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EUA participam como observadores de exercício militar na Amazônia

Marcado para o período de 6 a 13 de novembro, em Tabatinga, na tríplice fronteira com a Colômbia e Peru, simulação recebeu críticas

Por Agência Brasil 08/11/2017 08h56
EUA participam como observadores de exercício militar na Amazônia
Reprodução - Foto: Assessoria

O general Guilherme Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, comandante logístico do Exército, disse que os Estados Unidos (EUA) participam de exercício militar multinacional de simulação de ações de ajuda humanitária desde o dia 6, em Tabatinga, no Amazonas, por conta de sua reconhecida competência em situações de emergência.

O militar, comandante-geral do AmazonLog, nome dado ao evento, classificou como “teoria da conspiração” afirmações de que a presença de militares norte-americanos seja uma ameaça à soberania nacional. 

Marcado para o período de 6 a 13 de novembro, em Tabatinga, na tríplice fronteira com a Colômbia e Peru, o exercício de simulação recebeu críticas desde o anúncio da participação dos EUA. O general rebateu declarações do ex-chanceler Celso Amorim, do senador Linbergh Farias (PT-RJ) e do líder do Psol na Câmara, deputado Glauber Braga (RJ).

Em outubro, Braga encaminhou requerimento ao ministro da Defesa, Raul Jungmann, e ao comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, pedindo informações sobre a participação de militares dos Estados Unidos. Segundo o parlamentar, a medida poderia representar a possibilidade de perda de soberania e ou de subordinação do Exército.

Para o militar, as críticas foram mal intencionadas. “Os EUA têm uma expertise muito grande no que se refere à ajuda humanitária. Só de furacões os Estados Unidos tiveram esse ano uns quatro e rapidamente o país se reconstruiu. Além disso, tem uma expertise para passar para a gente em incêndios florestais”. A seguir, ele lembrou incêndios nas Chapadas dos Guimarães e  Diamantina. “Roraima vive queimando e nós nunca aprendemos que temos que combater a incêndios florestais. Por que não passar esse conhecimento para a gente?”, questionou.

O general lembrou que anualmente são realizados exercícios com tropas estrangeiras na Amazônia, entre elas as dos Estados Unidos. “Comandei [as tropas do Exército] na Amazônia por quatro anos e todo ano a gente tem exercícios conjuntos com destacamentos de operações de forças especiais da Amazônia. Quantos pesquisadores americanos vêm para cá trabalhar conosco no Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia [Inpa]? Os EUA trabalham com a gente, a Alemanha trabalha com a gente”, disse. “É totalmente sem cabimento quem levanta [a tese] de que os Estados Unidos vêm para cá com alguma outra intenção de que não seja a de cooperar na ajuda humanitária”, acrescentou.

Troca de informações

O representante do Exército dos EUA, coronel Truax, reafirmou a missão dos militares de seu país. Eles participarão do exercício com uma aeronave . Segundo disse, depois da atuação conjunta na ajuda às vítimas do terremoto do Haiti, em 2010, houve a intenção de estreitar a troca de informações visando uma melhor coordenação de esforços em caso de nova ação conjunta.

“A nossa experiência é que o Exército do Brasil facilitou muito a chegada e a disposição de recursos de ajuda humanitária, especialmente nas primeiras horas para resposta internacional. Por isso, quando recebemos o convite para estar aqui no Brasil, não importa o lugar, na Amazônia ou em Porto Alegre, dissemos que queríamos estar mais preparados para incrementar a nossa interoperabilidade para quando acontecer a necessidade de atuar juntos em ações humanitárias, assim como com os colombianos e peruanos também”, disse Truax.

Durante a entrevista, o general Guilherme Cals reafirmou que o objetivo do evento é criar diretrizes para socorro a vítimas em caso de catástrofes na região da tríplice fronteira amazônica. Serão realizadas simulações, atendimento a vítimas de incêndios florestais, terremotos, secas, enchentes, acidentes com embarcações e também de ações humanitárias para casos de grande contingente de deslocamentos humanos, como no caso de refugiados.

No total, devem participar da simulação cerca de duas mil pessoas, dos quais cerca de quinhentas são estrangeiras. Além de militares do Brasil (1.550), Colômbia (150), Peru (120) e Estados Unidos (30), observadores de mais de 20 países devem acompanhar as ações, entre eles, da Alemanha, Argentina, Chile, Equador, México, França, Reino Unido, Espanha, Rússia e Venezuela. Também participam funcionários de órgãos federais e estaduais como a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), Fundação Nacional do Índio (Funai), Polícia Federal, a Receita Federal, entre outros.

A atividade envolve unidades de transporte, logística, manutenção, suprimento, evacuação e engenharia. No caso de catástrofes, por exemplo, isso implica o planejamento logístico de deslocamento de equipamentos, suprimentos e equipes até o local da ação. Além de preparar a área, é preciso pensar como atender feridos. Também serão feitos atendimentos às comunidades que vivem na região, como indígenas e ribeirinhos do Brasil e de países vizinhos, nas especialidades de clínica geral, ginecologia, pediatria e ultrassonografia. Um cirurgião ficará no Hospital de Guarnição de Tabatinga.

Experiência no Haiti

“O exercício parte da premissa que o apoio humanitário é fundamental e tem que ser dividido entre os países da América do Sul. A ideia surgiu de recentes problemas, principalmente no Haiti, quando permanecemos por 13, 14 anos no país amigo e tivemos ocasiões de terremotos, furacões e a gente viu a dificuldade de apoiar a população nessas calamidades”, disse o militar brasileiro.

Segundo ele, a escolha do local se deve ao fato de que a região é reconhecidamente um lugar de difícil acesso. Tabatinga fica distante 1,1 mil quilômetros de Manaus, onde só é possível chegar de barco ou avião. A cidade, com pouco mais de 60 mil habitantes, está localizada na tríplice fronteira com as cidades de Santa Rosa, no Peru, e Letícia, capital da província de Amazonas, na Colômbia.

“Estamos fazendo aqui [ações] para que todas as dificuldades de chegar na Amazônia sejam levadas em consideração, falta de estrutura de comunicação, falta de recursos, falta de energia, água potável para que possam aparecer soluções”, explicou.

O general afirmou ainda que está sendo criado um centro de controle logístico multinacional no Ministério da Defesa, com o apoio e participação da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Junta Interamericana de Defesa (JID). Criada em 1942 pelos EUA para combater os nazistas, a junta tem atuação em programas de desminagem (operação de remoção de minas) e em pronta-resposta para casos de desastres naturais no continente americano.

De acordo com o militar, a intenção é montar uma estrutura para que cada país possa definir a sua aptidão numa equipe multinacional. “Diante da calamidade, um país leva a parte de água; outro se preocupa com a saúde; outro leva combustível e alimentação. Dessa maneira, fica mais fácil o atendimento à população no caso desses imprevistos de calamidade pública”, afirmou.

“Não só as Forças Armadas, mas as agências civis que também estão presentes. É de grande importância que a Defesa Civil, que vai gerenciar esse atendimento, esteja apoiada pelas Forças Armadas, que têm uma capilaridade muito grande em todos os países”, finalizou.