado concentra-se em Branquinha, único município a figurar no ranking, com a eliminação de 11 hectares (ha) de florestas nativas. Em relação ao estudo de 2014 e 2015, Alagoas apresentou desmatamento próximo de zero, apenas quatro hectares. Para engenheiro agrônomo Ricardo Ramalho, quase não existe mais reservas da floresta no Estado. “O que resta deve girar em torno de 8% da cobertura original. Mesmo assim, em pequenos fragmentos dispersos. Sequer há formação de corredores ecológicos. O aumento percentual, estatisticamente observando,  não significa muito em função da pouca representatividade. Mas, retirar 11 ha, como aconteceu em Branquinha, é um descalabro ambiental sem precedentes. Apesar de severas, as multas por esses crimes ambientais apresentam baixíssimos índices de pagamento. Cerca de apenas 5%, são cumpridas”, destaca. Outro especialista, o  também engenheiro agrônomo Rodrigo Azevedo Peixoto explica que a supressão de vegetação pode ser realizada desde que seja consentida por órgãos ambientais. No entanto, ele destaca que no bioma Mata Atlântica, de um modo geral, deve ser destinado no mínimo 20% da área para reserva legal. “Isso sem contar com Áreas de Preservação Permanente [APP].” Peixoto aponta que o desmatamento decorre de uma série de pressões humanas, desde especulação imobiliária, agricultura, pecuária ou exploração de madeira e fala das dificuldades enfrentadas pelos órgãos ambientais. “Os órgãos de fiscalização e controle ambiental atuam de modo a inibir e coibir ações predatórias deste tipo. No entanto, estas instituições muitas vezes não possuem pessoal suficiente nem a estrutura adequada para frear o desmatamento”, explica o  engenheiro. O estudo aponta ainda que Bahia e Piauí são os destaques da região Nordeste em desmatamento com, respectivamente, 37 cidades no ranking dos municípios com maior supressão de mata nativa no período avaliado. O Ceará apresentou índices de desmatamento em 17 de seus 184 municípios. A capital da Paraíba, João Pessoa, também está entre os municípios listados. Em Pernambuco, o destaque negativo ficou para a cidade Riacho das Almas, com a supressão de oito hectares de cobertura florestal.   Órgãos ambientais afirmam que ações são constantes   O gerente de fauna, flora e unidades de conservação do Instituto do Meio Ambiente (IMA), Epitácio Correia, informou que o órgão se preocupa com esses números e vem intensificando as ações de fiscalização. Segundo ele, um grande número dessas ações são desenvolvidas em operações integradas com outros órgãos ambientais como Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Além disso, Correia informou que há um rigor maior na emissão das autorizações de supressão de vegetação, principalmente no bioma Mata Atlântica que tem uma legislação específica. “É extremamente necessário que a população tenha consciência a respeito da importância do bioma para a qualidade de vida”, destaca. Com relação ao desmatamento significativo apontado pelo estudo, Correia informou que o IMA está desenvolvendo diversas ações em uma linha paralela a esses números. “Temos dado continuidade na intensificação de ações de fiscalização e monitoramento, com objetivos específicos da constatação de crimes contra a flora. Também criamos unidades de conservação [UCs] no bioma da Mata Atlântica. Só neste ano de 2017 foram reconhecidas pelo IMA cerca de 15 UCs e isso quase dobrou a quantidade de hectares em áreas protegidas”, comentou o gerente. Na capital, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável (Semds)  explica que o trabalho de preservação é amplo e vai além das áreas delimitadas, como é o caso do Parque Municipal. A secretaria diz que atua por meio de ações de educação ambiental, conscientizando a população sobre a necessidade da preservação do meio ambiente, sobretudo nas áreas verdes que estão na zona urbana entre residências, e desenvolve um trabalho operacional para ampliar a arborização da cidade. Somente este ano, foram plantadas 20 mil novas árvores em praças, canteiros e áreas de lazer, segundo o órgão. “A Semds lançou em 2017 o projeto itinerante Planta Maceió, que doou mais de seis mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica, incentivando a população ao plantio adequado. E a Defesa Civil, que integra a Semds, também faz o acompanhamento das áreas de preservação”, diz a secretaria. A Semds informou ainda que a prefeitura tem estudado a criação de novos parques municipais. “Medida que deve ampliar o número de áreas preservadas sob a responsabilidade do Município”,  informou.