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Prefeitura de SP deixa de vacinar quem mora em áreas de risco de febre amarela

Moradores ficam revoltados com falta de vacina em unidades perto dos parques Horto Florestal e Cantareira; Prefeitura diz que prioriza áreas de SP que não receberam vacina, mas estuda plano de imunização para quem ainda não se vacinou na Zona Norte

Por G1 01/02/2018 08h37
Prefeitura de SP deixa de vacinar quem mora em áreas de risco de febre amarela
Reprodução - Foto: Assessoria

As Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da Zona Norte de São Paulo, considerada a primeira área de risco de contaminação por febre amarela na capital paulista, deixaram de vacinar contra a doença a população que reside na região.

As doses não estão sendo distribuídas nem mesmo nas UBSs ao redor dos parques Horto Florestal e da Cantareira, onde foram encontrados os primeiros macacos bugios mortos após contraírem a doença.

As filas ao redor dos postos, que chegavam a dobrar o quarteirão, deram lugar a uma aparente tranquilidade, já que as unidades de saúde estão praticamente vazias.

O G1 visitou seis postos da região na manhã desta quarta-feira (31) e encontrou muita gente sem saber o que fazer para se prevenir contra a doença. A reportagem foi informada por funcionários em todas as inidades de que a vacinação foi interrompida por causa da falta do envio de doses.

Nas UBSs do Horto Florestal e Edu Chaves havia cartazes fixados nas paredes informando que a vacina não estava mais sendo aplicada no local.

Secretaria prioriza outras áreas

A Secretaria Municipal da Saúde diz que está priorizando outras áreas da cidade que ainda não receberam a vacina e que estuda um plano para imunizar quem ainda não se vacinou na Zona Norte.

Segundo a pasta, na Zona Norte, os moradores podem procurar a vacina no Ambulatório de Especialidades Tucuruvi e na UBS Vila Palmeiras, na Freguesia do Ó. Esses locais estão aplicando a vacina para pessoas que vão viajar a áreas de risco dentro do Brasil e também podem imunizar os demais moradores da região.

Nesta segunda etapa de vacinação na cidade, que teve início no dia 25 de janeiro, somente 20 distritos das Zonas Sul e Leste estão aplicando a dose fracionada da vacina. A dose fracionada equivale a um quinto de uma dose (0,5 ml) para febre amarela, ou seja, 0,1ml.

A diferença entre as duas vacinas está no tempo de proteção: a dose padrão é para toda a vida, já com a dose fracionada, a duração é de pelo menos 8 anos. O governo optou por este fracionamento para que seja possível ampliar a cobertura com as vacinas disponíveis.

"Eu moro em uma área de risco e não consegui me vacinar antes, agora corro o risco de pegar a doença", reclama a dona de casa Dulcinéia Manoel.

"Eu esperava que fosse encontrar pelo menos a vacinação com dose fracionada, mas nem isso", completa a dona de casa. "Estive no posto por vários dias no início de janeiro, mas ficava na fila e era informada de que a vacina tinha acabado naquele dia", afirma Dulcinéia.

Segundo ela, a vacina na UBS do Parque Edu Chaves acabou uma semana antes do início da vacinação fracionada.

O atendente Andson Higo Pereira, de 23 anos, trabalha em uma loja na Avenida Peri Ronchetti, no Jardim Peri, a poucos metros do Parque Horto Florestal, e não conseguiu se vacinar. "Não tive tempo pra ir me vacinar, e o posto não está mais vacinando porque acabou a vacina". O morador do Jaraguá, também na Zona Norte, diz que na UBS perto da sua casa não está imunizando mais.

O açougueiro Ailton da Costa, de 58 anos, disse que tem medo de contrair a doença por trabalhar perto das áreas de mata no Horto Florestal.

"Não tive tempo de sair do serviço para tomar essa vacina. As filas estavam muito grandes e não podia ficar tanto tempo fora do trabalho. Vou ficar sem tomar agora e correndo risco de vida", lamentou ele. "O certo era eles terem dado uma senha para nós tomarmos a vacina sem pegar aquela fila".

Segunda etapa de vacinação

Nesta segunda etapa de vacinação contra a febre amarela, 17 UBSs estão aplicando a dose fracionada de 29 de janeiro a 24 de fevereiro em pessoas que vão viajar dentro do território nacional.

Na Zona Norte, são apenas duas unidades: Ambulatório de Especialidades Tucuruvi e UBS Vila Palmeiras. De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde, as unidades também aplicam doses em moradores da Zona Norte que ainda não se imunizaram. Apesar disso, está difícil conseguir se vacinar nesses locais.

Na UBS Tucuruvi, ao lado da Avenida Nova Cantareira, quase 300 pessoas esperavam em uma fila que virava o quarteirão no início da manhã desta quarta-feira. Por volta das 9h30, os funcionários informaram que as 400 senhas já tinham acabado, o que gerou muita revolta nas pessoas que aguardaram por mais de 3 horas.

A dona de casa Maria José da Silva, que mora em uma ocupação na Serra da Cantareira, foi levar a filha para tomar vacina, mas não conseguiu. “Eu moro em uma área de risco, na verdade, na ocupação da Sezefredo Fagundes. No posto do Jardim Joamar não tem vacina e mandaram eu vir aqui”. Ela esteve no posto na terça e também não conseguiu pegar senha.

Mesmo indo no posto indicado para viajantes, a esteticista Cristiane Aparecida Tomé, 46 anos, não conseguiu se imunizar. Saiu do bairro da Vila Maria para ir até o Tucuruvi. “A viagem não dá mais tempo, acabou, já perdi. Meu carnaval será em São Paulo mesmo e com muito repelente”, lamenta.

A auxiliar de depósito Ana Carolina, de 29 anos, chegou 6h na UBS Tucuruvi e também ficou sem vacina. Ela vai viajar para Mairiporã no carnaval. “Eu vim ontem aqui na parte da tarde porque os postos da Zona Norte não têm mais a vacina, mas já não tinha mais e a funcionária me mandou vir hoje de madrugada porque a fila virava o quarteirão todos os dias”, contou.

Por volta das 11h, a UBS Vila Palmeiras, na Freguesia do Ó, também já tinha distribuído todas as senhas e não estava mais vacinando por falta de doses.