Defeitinho de nada
Feio que nem um trem virado, Beroaldo Galisteu também conhecido como Porronca, cansou de viver solteiro e procurou a agência de casamento de um tal de Wanderlúbio. Chegou lá, expôs a sua necessidade, apresentou algumas exigências a respeito da mulher pretendida e o cara prometeu ajuda-lo na medida do possível. Ao final do papo, pediu:
– Deixe comigo um retrato seu, que é para mostrar pra candidata.
Porronca entregou a sua mais recente fotografia ao Wanderlúbio, por sinal tirada pelo Adailson Calheiros, e se mandou pra casa cheio de esperança. Aguardou quase um ano. Já nem pensava mais no assunto quando recebeu um telefonema do dono da agência matrimonial que, todo contente, anunciou:
– Demorou, mas chegou o grande momento da sua vida! Pegue uma condução e venha pra cá, voando!
E o Porronca, mal acreditando no que estava ouvindo:
– Você arrumou mesmo a minha futura esposa?
– Mas é claro! Eu não prometi?
– E como é ela?
– É linda! Tem 20 aninhos, é morena, olhos verdes… um tesão de garota!
– Pelamordedeus!
– Olha, o detalhe, meu chapa: é filha única!
– Ôba!
– Se segure aí que tem mais: o pai dela tem 98 anos, já sofreu cinco derrames, três infartos, tem colesterol altíssimo e é diabético no último grau!
– Putaquipariu!
– Provavelmente entra em coma na semana que vem. Tá completamente desenganado!
– Pé na cova, tranquilo. Uma semana?
– Dizem os médicos. Agora, o detalhe mais importante: o velho é milionário!
– Acho que quem vai ter um infarto sou eu! E tem mais alguma surpresa?
– Manja só: o seu futuro sogro tem milhões de dólares em bancos suíços e já passou tudinho pro nome da filha!
Porronca foi à loucura:
– Cadê ela? Quero me casar agora com ela agorinha mesmo! Mande chamar um padre! Puxa vida, Wanderlúbio, demorou mas você me arrumou o maior negócio do mundo!
E o casamenteiro:
– Só tem mais um pequenino detalhe…
– Manda!
– A garota tem uma verruga nas costas…
– Verruga? Isso é bronca safada!
– Você acha?
– Bom… quer dizer… será que essa verruga aparece muito?
– Se aparece muito? Bem… Você já ouviu falar no corcunda de Notre Dame, não ouviu?
Medir, como?
Bastante conhecido pela sua extrema paciência, o João Advíncula é um apreciador da famosa “loura suada”, mas somente nos finais de semana. Aí, ele bebe até cair emborcado. Mas, num sábado específico, ele passou da conta e foi encontrado pelo amigo Garibaldo, o Fuleiragem, puxando o maior fogo, num barzinho praiano.
– Tu hoje botou pra quebrar, hein, Advíncula? – indagou o Fuleiragem.
E ele, engrolando a língua:
– É que tô muito puto, meu!
– Mas puto por que, camarada?
– Peguei minha mulher transando na minha cama, com o vizinho!
– Iiih, meu! Essa foi de lascar! E tu tomou alguma medida?
– Medir, como? Não pude! O fiadaputa tava com o pau enfiado todinho nela!
O cúmulo do esquecimento
Tranquilíssimo, naquele passo de tartaruga, lá ía o Odorico arrastando os pés pelo calçadão da Pajuçara, num domingo ensolarado de mil mulheres gostosas exibindo seus corpos. Ele já tinha caminhado um bocadão, quando foi abordado pelo amigo Reostato:
– Ô cara, tu ainda tá usando aquela cueca do Flamengo que te dei no Natal!
Odorico arregalou o olhão, espantado:
– E tu deu agora pra advinhar, foi?
– Que advinhar que nada, rapaz! Tu esqueceu a calça em casa!
Pintor maluco, pintura complicada
Ex-vereador, o jornalista e arquiteto Ênio Lins era secretário estadual de Cultura quando, um dia, foi procurado por um sujeito com toda pinta de doido, que carregava uma tela embaixo do braço:
– Trouxe uma obra-prima para lhe mostrar, doutor!
Juntando ação à palavra, o indivíduo estendeu a tela sobre o birô do secretário e explicou, de peito empolado:
– Esta é uma obra neo-concreta de grande efeito!
Olha que o Ênio entende do riscado. Mas dessa vez ficou embatucado depois de reparar bem na peça:
– Não estou entendendo nada, meu camarada! – Ênio foi incisivo. – Afinal, o que representa essa pintura?
E o cara:
– Ora, doutor, isto aqui representa um cão comendo um osso!
– Mas cadê o osso?
– O senhor não percebe que o cão já comeu?
– E onde está o cachorro?
– Já ví que o senhor não tem a menor sensibilidade. Então o senhor acha que o cão ia ficar aí, olhando à toa, e dando a maior sopa, depois de ter comido o osso?
Um poste chocante
O amigo leitor que é chegado a uma biritagem, sabe muito bem como é boteco de subúrbio em final de semana: abarrotado de bêbado. Então, pro neguinho utilizar-se do sanitário é um drama. Em assim sendo, o Bar do Camaleão, localizado no Jacintinho, não foge à regra. Lá, a fila de xambregados por uma colher-de-chá no WC é quilométrica. Entre esses se achava o galego Agnósio Hepatino que, já não estava mais reunindo condições de continuar aguardando a vez de utilizar o sanitário. De modo que procurou fazer o seu pipi no pé do poste da esquina.
Com a visão atrapalhada em razão dos incontáveis grogues que havia tomado, Agnósio não reparou que sentado no pé do poste encontrava-se um negão que mais parecia uma montanha. Aí, puxou a “chibata” e mandou ver uma tremenda mijada na cabeça do negão, dessas de fazer mil espumas. A porrada que levou no meio da cara atirou-o longe. Depois de uns cinco minutos desmaiado, ele voltou, cambaleando, ao bar. Seu parceiro de mesa, um tal de Nenem Piaba, reclamou:
– Porra! Tu demoru pra cacete! Agora quem vai lá mijar sou eu!
E o galego:
– Olha, Piaba, tu num mija no poste da esquina, que tá dando um choque filho da puta!
Como procurar o isqueiro?
Depois de uma bruta farra, os parceiros Alcolídio e Eutanólio enfrentavam o caminho de volta ao lar. Isso, alta madrugada. A rua por onde andavam estava escura que nem breu. Em dado momento o Alcolídio meteu a mão no bolso, puxou um cigarro todo torto, catou a caixa de fósforo, acendeu um palito e pediu ao Eutenólio:
– Perêia, segura esse fósforo, por favor…
– E tu num vai acender o cigarro?
– Vou, porra! Mas como é que eu vou procurar a bobônica do isqueiro com o fósforo apagado, me responda!