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Alagoanos estão casando menos e se divorciando mais, aponta IBGE

Entre 2015 e 2016, houve queda de 12% no número de casamentos e aumento de 14% na quantidade de divórcios

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 17/11/2017 08h09
Alagoanos estão casando menos e se divorciando mais, aponta IBGE
Reprodução - Foto: Assessoria
Os casamentos oficiais, incluindo as uniões estáveis, apresentaram queda de 12% em Alagoas de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2016, foram 15.789, enquanto que no ano anterior haviam sido registrados 18.049. Em contrapartida, os divórcios aumentaram: De 3.701 em 2015, saltaram para 4.255 em 2016, são 14% a mais. Juntos há quinze anos, Carlytania de Souza e Emmerson de Oliveira, ambos de 34 anos só oficializaram a união em 2015. Ela conta que por muito tempo o casamento ‘no papel’ não era prioridade, apesar do desejo. Depois de duas filhas, Yasmin de 12 anos e Maria Luiza de 8 anos, e muita história juntos, eles tomaram a decisão. Algo que já era pedido pela família e questionado por amigos e conhecidos. “Foi em 2015 que decidimos oficializar nosso amor. A família toda reclamava, falava porque não éramos casados”, conta. Especialistas ouvidos pela reportagem da Tribuna Independente afirmam que há uma mudança no perfil dos casais, o que influencia tanto no modelo do casamento, quanto no divórcio. Para o psicólogo Edberto Lessa, os casais têm optado por adiar as núpcias em modelos de relacionamentos menos formais, quando dividem o mesmo teto, por exemplo, sem oficializar a união. Outro fator, destacado pelo psicólogo é a fragilidade emocional nos relacionamentos, nos quais os casais têm medo de enfrentar frustrações e decepções amorosas. “Existe um receio de se envolver, de não dar certo, aí optam por não casar, ou apenas morar juntos. Tem sido comum também namorar por longos períodos, até parece um casamento, mas não é. Isso compromete o casamento oficializado, tradicional, onde se pensava no casamento para sempre. E essa ideia do ‘para sempre’ dá medo, as pessoas pensam: E se não der certo? O medo do compromisso ou da frustração influencia”, diz Lessa. Já a também psicóloga Cida Oliveira diz que ao longo dos anos o casamento tem deixado de ser prioridade na vida das pessoas. “São muitos fatores que contribuem para a diminuição nos casamentos. Da década de 1980 para cá, houve mudanças no perfil da mulher. A aquisição de direitos, como o anticoncepcional, por exemplo, fizeram com que a mulher tivesse maior liberdade. As mulheres foram inseridas no mercado de trabalho, ganhando mais espaço e se tornando mais profissional ao invés de mais domésticas. Tudo isso contribuiu. Hoje, as pessoas estão em busca de estabilidade profissional e financeira e o casamento acaba ficando em segundo plano”, destaca a psicóloga. A psicólogoa Izabella Alencar, especialista em psicologia jurídica, acredita que os relacionamentos, em geral, estão passando por uma mudança sociocultural. “Hoje em dia os casais procuram mais a união consensual, sem registros na igreja e no cartório. E quanto aos divórcios, hoje é uma facilidade entrar com pedido do mesmo”, diz. Izabella Alencar avalia que os relacionamentos estão se tornando cada vez mais descartáveis. “As pessoas estão ‘deixando’ de lado o amor romântico, aquele que sofre e luta para continuar junto, e estão procurando mais perfeições no casamento. Quando essas perfeições vão deixando de existir, o ‘amor’ também deixa. A preocupação maior atualmente está ligada a sexualidade e busca pelo prazer social.” Mudanças na lei facilitam processo de divórcio, avalia advogada A advogada especialista em Direito de Família, Luanda Renê Lima explica que há cerca de 10 anos, o divórcio foi facilitado legalmente, o que contribui para o crescente número. [caption id="attachment_12175" align="alignleft" width="290"] Para Cida Oliveira, casais não têm mais medo do divórcio: “Eles já entram pensando que, se não der certo, separam” (Foto: Acervo pessoal)[/caption] “Os números surpreendem. Especialmente em razão da facilidade jurídica para encerrar as núpcias contraídas. A lei 11.441/2007, lei do divórcio extrajudicial, veio pra facilitar e tornar menos traumático o momento que pode ser um dos mais delicados na vida dos casais. Os ex-nubentes não precisam nem encontrar-se face a face no momento do divórcio, quando ele for realizado no cartório”, ressalta. Para ela, a mudança no perfil da sociedade e na maneira como as pessoas se relacionam também é um fator importante no aumento de 14% de divórcios no estado. “Nos tempos de outrora, muitos casais permaneciam unidos até o momento do último suspiro. Não raras exceções, tal união não se dava pelo amor nutrido pelo casal e sim pelo grande preconceito que a palavra “desquite” trazia consigo. Hoje, o estigma não é mais um problema. Não que ele não exista. Ele existe e ainda deve ser combatido. Ocorre que as dificuldades que em tempos passados dificultavam a separação de casais que não tinham mais condições emocionais, físicas e sentimentais de estarem juntos, hoje não é mais uma realidade”, reforça. Para Cida Oliveira, além da mudança na sociedade, existe uma nova forma de conduzir os relacionamentos entre casais. “Tanto as mulheres como os homens não têm mais o medo de se divorciar. Eles já entram num casamento hoje pensando que se não der certo, vão se separar, que existem outras opções, que podem seguir a vida de uma forma diferente”, avalia.